A construção da Catedral de Santo Antônio (I)

Tão logo chegou a Piracicaba, D.Ernesto de Paula, o primeiro bispo diocesano, considerou a matriz uma igreja acanhada para servir às funções litúrgicas pontificais. Em suas memórias, D.Ernesto descreve alguns dos aspectos da igreja que encontrou: “No que tangia à capela-mor e sobretudo à sacristia, não encontro termos para descrevê-las: um verdadeiro ninho de ratazanas”.

Em Piracicaba, havia o apelo de populares e do próprio clero para uma ampla reforma da igreja ou para a construção de uma nova. Qualquer decisão, porém, seria polêmica. Para garantir-se, D.Ernesto de Paula consultou “um amigo e arquiteto”, dr.Calixto, e outros que faziam retiro espiritual em Itaici – ministrado por um seu amigo, o jesuíta Walter Mariaux – para opinarem sobre a situação da igreja. Os laudos dos engenheiros foram desanimadores: para o arquiteto Calixto, “a picareta” era a única solução; para os demais – alguns deles professores da Escola Politécnica de São Paulo – “somente uma dinamite poderá resolver o problema da Catedral”.

A decisão de construir

No dia 22 de janeiro de 1946, em reunião com o clero diocesano e diante daqueles pareceres, a decisão dos padres foi unânime, em favor da derrubada da velha igreja e construção de outra. D.Ernesto fez publicar um edital em que decretava a demolição, provocando grandes discussões e protestos de piracicabanos católicos mais antigos.

A decisão, porém, estava tomada e, no dia 25 de janeiro do mesmo ano, o bispo celebrou a última missa na velha matriz, transladando, após a missa, a imagem de Santo Antônio, padroeiro da cidade, para a igreja de São Benedito, que passou a servir de Catedral provisória. Às 20h. do mesmo dia, em procissão, levou-se o Santíssimo Sacramento da velha matriz para aquela igreja.

O povo não mostrou alegria. Durante a missa e a procissão, o próprio D.Ernesto observou haver consternação entre os populares, sentindo a necessidade de falar ao povo, animando-o. Sua certeza inspirava-se em duas doações recebidas naquele mesmo dia: pela manhã, um menino, abordando-o na rua, entregara-lhe, em nome de sua família, “dez mil réis para a construção da Catedral”. E, à tarde, uma doação de mais vulto, de dona Filomena Grisolia: “50 mil réis para o início das obras”.

O franguinho e o padroeiro

D.Ernesto deixou registrado que um dos momentos mais emocionantes foi quando, ao início dos trabalhos da nova Catedral, uma mulher de nome Clara, negra, de cerca de 70 anos, o procurou, dizendo-se moradora na vila dos pobres de São Vicente de Paulo e impossibilitada de trabalhar. Mesmo assim queria colaborar entregando-lhe o dinheirinho, explicando: “Há algum tempo, ganhei um pintinho e criei-o no asilo. Ele se tornou um franguinho e, hoje, eu o vendi por 15 mil réis”. Na manhã seguinte à comovedora doação, deu-se início à derrubada da velha matriz de Santo Antônio, padroeiro confirmado em 1944, já que assim fora considerado desde o século 18, por decisão do Capitão Povoador Antônio Corrêa Barbosa.

Foi, porém, no episcopado de D.Eduardo Koaik, em reunião do clero de 19 de março de 1987, que o Monsenhor Jamil Nassif Abib pôs em discussão a célebre questão: o orago seria Santo Antônio ou Nossa Senhora dos Prazeres? O eleito foi Santo Antônio e d.Eduardo Koaik enviou a solicitação ao Papa João Paulo II, através da Congregação para o Culto Divino, em carta de 22 de novembro de 1987. Através do Breve Apostólico “Notum est”, João Paulo II declarou “Santo Antônio de Pádua, sacerdote e Doutor da Igreja, patrono, junto a Deus, da Diocese de Piracicaba (…)” (Continua)

(FOTO – Do acervo pessoal de Cecílio Elias Netto. Obras quase finalizadas da Catedral, vendo-se, ao fundo, o Café Imperial, de propriedade do pai do jornalista e casa onde este nasceu, atualmente Banco Sudameris.)

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