A HISTÓRIA QUE EU SEI (LVII)

O “guidotismo” reforçado
As atividades de João Guidotti tinham expressão, além das casas comerciais que possuía, apenas no campo esportivo, mais especialmente no E.C. XV de Novembro. O seu prestígio político nasceu em conseqüência da ascensão do irmão, Luciano Guidotti. No entanto, João passaria a exercer grande influência, não apenas na administração municipal como nas áreas políticas da cidade, quando Adhemar de Barros teve os direitos políticos cassados pelos militares e, como conseqüência, assumiu o governo de São Paulo o vice-governador Laudo Natel. A minissaia já havia sido lançada, em 1964, por Mary Quant, uma desconhecida modista inglesa. As moças passavam a, normalmente, andar de automóvel com os seus namorados, o que antes era proibido. E os carros da moda eram o Gordini, a Vemaguet, o Simca Chamboard, que fora o automóvel usado por um herói da televisão, o “Vigilante Rodoviário” De Gaulle já havia visitado o Brasil, Kruschev caíra, Jean-Paul Sartre escandalizara o mundo recusando-se a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Os “Beatles” e os “Rollings Stones” eram uma explosão mundial e, na linha deles, surgiam “The Byrds” ‘The Mamas and Papas” O “twist”, que se tomara onda a partir de 1961,já havia acabado A “bossa nova” rachara, entre músicos e cantores que se diziam da “esquerda” .. e, portanto, ativistas – e os que apenas se limitavam a fazer música. Celly Campello casava-se e abandonava rádio e televisão. Surgia Elis Regina, ainda sem estrelismo; Claudete Soares e Alayde Costa. A recém existente Televisão Globo era acusada de ser mantida pelo grupo Time-Life. Na TV Record, os programas “O Fino da Bossa”, “Bossaudade”, “Jovem Guarda” àcom a explosão de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléia – eram grandes atrações. E a Record daria início aos Festivais da Música Popular Brasileira: Geraldo Vandré, com “Disparada”, e Chico Buarque de Hollanda, com “A Banda”, eram os grandes vencedores, dividindo o país na escolha da música preferida. Os operários e os sindicatos protestavam contra a criação do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) que substituía a estabilidade no emprego após 10 anos de serviço.

Com a queda de Adhemar de Barros, os “ademaristas” entravam em sua lenta agonia, caminhando para o seu extermínio como força política. O “ademarismo” provava ser apenas a influência de um homem. Sem ele, desaparecia. Morto o rei, viva o rei – e, assim, Laudo Natel passou a manobrar para assumir a herança de um populismo decadente. Em Piracicaba, os “guidotistas”, finalmente, podiam afirmar que tinham todo o controle político: na Prefeitura, com Luciano Guidotti; na Câmara Municipal, com os vereadores eleitos pelo PR, os “laudistas”, mais o vereador Francisco Antonio Coelho, do antigo PDC, um “guidotista” assumido, que chegaria à Presidência da Câmara. Todos eles mantinham excelentes relações com o 5ºG-CAN, de Campinas, que era, na realidade, de onde emanavam ordens e decisões. Nomeações, indicações – junto ao governo do Estado – passavam a acontecer apenas com a autorização e concordância de João Guidotti. Por sua vez, Domingos José Aldrovandi – líder “ademarista” – entrava em colisão com Luciano Guidotti, rompendo um relacionamento anterior de muitos anos. E acontecia o que parecia impossível. Domingos José Aldrovandi e Francisco Salgot Castillon, adversários tradicionais, finalmente se uniriam na mesma legenda, a ARENA que, com o MDB, tinham sido criados em substituição aos partidos extintos pelo Ato Institucional nº 2, do Presidente Castello Branco e das forças militares.

Os políticos tinham que se acomodar nos novos partidos. E, em Piracicaba, as acomodações se fizeram ao sabor das questões municipais, conforme interesses puramente paroquiais, sem qualquer identificação ideológica em relação ao governo militar que se havia instalado.

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