A HISTÓRIA QUE EU SEI (LII)
O túnel famoso
A história do túnel subversivo tem antecedentes. O bairro “Nhô Quirn” era um dos maiores desafios para a administração pública de Piracicaba, desde os tempos de Luíz Dias Gonzaga. Quase um pântano, não tinha rede de esgotos, eram barrocas. Os prefeitos queriam resolver o problema e esbarravam em dificuldades materiais e técnicas Gonzaga e Samuel Neves haviam tentado e, finalmente, na administração de Salgot Castíllon o bairro começou a ser urbanizado. Salgot construíra redes de esgotos, tubulações, bocas-de-lobo, mas deixara o serviço incompleto que, por sua vez, não tivera continuidade com Alberto Coury. Quando chovia, havia inundações de residências. E uma das casas que inundavam, após a obra que Salgot Castillon realizara, era a do vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Octávio Artur, que reclamava e protestava.
Na assembléia dos metalúrgicos de Março de 1964 – que decidiu pela greve Octávio Artur e Newton (“Niltinho”) da Silva, que assumira uma cadeira de vereador, suplente que era, encontraram-se com Salgot e reclamaram da situação no “Nhô Qutm”. Foi quando Salgot, nas dependências da Sociedade Beneficente 13 de Maio – onde se realizava a assembléia – fez um “croquis” das tubulações e das bocas-de-lobo naquele bairro, explicando ter faltado uma simples tubulação que, caso fosse construída, resolveria a inundação na casa de Octávio Artur. Newton da Silva guardou o “croquis” e se comprometeu a levá-lo ao Prefeito Luciano Guidotti, pedindo providências. A casa de Octávio Artur ficava nas imediações rua Barão de Valença, próxima à Metalúrgica Dedini…
No dia 3 de Abril, Newton da Silva saía da Câmara Municipal e foi preso, para depor, por ordem do Delegado Adir da Costa Romano. E, em sua pasta, o delegado encontrou o “croquis”, indicações subterrâneas. Foi o que bastou! O Delegado convocou a imprensa e o jornalista Maurício Cardoso – também político do PR de Laudo Natel – publicou a informação tal qual a recebera do Delegado: “Os metalúrgicos fazem túnel para boicotar a Metalúrgica Dedini”. Armou-se o pânico na cidade, motivo para mostrar que a subversão realmente estava em marcha. Newton da Silva foi preso, incomunicável num quarto escuro da Cadeia Pública; logo em seguida, foram detidos Octávio Artur – o dono da casa inundada – e Luiz Silveira Nunes, respectivamente Vice-Presidente em exercício e Tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos. Os três foram levados, em sigilo, para a cadeia pública de ltirapina, e os boatos eram de que haviam sido transferidos para a Ilha Grande, Ilha das Cobras, algum dos presídios de segurança máxima existentes no Estado. Quando Salgot Castillon soube do motivo porque tinham sido presos – o “croquis” de esgotos numa rua do bairro “Nhô Quim” – explicou, para Adir da Costa Romano, o grande equívoco que se cometera, conseguindo que os prisioneiros fossem libertados alguns dias depois. Mas a tragédia já havia acontecido: Leonilda, mulher de Newton da Silva, estava grávida E, pela tensão daqueles dias, perdera o filho, num aborto difícil e complicado.
Outros que foram presos eram os sindicalistas Arlindo de Oliveira Carvalho, Eugênio Belotti, Pedro Massaruto e o também sindicalista e vereador Celso de Camargo Sampaio, contra quem havia grande irritação pela greve ocorrida com os trabalhadores rurais de Rio das Pedras.
Os “subversivos” de Piracicaba nada mais eram, na realidade, do que pessoas preocupadas com os problemas de suas categorias profissionais ou dos bairros em que viviam.
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