O Papel Pioneiro de Piracicaba na Construção Fabril na Província de São Paulo (III)

Figura 02: Fábrica de Tecidos vista da Rua 13 de Maio em 1906. (Rotellini, 1906).

Figura 02: Fábrica de Tecidos vista da Rua 13 de Maio em 1906. (Rotellini, 1906).

A Fábrica de Tecidos Santa Francisca (Figura 02) foi a segunda grande casa industrial de Piracicaba, fundada em 1873 por Luiz de Queiroz e movida pela força hidráulica do Rio Piracicaba. O local onde foi instalada pertencia a Manuel Rodrigues Jordão e era conhecido como Fazenda Engenho d’Água. Adquirida pelo Barão de Limeira, após sua morte foi passada por herança ao seu filho, Luiz de Queiroz (Guerrini, 1970).

A primeira iniciativa para a instalação da tecelagem foi o pedido de concessão para montar uma usina de força (*) no Rio Piracicaba. Na falta de máquinas, o empresário importou o maquinário da Inglaterra. Luiz de Queiroz trouxe para a cidade, técnicos especializados da Bélgica, pois não os encontrou no Brasil. Na ausência de serrarias, as esquadrias das janelas da construção foram feitas à mão. Como não havia cultura de algodão disponível, passou a plantar e comprar de outros pequenos produtores, os quais ele incentivou a produzir (Kiehl, 1976).

Em 1° de julho de 1874 começaram as obras com o lançamento da pedra fundamental. O engenheiro responsável foi o inglês Arthur Drysdem Sterry (Guerrini, 1970; 1985). Em 1876 eram inaugurados os trabalhos de fiação com cinquenta teares de serviço para setenta operários, produzindo 2.400 metros de tecido por dia, o que rendeu fortuna a Luiz de Queiroz. Com aguçada visão empresarial Queiroz instalou uma linha telefônica entre a tecelagem e sua Fazenda Santa Genebra e adquiriu barcos para o transporte fluvial da produção da fábrica. A partir de 1877 por meio dos trilhos da Cia. Ituana Piracicaba passou a se comunicar com Capivari, Indaiatuba, Jundiaí, São Paulo e Santos. No entanto, era a navegação fluvial nos rios Piracicaba e Tietê que a ligava a São Pedro, Dois Córregos e Jaú, na margem direita e Botucatu e Lençóis, à esquerda (Kiehl, 1976).

O conjunto fabril originalmente executado em alvenaria aparente se compunha em vários edifícios com funções distintas. O grande pavilhão da tecelagem dividido em quatro blocos e em desnível, adaptado por porão, recebeu telhados independentes por bloco (com telhas francesas), ainda que fossem contíguos. Neste edifício, as aberturas foram executadas em arcos plenos e janelas em guilhotina, com quatro peças por bloco. Os outros prédios reuniam funções distintas de serviços e um casarão coberto com telhas coloniais, que parece ter sido a casa sede da Fazenda Engenho d’Água, abrigava os escritórios. Entre o pavilhão da tecelagem e o casarão de escritórios havia um caprichoso jardim francês, ao lado de um canal. Logo na entrada principal do pavilhão, cujo destaque era um frontão com a epígrafe da empresa, existia uma ponte sobre o referido canal. Havia também um estábulo e pasto para cavalos. O abastecimento hidráulico da fábrica se dava por uma caixa d’água, correspondente a três pavimentos se destacava no conjunto, abastecida por dutos.

* Nesse ano, 1873, Constituição passava a contar com sistema de iluminação pública a querosene, com postes nas principais esquinas do centro. A usina de Luiz de Queiroz foi posteriormente pioneira no abastecimento de energia elétrica em Piracicaba.

Arthur Drysdem Sterry era inglês e engenheiro mecânico. Após a implantação da Tecelagem comandou o setor de máquinas. Trabalhou na Cia. Ituana de Estradas de Ferro e também em Salto entre 1877 e 1878, e depois em Itu a partir de 1879, quando montou sua própria fábrica de tecidos de algodão, a qual funcionou por somente um ano. Em 1897 construiu o edifício anexo da Fábrica de Tecidos São Luiz em Itu, na qual utilizou as mesmas características da Santa Francisca, com janelas em arco pleno e porão para adaptar o prédio ao desnível do terreno. Faleceu em São Paulo em 13 de abril de 1937 (Guerrini, 1985; Gazzola, 2004).

Marcelo Cachioni
Diretor do Departamento de Patrimônio Histórico do IPPLAP Piracicaba-SP
Professor de Patrimônio Histórico na ASSER Rio Claro-SP e Técnicas Retrospectivas na FIEL Limeira-SP.

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