A HISTÓRIA QUE EU SEI (LIV)

ARENA E MDB
Parece, até, que o mundo era mais rápido nos anos 60. Os acontecimentos atropelavam-se uns aos outros. Em 1964, quando Luciano Guidotti retomou à Prefeitura de Piracicaba, a ordem mundial era a do “ Proibido Proibir”. Portanto, rompiam-se limites consensuais, dogmas, tabus. Os costumes eram outros. Surgiriam os “hippies”, os “Beatles” seriam uma explosão mundial, “mais conhecidos do que Jesus Cristo”, como diria John Lennon. A descoberta da pílula anticoncepcional favoreceria a chama da “liberdade sexual”, uma das causas fundamentais para o surgimento de movimentos feministas. O “cinema novo”, tendo Gláuber Rocha como sua grande expressão – e ele diria do General Golbery do Couto e Silva: “É o gênio da raça!” – despertava o orgulho e o imaginário dos intelectuais. Em Piracicaba, Francisco Andia – tendo Walkyria Fabris, a musa da época, como esposa – plantava a construção de cinemas: tínhamos, na cidade – além dos cinemas Broadway, São José, Politeama – os cines Colonial, Paulistinha e o Palácio, uma casa de espetáculos que causava inveja até às grandes capitais. Chiquinho (Francisco) Andia preparava-se para inaugurar o Cine Plaza, monumental casa de espetáculos e cinema que ocuparia grande parte do andar térreo do Edifício “Luiz de Queiroz” (COMURBA), que era construído na Praça José Bonifácio (atualmente ocupando o espaço da concha acústica) por um grupo de empresários progressistas, tendo o advogado Raul Coury irmão de Alberto e de Jorge Coury, que haviam sido políticos – à frente.

Em Brasília, o Presidente Castello Branco – com militares que haviam absorvido as políticas da Segurança Nacional e da “nova-vizinhança” a partir da geopolítica, determinadas pelo Departamento de Estado e pelo “War College” – provocava mudanças estruturais na economia do país, através de Octávio Gouveia de Bulhões e de Roberto Campos. Em São Paulo, estava, na Secretaria da Fazenda, um descendente da velha aristocracia rural brasileira, Adolpho da Silva Gordo, tão importante, para Adhemar de Barros, como, pouco tempo depois, seria o então jovem professor Antonio Delfim Neto para Laudo Natel. E, em Piracicaba, preparava-se para chegar e fixar residência um dos herdeiros da decadente família Morganti, Pedrinho Morganti Neto e sua belíssima esposa, Cecília, prontos para modernizar a sociedade piracicabana, como tentaram fazer por pouco tempo. Pois a decadência da indústria piracicabana, voltada para o açúcar, começava a acontecer. Mário Dedini – que se separava de Otília, casando-se com Ignês Seghesi via-se impedido de viver os seus últimos anos na vila que adquirira na Itália e retomava a Piracicaba. O império dos Dedini estava ameaçado. A presença de Dovílio Ometto casado com Ada, filha de Mário Dedini – se tomava cada vez mais imperiosa. Mário Dedini precisaria desfazer-se de parte, que tinha, na Usina de Barra Bonita – em sociedade com Orlando Ometto, irmão de Dovílio – vender propriedades em São Paulo para manter compromissos, incluindo os de salários de seus funcionários. Logo depois, Dovílio Ometto – com o afastamento de Leopoldo Dedini das empresas, em divisão do patrimônio da família – assumiria o controle do império criado por Mário Dedini. E Adolpho da Silva Gordo – que fora Secretário da Fazenda do governador Adhemar de Barros – encontraria um jeito de adquirir as propriedades dos Morganti, endividada que estava uma das famílias pioneiras da indústria açucare ira do país: a Usina Monte Alegre, a Usina Tamoyo, a “Sucrérie Brésiliénne” (Engenho Central). O golpe militar, com suas mudanças na economia do país, trazia a decadência de Piracicaba. E, então, o COMURBA caiu no dia 6 de Novembro de 1964. Era o imponente Edifício “Luiz de Queiroz” que vinha ao chão.

Quando o COMURBA caiu, Luciano Guidotti estava almoçando em sua casa na Avenida Independência; Antônio Néder, pai do futuro diretor da Faculdade de Odontologia, Antonio Carlas Néder, passava ao lado, e morria; Samuel de Castro Neves e sua família mal tinham acabado de almoçar e destroços do prédio atingiam-lhe a casa na rua Prudente de Morais; na mesma rua, onde estava localizado o “Diário de Piracicaba”, o então jovem e iniciante jornalista, Geraldo Nunes, afogava-se com a poeira que inundou o prédio. E, em Roma – algumas horas depois da tragédia – o Bispo Aníger Melilo era informado, pelo próprio Papa João XXIII – a quem o Bispo de Piracicaba fazia a visita “ad limina” – da tragédia que caíra sobre Piracicaba. O Papa João XXIII e Dom Aníger enviaram, ao mesmo tempo, mensagem de sua solidariedade aos piracicabanos.

1 comentário

  1. Kiki Fabris em 22/02/2014 às 19:47

    GOSTEI MUITO DE LEMBRAR O PASSADO,LEMBREI TBM DA ANGUSTIA POR QUE PASSEI
    NO DIA EM QUE CAIU O PREDIO COMURBA ,EU ESTAVA NA ESQUINA

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