A HISTÓRIA QUE EU SEI (XV)

O governo de Samuel
Ao chegar à Prefeitura, as dificuldades de Samuel de Castro Neves eram muitas, agravadas por seu estado de saúde e pelo fato de – conforme mantivera acertado com os partidos que o haviam apoiado – dedicar o período da manhã para o atendimento de ”’seus doentes”, pessoas pobres e desassistidas. Assim, era como se Piracicaba tivesse dois prefeitos: pela manhã, era Benedito Rodrigues de Moraes, o “Ditoca”- homem difícil, austero, de temperamento obstinado – quem acompanhava os trabalhos da administração. No período da tarde, era Samuel Neves, que tinha, em seu filho Alfredo, o “dr. Alfredinho”, um conselheiro competente, diplomático, habilidoso. A família Castro Neves houvera recebido, do Governador Adhemar de Barros, no final dos anos 40, um Cartório, na Cidade Alta, então sob a direção de outro filho de Samuel, o Samuel Filho, “Samuelzinho”, cujo grande “hobby” era dirigir a S.R. Palmeiras, o “Palmeirinha” da Cidade Alta.

A grande obra de Samuel de Castro Neves foi a encampação do serviço de águas pela Prefeitura. Naqueles tempos, era a “Empresa Electrica” que mantinha os serviços de transporte público, água e luz. Luiz Dias Gonzaga havia encampado o serviço de bondes. Samuel de Castro Neves encampava o serviço de água, preocupado, como médico e sanitarista, com o mau atendimento que era prestado à população. Para isso, Samuel Neves conseguiu um empréstimo do Governo de São Paulo, com o apoio do Governador Lucas Nogueira Garcez. A situação financeira do município era calamitosa. A “Empresa Electrica” não estendia, desde muitos anos, um metro sequer de canos para o serviço de água domiciliar. E Piracicaba crescia, ia-se expandindo principalmente pelas alturas da Cidade Alta, com novos núcleos urbanos como o da Cidade Jardim, terrenos de propriedade de Mário Dedini que tinham sido loteados, em grande projeto de urbanização, por Romeu Italo Rípoli.

O furor imobiliário de Romeu Rípoli, aliás, iria trazer-lhe grandes dores-de-cabeça, pouco tempo depois, quando por vingança de João Guidotti, seu desafeto político e pessoal até o fim da vida – a zona de meretrício de Piracicaba foi apelidada de “Ripolândia”. Ocorria o seguinte: Romeu Rípoli era famoso por suas conquistas amorosas, quase sempre envolvidas por grande repercussão pública. Fazia, ele, o tipo conquistador, o “D.Juan”. Aconteceu, então, que Rípoli também fez um loteamento, o Jardim Brasil, próximo à Paulicéia, onde, para valorizar o empreendimento, construiu uma casa razoável. Aquela casa Rípoli vendeu-a para Maria Benedita Penezzi, que viria a ser vereadora em Piracicaba. E ela, a “Ditinha”, vendeu, algum tempo depois, a casa para uma certa Yvone (Ruth) Mansur, que viria a ser famosa e poderosa exploradora do lenocínio em Piracicaba. Transformado em zona do meretrício, o Jardim Brasil foi logo apelidado por João Guidotti, por vingança política, como “Ripolândia”. E aquele lugar viria a se tornar palco obscuro de muitos acontecimentos políticos, alguns deles determinantes para os destinos políticos administrativos de Piracicaba.

*CONTINUA

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