A HISTÓRIA QUE EU SEI (113)
Escândalos e reações
O próprio João Herrmann Neto haveria de reconhecer que fora inábil em desdenhar a capacidade de reação das chamadas “forças vivas” de Piracicaba que, na verdade, sempre tinham sido as que se organizavam na Associação Comercial e Industrial. Assim, quando determinou o aumento do Imposto Predial e Territorial em mais de 500%, as reações se fizeram imediatamente sentir. Por iniciativa de seu associado, o comerciante Antonio Gatti, a Associação Comercial e Industrial entrava com uma ação contra João Herrmann Neto, contra os impostos e alegando que o Prefeito falsificara uma edição do “Diário Oficial” (processos 294/78, 1º Ofício e 398/78, 3º Ofício). Foi o chamado “escândalo da falsificação”. Contra a ação da ACIPI, o promotor público José Ribeiro Borges deu um parecer de 11 laudas, pedindo o arquivamento do feito. ss No entanto, o Juiz Luiz Roberto de Almeida via, nas alegações da ACIPI, a configuração de “crime de responsabilidade”. No início de 1978, estava criada a primeira grande crise política da administração João Herrmann Neto que, em Março do mesmo ano, lançava, na cidade, o “Jornal do Povo”, um semanário através do qual pretendia divulgar a sua administração e ter um veículo em sua defesa, pois não contava com o apoio ou a simpatia da imprensa e rádio locais. As contradições da administração eram tantas que, dizendo-se socialista e opositor ao governo militar, João Herrmann Neto não hesitava em usar de instrumentos de exceção, como o AI-8, que também permitia legislar por decretos, ou, então de ameaçar – como o fazia seu vice-prefeito, José Borghesi – os opositores com a aplicação da “Lei da Segurança Nacional”. Só não bastasse a crise política, 1978 era um ano eleitor com eleições para deputados estaduais e federais. Para aumentar a fragilidade de sua sustentação partidária, João Herrmann Neto decidiu apoiar candidatos que não eram vinculados à política municipal, caso específico de seu assessor Enildo Pessoa, como também os nomes de Audálio Dantas e Fernando Morais. O MDB local, no entanto, estava concentrado nas candidaturas de Francisco Antonio Coelho (estadual) e João Pacheco e Chaves (federal). Já se iniciara o movimento pela Anistia; Piracicaba, com o patrocínio da Prefeitura, hospedava o III Encontro dos Jornalistas do Interior. E a ARENA, por sua vez, lançava as candidaturas do vereador João Cláudio Angeli e Jairo Mattos para deputado estadual e a de Irineo Bonazzi e do metalúrgico Newton da Silva, para federal. Os candidatos locais do MOB oram rejeitados pelo eleitorado: Francisco Coelho não conseguiu a reeleição, João Pacheco e Chaves reelegia-se, mais uma vez, com votação em outras cidades. Pela ARENA, Jairo Mattos obtinha votação consagradora e elegia-se deputado estadual. Mas a crise político-partidária agravava-se em Piracicaba, com João Herrmann Neto vendo o MOB dividir-se e enfraquecer-se. Adilson Maluf, ex-prefeito, diria, comentando o resultado das eleições, que “o MOB estava em dissolução, prestes a se acabar”, magoado por não ter conseguido legenda para sair candidato a deputado estadual.
A Câmara Municipal, então, decidiu criar uma Comissão de Sindicância e Processante, visando ao afastamento do Prefeito João Herrmann Neto por falsidade ideológica e crime de responsabilidade, tomando a falsificação do “Diário Oficial” como pretexto. Eram 12 vereadores em oposição a João Herrmann Neto e apenas cinco que o apoiavam. E quem assinava o pedido de “impeachment” do Prefeito era justamente um vereador do MDB, José Ignácio Mugão Sleimann! No final de Dezembro, em sessão carregada de tensões, a Câmara Municipal votou o “impeachmenf’, após ouvir o Prefeito Herrmann Neto que se fazia acompanhar de sua esposa, Maria Cláudia Ranzani Herrmann, e dos pais América e João Guilherme paz Herrmann. Debaixo de emoção €em seu discurso, João Herrmann Neto pedia desculpas à população – a Câmara votou pela condenação: .12 votos contra sete. Mas o número era insuficiente. O suplente João Sachs – que substituíra José Ignácio Mugão Sleimann, impedido de votar por ser o autor do pedido – decidira em favor da permanência do Prefeito, auxiliado pelo vereador Paulo Bortoletto que mudara de posição na última hora. João Herrmann permanecia no cargo.
Mas os escândalos não haviam cessado. Durante a votação do impedimento do prefeito, até mesmo vereadores do MOB diziam, na tribuna da Câmara, ser “impossível defender o Prefeito”. Novos fatos repetiam-se, novos atritos, novas incompatibilidades. No início de Novembro, pouco antes das eleições de 1978, João Herrmann Neto fora detido e levado à Cadeia Municipal de Cosmópolis, cidade onde residiam seus pais, desacatando guardas e agredindo um deles. O escândalo teve repercussão nacional, embora João Herrmann Neto se defendesse com alegações que não se revelaram verdadeiras. E, nas vésperas do Natal, o escândalo maior: o ocorrido na rua Madre Cecília, determinante para o desprestígio pessoal e político do Prefeito João Herrmann Neto, acontecimento que iria se transformar no que se chamou de “Mar de Lama” ou “Páginas Negras da História de Piracicaba”, denominações criadas pelos jornais “O Diário” e “Jornal de Piracicaba”, respectivamente.
Herrmann foi um atraso para nossa cidade. Queria plantar um quintal cubano na Noiva! Na esfera federal não conheço um único projeto de sua autoria que tenha sido aprovado para benefício da população brasileira. Era um polemista esperto, nada mais que isto.