Elias Rocha, o Elias dos Bonecos (2)

Os bonecos que nascem de brincadeira

“Sou brincalhão, escultor, faço boneco, a menina me pediu um boneco para brincar, eu dei e quando ela enjoou, me devolveu. Resolvi colocá-lo no meio do rio, na época as águas estavam baixas e se tinha a impressão de que o boneco era um pescador, de longe, parecia mais perfeito ainda”. (Elias Rocha, 1998)

“Fazia boneco para divertir as crianças da Rua do Porto, elas gostavam. Depois comecei fazer bonecos de brincadeira só para gozar da cara dos colegas”. (Elias Rocha)

“Alguns bonecos duram até quatro anos tomando sol e chuva, tudo depende do tipo de madeira usada para fazer a estrutura, outros são levados pela enchente e desaparecem; há os que apodrecem mais cedo e ficam por lá. O material eu cato no lixo ou em terreno baldio, as roupas são trocadas sempre que estragam, de um modo geral os bonecos começam o ano de roupa nova”. (Elias Rocha, 1999)

Ao analisar o processo de criação do trabalho do artista, Nordahl C Neptune considerou que “Elias não imitava ninguém, era um autodidata, criava seus personagens com os próprios recursos e técnicas com que trabalhava, no processo criativo ele buscava o que via em seus sonhos, experimentava e conhecia o devaneio que meditava sobre a natureza das coisas, descobria as raízes de suas ações e de seus sentimentos.”

Na dissertação o autor descreveu a criação dos bonecos de Elias:

“Na primeira etapa da elaboração dos bonecos, que consiste na busca de matéria prima, o ribeirinho percorre com sua carroça um trecho que vai da Ponte do Morato até a Ponte do Caixão, na estrada do Bongue, paralela ao rio Piracicaba. Nesse percurso de aproximadamente três horas, Elias lota a caçamba de sucata de toda sorte: madeira, galhos, bambu, borracha, baldes de plástico, artefatos de ferro, alumínio, cobre, enfim, tudo que possa ser reaproveitado, e dirige-se ao seu atelier, também depósito de suas bugigangas, localizado em frente à sua residência. A maioria das roupas, calçados e acessórios que compõem o figurino do bonecos, ou são catados ou vem de doações de pessoas que o conhecem e admiram seu trabalho.”

Após selecionada a madeira para montar a estrutura do boneco, Elias escolhia o figurino dentro de um velho baú e tirava a medida da roupa para fazer seus bonecos.

Nordahl considerou que a antiga profissão de metalúrgico deu a Elias conhecimentos suficientes para manipular as ferramentas utilizadas na elaboração dos bonecos.

“Eu nem durmo direito, sonho que estou fazendo um boneco com cara de alguém conhecido, que já morreu, aí eu quero fazer ele mais bonito, esse é o meu maior desejo”. (Elias Rocha)

Com o dedo indicador da mão direita servindo de pincel, Elias pintava sobre um pedaço de borracha, preta ou marrom, onze ou doze traços de tinta branca que representavam as sobrancelhas, os olhos, as orelhas, o nariz, a boca, e às vezes, um cavanhaque.

Importante observação de Nordahl: Geralmente os bonecos estão sempre esboçando um sorriso, o que de certa maneira, refletia o bom humor característico de seu criador.

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