ESALQ: um século de ciências agrícolas em Piracicaba – (III)

1.1.4.Biologia

1.1.4.1. Botânica

Anatomia, sistemática e fisiologia são os campos de pesquisa esalqueana dentro da “scientia amabilis”. Mencionem-se os trabalhos de Walter Radamés Accorsi e de Clovis Ferraz de Oliveira Santos nos dois primeiros. Paulo Roberto de Camargo e Castro se tornou respeitado no Brasil e no exterior por seus trabalhos sobre hormônios vegetais que, entre outras coisas, mostram a relação entre esses reguladores e doenças de plantas. Espera-as contribuições dignas de nota na área de distúrbios provocados por condições de clima , deficiências e excessos nutricionais. Será imperdoável deixar de assinalar o trabalhar de Walter Radamés Accorsi na identificação e uso prático de plantas medicinais dentro da biodiversidade da flora brasileira.

1.1.4.2. Zoologia

O primeiro nome a citar é o de Salvador de Toledo Piza Jr., que ultrapassou os limites do naturalista ou do cientista podendo, entre outros, ser colocado na categoria de sábio. Isto a despeito de um ou outro erro cometido, como no caso de sua hipótese sobre o funcionamento dos cromossomas – local e residência do DNA, ácido desoxirribonucleico, a base física dos caracteres hereditários, o genoma hoje na ordem do dia. Além de suas contribuições para sistemática de insetos e outros animais, Piza esclareceu detalhes de citologia do escorpião Tytius behienses que figuram em livros de referência. Um aspecto prático: introduziu no Brasil a mosquinha que foi buscar em Uganda para o controle biológico da broca do café.

Sabedor de várias línguas, vivas e mortas, Piza tinha um bom senso invejável que transparecia nas suas conversas e palestras. Exemplo: ele foi convidado a dar um curso em outra universidade. Os docentes reclamavam da falta de recursos que os impedia de fazer pesquisa. Disse-lhes mais ou menos o seguinte, que guardei na memória pois dele ouvi: “ Se vocês quiserem fazer pesquisa que necessite de um microscópio eletrônico e não tiverem dinheiro para comprá-lo, não faz mal. Procurem outro problema que possa ser estudado com um microscópio ótico. Ah, o dinheiro não dá? Achem outro assunto para estudar com uma lupa de bolso. Não há dinheiro para comprá-la? Procurem outro problema que possa ser estudado com a cabeça e com os dois olhos que Deus lhe deu”.

Quando Piza se aposentou de direito, aos 70 anos, visto que, de fato, continuou a trabalhar, eu era diretor da ESALQ. Mandei gravar numa placa de ouro: “A Mestre Piza, sua Escola Agrícola de ontem, de hoje e de amanhã”. Uma “vaquinha” entre os membros da congregação pagou pela lembrança. Dar placa de prata ao Mestre Piza não estaria à sua altura.

Destaque agora para um dos discípulos de Piza: Luiz Gonzaga Engelberg Lordello, meu companheiro de turma ( 1948). Sobre ele escreveu seu colega Luiz Roberto C. Barbosa Ferraz do setor de Zoologia Agrícola, atual Depto de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola chefiado por Tasso Leo Krugner: “Uma das contribuições relevantes do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola foi dada na especialidade de Nematologia Agrícola, que, no Brasil, pode-se dizer nasceu na ESALQ, no início da década de 1950, pela atuação dedicada e altamente qualificada do Dr. Luiz Gonzaga E. Lordello. Ainda hoje reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho, o Dr. Lordello desenvolveu pesquisas fundamentais na identificação básica das principais espécies de fitonematóides ocorrentes no País, bem como na aferição da ação patogênica sobre as mais importantes culturas e na avaliação da eficiência de diferentes técnicas de controle. Mais do que tudo, tornou a especialidade bem conhecida dos técnicos e produtores rurais mediante publicação de livro pioneiro sobre o assunto e de numerosos artigos de divulgação científica, tendo sido, pelo conjunto de sua magnífica obra, agraciado com o titulo de ‘Pai da Nematologia Agrícola Brasileira’”.

(continua)

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