O Papel Pioneiro de Piracicaba na Construção Fabril na Província de São Paulo (I)

Figura 01: A Krähenbühl, com seus funcionários no início do século XX. Arquivo Museu Prudente de Moraes.

Figura 01: A Krähenbühl, com seus funcionários no início do século XX. Arquivo Museu Prudente de Moraes.

Piracicaba foi pioneira no processo de industrialização e na navegação fluvial em São Paulo, mas aguardou por certo tempo a Ferrovia. À medida que a produção agrícola crescia, sua população se desenvolvia especialmente quando da intensificação das correntes imigratórias. Os alemães e suíços foram os primeiros a se estabelecerem, sendo que os suíços montaram a primeira casa industrial de Piracicaba, também do gênero em São Paulo.  Consequentemente, outras empresas surgiram e principiaram a configurar um aspecto industrial à cidade. Geralmente próximas aos mananciais: o poluído córrego Itapeva ou o rio Piracicaba, onde se formavam fileiras industriais na Rua do Porto.

A instalação da primeira metalúrgica, a Krähenbhül, e da Companhia de Navegação Fluvial Paulista, colocaram Piracicaba como pioneira no processo de desenvolvimento industrial da Província de São Paulo, e estes fatos são praticamente ignorados pela historiografia paulista*.

A Companhia de Navegação Fluvial Paulista estava autorizada a se organizar por meio do Decreto n° 5.920, de 24/5/1872. Sob a orientação do senador Francisco Antonio de Souza Queiroz, de João Luiz Germano Bruhns e Joaquim Soares Franco a companhia tinha o objetivo de explorar a navegação comercial a vapor dos rios Piracicaba e Tietê, no trecho do Piracicaba ao Porto da Colônia de Avanhandava (Monteiro, 1997).

Outro marco do pioneirismo industrial de Piracicaba foi a invenção da máquina de descaroçar café, do ventilador para café em coco e da máquina de beneficiar arroz, pelo alemão Evaristo Conrado Engelberg. Suas máquinas eram vendidas em São Paulo pela ‘Engelberg, Siciliano & Cia’, no bairro dos Campos Elíseos. O inventor inclusive foi nomeado membro correspondente da Academia Parisiense de Inventores, com a distinção de uma medalha de ouro em 1890 (Elias Neto, 2000). A firma de Engelberg ficava situada onde foi posteriormente construído o Mercado Municipal em 1887 e não foram encontrados registros iconográficos.

Os maiores estabelecimentos industriais pioneiros de Piracicaba se instalaram às margens do Rio Piracicaba, no Centro da cidade – a Fábrica de Tecidos Santa Francisca, fundada por Luiz de Queiroz e o Engenho Central. A atuação de Queiroz no desenvolvimento industrial de Piracicaba foi fundamental no final do século XIX. Sua Fábrica de Tecidos acabou sendo o ponto de partida para a instalação do abastecimento de energia elétrica da cidade e a primeira a ostentar linha telefônica.

O Engenho Central foi um dos maiores do Brasil até a década de 1950, quando a concorrência do açúcar dos outros países latino-americanos privilegiados pelos EUA no mercado internacional, a dificuldade de manutenção e de mão-de-obra especializada fizeram a produção decair.

A instalação dos sistemas de água encanada, energia elétrica e canalização de esgotos ocorreu em Piracicaba ainda no século XIX. Profissionais de destaque nacional introduziram tecnologias avançadas na cidade e proporcionaram também uma situação de pioneirismo para Piracicaba em relação às outras cidades brasileiras. Carlos Zanotta, construtor italiano, com larga experiência em construção, aliado ao empresário João Frick, apadrinhado do Visconde de Mauá; Luiz de Queiroz, o republicano filho de Barão, com dois cursos universitários concluídos na Europa; e Saturnino de Brito, um dos mais representativos engenheiros de seu período foram os responsáveis pelas melhorias sanitárias mais importantes até então vistas pelo povo piracicabano. Apesar disso, o mesmo povo assistia a tudo com olhos críticos, reclamando da água suja e das lâmpadas desligadas.

* Em seu livro “São Paulo e Outras Cidades”, Reis Filho (1994) não cita estes empreendimentos, entre outros inclusive, posteriores nas cidades de Sorocaba, Itu, São Paulo e Campinas.

 Marcelo Cachioni
Diretor do Departamento de Patrimônio Histórico do IPPLAP Piracicaba-SP
Professor de Patrimônio Histórico na ASSER Rio Claro-SP e Técnicas Retrospectivas na FIEL Limeira-SP.

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