A HISTÓRIA QUE EU SEI (131)

Constituinte e fim de Pacheco
No dia 28 de Fevereiro de 1986, o Ministro Dilson Funaro anunciava o novo plano econômico para o país, que se tomou conhecido como “Plano Cruzado”. O prestígio e a popularidade do Presidente José Sarney atingiam índices espetaculares Tratava-se, no entanto, de um ano eleitoral e o PMDB impedia que se fizessem ajustes que o Ministro Dilson Funaro dizia serem necessários. O Presidente José Sarney convocara, junto às eleições de 1986, a Assembléia Nacional Constituinte, pressionado, porém, pela “Aliança Democrática” que acabou definindo as regras do jogo: ao invés de os deputados e senadores serem eleitos especificamente para escrever a nova Constituição Brasileira, após o que se extinguiriam os seus mandatos, os eleitos passariam a ter os mesmos mandatos previstos pela Constituição em vigor. A sucessão de Franco Montoro, em São Paulo, apresentava-se o vice-governador Orestes Quércia, pelo PMDB e uma coligação das esquerdas. Foi, então, que se deu a surpresa eleitoral da década: a candidatura de Antonio Emmio de Moraes, o mais poderoso empresário do país, com o apoio do PFL (partido da Frente Liberal), que nascera de uma dissidência do PMDB e do PDS. Havia crise no abastecimento; Dilson Funaro, no Ministério da Fazenda, viu-se impedido de realizar os ajustes necessários, o PMDB foi beneficiado pela política econômica, Orestes Quércia venceu.

Em Piracicaba, instalara-se, também, a crise no PMDB local, dividido e fraturado por suas divergências internas. O tripé formado por Adilson Maluf, Francisco Antonio Coelho e João Pacheco e Chaves dominara o partido, fechando-o para as pretensões políticas de João Herrmann Neto que, porém, ainda mantinha alta sua popularidade. Eram dois candidatos a deputado federal pelo PMDB: Pacheco e Chaves e Herrmann Neto. Uma outra candidatura se apresentava também, a de Antonio Carlos de Mendes Thame, agora pelo PFL. (Thame deixara o PP, ingressara no PMDB, transferira-se para o PFL, indo, depois, desaguar no PSDB). Como candidatos a deputados estaduais saíam Jairo Ribeiro de Mattos (PFL), Antonio Messias Galdino (PDS), Elias Boaventura (PDL), José Machado (PL).

Se havia um candidato com estatura, experiência e capacidade para representar Piracicaba numa Assembléia Nacional Constituinte, este era, sem dúvida alguma, João Pacheco e Chaves, homem íntimo dos graves problemas do país, com trânsito em todas as esferas políticas, prestigiado e respeitado. Na verdade, nenhum outro político piracicabano, ao longo destes 50 anos, teve a dimensão nacional de João Pacheco e Chaves que, no entanto, pouco contou com o apoio e a compreensão de sua cidade. No entanto, ele foi derrotado vendo chegar ao fim uma das mais brilhantes carreiras políticas de um piracicabano no Brasil. Elegeram-se deputados federais João Herrmann Neto e Antonio Carlos de Mendes Thame.

Jairo Mattos retomou à Assembléia Legislativa. E urna outra surpresa: elegia-se, também, deputado estadual o professor da UNIMEP, José Machado, repetindo a votação ainda inexpressiva, mas marcante, que o PT alcançara em Piracicaba, mas suficiente para eleger-se se somada à de outras cidades da região e na cidade de São Paulo. Elias Boaventura e Antonio Messias Galdino não obtiveram votação para conseguir o mandato de deputado estadual.

Ao longo da campanha, Boaventura houvera tido decepções: João Herrmann Neto, com quem fizera “dobradinha”, não lhe dera qualquer apoio substancial, de forma que, tendo o ex-prefeito José Borghesi como intermediário, o Reitor da UNIMEP acabou compondo-se, nos últimos dias da campanha, com a candidatura do deputado federal Ralph Biasi, de Americana. Após as eleições, Boaventura desabafava outra mágoa, desta vez contra o PT, partido que ele agasalhara e para o qual abrira as portas, na UNIMEP: “O PT me queimou, negou me todo e qualquer apoio”. O PT, na realidade, caminhara firme com o seu candidato próprio, José Machado.

De qualquer maneira, ficava claro o equilíbrio de forças entre “conservadores” e “esquerdistas'” Herrmann Neto e José Machado como representantes destes; Jairo Mattas e Antonio Carlos Thame, representando aqueles. O PT iniciava, ainda que sem consciência disso, sua marcha em direção ao poder municipal em Piracicaba. Em 1987, lançávamos o jornal “A Província”, com o objetivo de tentar resgatar a memória de Piracicaba.

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