A HISTÓRIA QUE EU SEI (130)

A crise de 1985
Em janeiro de 1985, Tancredo Neves, que deixara o governo de Minas Gerais, foi eleito Presidente da República pelo colégio eleitoral do Congresso Nacional, em substituição a João Batista de Figueiredo, tendo José Sarney, ex-governador do Maranhão, como vice-presidente. Pouco antes da posse, Tancredo Neves adoecia, vindo José Sarney a assumir a Presidência da República. No dia 21 de Abril, Tancredo Neves viria a falecer. O país estava à beira do caos, havendo grandes manifestações contra o governo em Brasília. Criava-se a “Aliança Democrática”, entre o PMDB e o PFL, dando sustentação política a José Sarney. Convocava-se a Assembléia Nacional Constituinte para 1987. Dilson Funaro, no mês de Agosto de 1985, assumiria o Ministério das Finanças. Em Piracicaba, o time de basquetebol feminino da UNIMEP sagrava-se campeão estadual, em meio a grande entusiasmo popular mas, também, de grave crise na Universidade.

A crise da UNIMEP em Janeiro de 1985 foi uma amostragem da nova realidade política também em Piracicaba. O Reitor Elias Boaventura era deposto pele Conselho Diretor da Universidade, substituído – juntamente com o vice-reitor Almir de Souza Maia – por dois representantes conservadores da Igreja Metodista; Hélio Manfrinato e Abner Perpétuo. A destituição de Elias Boaventura resultava de um processo lento de insatisfações e de divergências dentro da Igreja Metodista, que se havia iniciado com o 32º Congresso da UNE, com a politização da Universidade, agravando-se com as manifestações de Boaventura em prol do reatamento de relações diplomáticas com Cuba e com a sua viagem a Nicarágua, onde estivera como observador político, a convite do governo daquele país. No dia 12 de Janeiro, Elias Boaventura e Almir de Souza Maia eram depostos. No dia 14, os grandes jornais abriam manchetes para noticiar o acontecimento, passando, então, a vir, de todo o país e do Exterior, manifestações cada vez maiores de solidariedade. Em Piracicaba, no entanto, apenas as. organizações populares e segmentos da “esquerda” se manifestavam, – os favelados ocuparam o “Campus Centro” – sendo sintomático o silêncio do Prefeito Adilson Benedicto Maluf que, ao contrário do próprio PMDB, se manteve alheio à crise. Tratava-se, na verdade, de um sinal evidente e claro de que Piracicaba tinha suas águas políticas já definidas, a perceptível separação entre a “esquerda” e os “conservadores” Adilson Benedicto Maluf era um “conservador”. Por seu lado, o Bispo Eduardo Koaik preferiu também silenciar-se, considerando tratar-se uma crise da Igreja Metodista, o que não impediu, no entanto, as manifestações de solidariedade dos padres Otto Dana e José Maria de Almeida, vigários, respectivamente, da Catedral de Santo Antonio, e da Igreja de São Dimas. D. Aníger Melilo falecera na cidade de São Paulo.

A crise de 1985 da UNIMEP consolidou de vez a aliança de Elias Boaventura e de João Herrmann Neto que impediu que a Polícia tomasse o “campus” centro, intervindo diversas vezes para evitar que se cumprisse a determinação judicial que, atendendo pedido de Hélio Manfrinato, autorizara o uso de força para garantir a reintegração de posse ao novo reitor.

Retomando ao cargo, através de mandado de segurança, no dia 6 de Fevereiro de 1985, Elias Boaventura voltava enfraquecido, mas um divisor de águas na política municipal. Pois, como a dar razão a seus adversários – que o acusavam de usar a Universidade pata suas pretensões políticas – Elias Boaventura sairia candidato a deputado estadual, em 1986, pelo partido de Leonel Brisola, o PDT (partido Democráático Trabalhista). Finda a crise, havia dois ganhadores, Hélio Manfrinato e Abner Perpétuo, que bateram às portas da Justiça do Trabalho e obtiveram uma mdenização trabalhista de 400 milhões de cruzeiros, na época, convertidos, depois e apos acordo, em 200 milhões de cruzeiros .. 69 A perda de poder de Elias Boaventura chegaria ao final de seu mandato de Reitor, cargo do qual não se afastou para candidatar-se a deputado estadual. No mesmo dia do lançamento de sua candidatura, em Agosto de 1986, Boaventura criava novos atritos e outras graves divergências, envolvendo a própria Igreja Metodista ele fazia a UNIMEP celebrar um acordo de intercâmbio político e cultural com a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), entidade não reconhecida, então, pela maioria dos países do mundo, incluindo o Brasil. A repercussão foi tão forte que Boaventura não conseguiu celebrar o acordo nas dependências da UNIMEP tendo de fazê-Io nos salões dos SESC. À sua sucessão como Reitor da UNIMEP, foi eleito Almir de Souza Maia, acompanhado de dois vice-reitores, EIy Eser Barreto César, e o também metodista Davi Ferreira Barros. A responsabilidade do novo Reitor: equacionar as vultosas dívidas de um verdadeiro laboratório político e ideológico em que a Universidade se transformara, com implicações profundas e decisivas na vida política de Piracicaba.

1 comentário

  1. ismael f. valentin em 09/08/2013 às 12:12

    Com a morte do Prof. Elias Boaventura morre a esperança de uma Universidade caracterizada pela ousadia e pela postura de vanguarda. As relações internacionais hoje se resume ao aspecto acadêmico, com ênfase para o aspecto de imagem (marketing) da instituição.

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