A HISTÓRIA QUE EU SEI (120)

Estimava-se a presença de 10 mil estudantes, prevendo-se 70 mil refeições. O “campus” da UNIMEP foi liberado; a Prefeitura cederia o Estádio Municipal e o Ginásio de Esportes, providenciando colchões, acomodações. Mobilizou-se a sociedade piracicabana com o “Adote um estudante”. A ESALQ, depois de um tempo de titubeio, ofereceu o Ginásio de Esportes; o Lions Clube aplaudiu; a Câmara Municipal, com exceção do vereador Elias Domingos da Silva (PDS), apoiou a iniciativa, cedendo o Salão Nobre da casa; casas residenciais, repúblicas de estudantes movimentaram-se para acolher os congressistas da UNE.

A primeira crise instalou-se dentro da própria Igreja Metodista. O Conselho Regional da Igreja havia manifestado o seu apoio à acolhida que a UNIMEP dava ao Congresso dos estudantes. No entanto, o Conselho dos Bispos da Igreja Metodista, como um colegiado, manifestou-se contrariamente. Paralelamente, a Igreja Católica também se manifestava: D. Cláudio Hunes, Bispo de Santo André, aplaudia a iniciativa, o Cardeal Paulo Evaristo Aros, de São Paulo, estimulava o evento. E, em Piracicaba, surgia a palavra do novo Bispo Diocesano, D. Eduardo Koaik, recém chegado à Diocese, preparando-se, como Administrador Apostólico, para substituir D. Aníger Melilo, que adoecera com gravidade. D. Eduardo Koaik seria responsável, a partir daí, por uma nova e mais definida orientação da Igreja Católica na Diocese, em apoio aos movimentos e organizações populares. Vindo do Rio de Janeiro, D. Eduardo Koaik tinha uma experiência muito grande junto a intelectuais e universitários e na área das comunicações sociais. Suas primeiras iniciativas desgostavam os conservadores e as elites católicas. Mas a sua linha estava definida pela “opção preferencial pelos pobres”, pelas comunidades eclesiais de base. Era como se fechasse o círculo definitivamente: a “república socialista de João Herrmann Neto”, a progressiva “esquerdização” da UNIIMEP, a “opção preferencial” da Igreja Católica pelos movimentos e organizações populares.

O Prefeito João Herrmann Neto brilhou internamente. Nos dias 13, 14 e 15 de Outubro de 1980, Piracicaba foi a “Cidade da UNE”, a primeira vez, após o golpe militar de 1964, que a entidade reunia-se sem repressões, sem violências, sem distúrbios. Mas isso tinha um preço: Piracicaba ficou, por quatro dias, desassistida. Os serviços de saúde, de segurança, a merenda escolar tiveram, como prioridade, atender os 5 mil estudantes que a cidade abrigou. A lELESP teve que ampliar os seus serviços, montando postos volantes. Na UNIMEP, paralisaram-se as aulas e apenas trabalharam funcionários e professores que haviam dado apoio ao Congresso. Em compensação, os bares e restaurantes da cidade deliciaram-se, com os seus estoques de bebidas, refrigerantes e sanduíches esgotando-se…

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