A HISTÓRIA QUE EU SEI (111)

Os “socialistas”
Se é fato que o Prefeito João Herrmann Neto não tinha qualquer plano de governo e nem uma definição sólida de caráter ideológico, a verdade é que foi com ele e em sua administração que Piracicaba se viu sacudida, de alto abaixo, por mudanças políticas e pela ebulição de movimentos populares. A criação do Distrito Industrial-Leste, feita na administração de Adilson Maluf, começara a trazer as suas conseqüências: surgimento de mais favelas, migração de grande número de famllias em busca de trabalho e de emprego, aumento populacional conflitante com os recursos e a infraestrutura do município. Havia, apenas, dois ou três centros comunitários, dando início a um moviimento de conscientização das classes populares que passaram, também, a ser atendidas por setores da Igreja Católica, voltada, agora, para a instalação das comunidades eclesiais de base. Mesmo com a cautela do Bispo Aníger Melilo – que preferia que tal conscientização se desse através dos “grupos paroquiais de Cursilhos” – havia padres, entre eles o padre José Maria Teixeira, preocupados e insistentes com a formação das comunidades eclesiais de base. Na UNIMEP, com o surgimento e crescimento de lideranças esquerdistas, o clima era favorável a toda uma guinada em direção aos bairros, à periferia, onde surgia uma outra cidade com uma nova população alheia e apartada da realidade histórica piracicabana. A ansiedade era por mudanças, ainda que indefinidas.

Na administração municipal, João Hernnann Neto acabou cedendo à influência de três de seus principais assessores: Neidson Rodrigues, Enildo Pessoa e Paulo Augusto Romero e Silva. Criava-se, assim, o I PAC (Plano de Ação Comunitária) que pretendia uma maior participação popular na administração do município, com ênfase para os setores de saúde, educação, habitação, transportes. Os “quadros” eram pertencentes, em sua maioria, ao PCB, PC do B, MR-8, alinhando-se com a “esquerda católica” e núcleos da UNIMEP. Instalava-se o Conselho Superior de Governo €conhecido como “Grupo dos 7” – que se reunia todos os dias pela manhã, elaborando projetos e estimulando discussões. Ao mesmo tempo, criava-se uma Assessoria de Informações, encarregada de concentrar as informações das diversas secretarias. Na área de saúde, trazidos por Enildo Pessoa, chegavam a Piracicaba os médicos José Eduardo e Maria Lúcia Passos Jorge, época em que se ouviu falar, pela primeira vez, no sanitarista Alexandre Alves. O lema era “colocar a administração na rua”, quando surgiram, então, as constantes e por assim dizer permanentes reuniões populares, com o estímulo à criação dos CEPECs (Centros Poli valentes de Educação e Cultura) através dos quais as populações periféricas passariam a influir mais diretamente nas linhas da administração. Tratava-se, de uma certa maneira, de experiências de uma “democracia direta”, abrindo-se, ao povo, canais imediatos de comunicação. E isso, obviamente, traria reações imediatas, tanto dos setores mais conservadores de Piracicaba como da própria Câmara Municipal, onde os vereadores viam as suas atribuições políticas sendo substituídas por lideranças de bairro.

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