Os palacetes e mansões de piracicabanos em São Paulo

Avenida Paulista Antiga

Avenida Paulista Antiga

São Paulo contava, em 1900, na virada do século XX, cerca de 239 mil habitantes, o que correspondia a 10,5% da população do Estado. Na cidade, onde se misturavam imigrantes, produtores de café, negros libertos, industriais e operários, a modernidade parecia chegar cada vez mais rápido pelas mãos do prefeito Antônio Prado, um dos homens mais ricos do país, e que responderia pela reforma urbana da capital, a partir do Vale do Anhangabaú. Em meios a tílburis, aranhas e outros tipos de carroças, já existiam licenciados 743 veículos particulares.

Eram tempos em que novos espaços se abriam, como a Avenida Paulista. E foi quando, também, a elite cafeeira começava a mudar sua forma de viver, optando pela construção de palacetes que marcariam uma época e uma nova forma de morar. Os grandes fazendeiros caracterizar-se-iam pela itinerância, dividindo seu tempo entre suas propriedades, no interior do Estado, e a capital, onde passariam a residir de forma definitiva. Mesmo na capital, entretanto, buscariam grandes áreas, originárias de antigas chácaras, para edificar moradias amplas, com imensos jardins e cômodos grandiosos.

Os palacetes se constituíram em moradias tão peculiares que foram objeto de estudo específico da arquiteta e historiadora Maria Cecília Naclério Homem, em livro denominado ” O Palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira”, publicado pela Martins Fontes. Seus salões e suas festas, sua arquitetura e decoração com forte influência européia, a vida familiar de muitos deles estiveram, entretanto, diretamente vinculados a algumas famílias piracicabanas. (Na foto, sala de jantar do Palácio Campos Elíseos, da família Pacheco e Chaves. Em estilo Tudor, com revestimento de carvalho francês nas paredes, lareira de madeira e de mármore e grande tapete oriental.) Assim, dentre os registros feitos pela especialista, destacam-se os palacetes dos Pacheco e Chaves e de Nicolau de Moraes Barros, dos quais reproduzimos as principais características e as fotos.

O Palacete Chaves

Foto: Palácio dos Campos Elíseos, antigo Palacete Chaves. Foto do Atelier Star. Arquivos da Sociedade Comercial e Construtora e do SPHAN. Fotos extraídasdo livro acima citado.

Foto: Palácio dos Campos Elíseos, antigo Palacete Chaves. Foto do Atelier Star. Arquivos da Sociedade Comercial e Construtora e do SPHAN. Fotos extraídasdo livro acima citado.

Foi na Avenida Rio Branco que o palacete do empresário Elias Pacheco Chaves foi projetado pelo arquiteto alemão Matheus Haussler. Casado com Anésia da Silva Prado, teve dez filhos, com quem viveu nessa casa, a partir de 1899. Um deles, Jorge Pacheco e Chaves torna- se prefeito de Piracicaba e seu filho, João, deputado federal e político brilhante. Elias Pacheco Chaves era dono de mais de 14 fazendas e se constituiu em um dos grandesexportadores de café brasileiro.

A mansão possuía oito dormitórios, mobiliados, segundo a autora, ” em excesso”, com uma média de 12 cadeiras ou poltronas em cada um deles. ” Uma profusão de espelhos e cristais, objetos de luxo, estatuetas, candelabros, estofados de cetim e veludo, quadros, tapetes e cortinas completavam a decoração”. A cozinha e demais dependências de serviço ficavam no porão.

Uma sala de visitas, vermelha, contava com um piano Henry Heertz e o salão nobre era decorado em estilo Luiz XVI. A sala de jantar tinha mesas e cadeiras de carvalho e cortinas vermelhas e a galeria, móveis estofados em veludo azul. A galeria do andar superior também era usada para estar, existindo, ainda quarto de costura e rouparia. Em todo o imóvel, aparecia apenas um banheiro.

Palacete Chaves restaurado

Palacete Chaves restaurado

Em 1906 ali se hospedou o secretário de Estado norte-americano, Elihu Root, a pedido do governo. Em 1911, o palacete foi vendido ao Governo do Estado de São Paulo, para se transformar em residência de chefes do Estado, em transação que incluiu os móveis e cortinas, no valor de 580 contos de réis, passando, então, a ser conhecido como Palácio dos Campos Elíseos, sede também do governo de São Paulo. Até 1967, ali residiram presidentes, interventores e governadores e foram recepcionados dezenas de visitantes estrangeiros. Naquele ano, um incêndio destruiu boa parte de sua estrutura, recuperada por técnicos em restauração. Com a sede do governo sendo transferida para o Palácio Bandeirantes, o Palácio dos Campos Elíseos passou a atender secretarias de cunho cultural.

O palacete de Nicolau de Moraes Barros

Avenida Paulista 1902

Avenida Paulista 1902

Indicada como residência típica de famílias com uma fortuna mediana, a casa se localizava na Avenida Paulista, esquina com a Alameda Rio Claro, e teve seu projeto e construção desenvolvidos em 1911, sob responsabilidade de Ramos de Azevedo.

Médico e obstetra formado no Rio de Janeiro, Nicolau era sobrinho de Prudente de Moraes e viveu sua infância em Piracicaba. Casado com Francisquinha Paulino Nogueira, teve quatro filhos.

Ao palacete era possível se adentrar tanto pela Avenida Paulista como pela rua São Carlos do Pinhal. Em meio a imensos jardins, possuía dois alpendres, uma sala de visitas, sala de jantar e escritório no andar térreo, onde também se localizavam a cozinha, despensa, áreas de serviço.

ramos de azevedoNo piso superior havia três dormitórios: o do casal, o das meninas – que dormiam com uma governanta – e o dos rapazes, e um único banheiro. Os móveis haviam sido importados da Casa Maple, de Londres, das casas Mercier e Jansene, de Paris. As roupas de cama e banho foram adquiridas na Maison Blanc, em Paris.

Oito empregados garantiam o funcionamento da casa: cozinheira e sua auxiliar, jardineiro, motorista, copeiro, arrumadeira e lavadeira, além da governanta. As filhas contavam, ainda, com uma preceptora inglesa que lhes dava aulas de inglês, ensinando-as a costurar e cozinhar. Os adolescentes não freqüentavam a sala de visitas, mas almoçavam com os pais. Os passeios mais comuns, durante a semana, aconteciam no vizinho Parque Trianon, ainda existente, em 2007, na área da Avenida Paulista.

 

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