Piracicaba, uma das forças da Revolução Constitucionalista de 1932

Foi o piracicabano Francisco Morato que, em 1931, lançou o manifesto “À Nação”, rompendo com Getúlio Vargas, deflagrando o movimento constitucionalista comandado por São Paulo. No manifesto, aprendido pela polícia, o dr. Morato expõe a situação de São Paulo, “rica e civilizada cidade da federação de ontem, hoje presa de guerra, amanhã toda desbaratada”. Está preparado o terreno, a rebelião paulista se aproxima. Em 23 de maio de 1932, acontece a morte dos estudantes Miragaia, Márcio, Dráusio e Camargo ( o MMDC). O tribuno Ibrahim Nobre pronuncia a sua poderosa oração que se tornará um clássico paulista: “Minha terra, minha pobre terra!” A revolução explode e, imediatamente, Piracicaba adere. Serão piracicabanos os mais aguerridos batalhões paulistas.

Pegando em armas

A pressão sobre Pedro de Toledo, que assumira o governo de São Paulo convocado por Getúlio Vargas, era grande. Exigia-se, dele, que governasse com mãos firmes, impedindo o descontentamento paulista. Getúlio ameaçava com intervenção. Em seu governo, Pedro de Toledo chamara, entre outros, homens de estirpe como Godofredo da Silva Telles, Waldemar Ferreira e, para a pasta da Fazenda, o piracicabano Paulo de Moraes Barros, que acabariam exilados em Lisboa. . Com a morte dos estudantes, os paulistas exigiam uma reação. No dia 9 de julho, nos portões do Palácio dos Campos Elíseos, na Avenida Rio Branco, o povo se aglomerava. Pedro de Toledo, com lágrimas nos olhos, falou: “Eu fico com São Paulo”. Está iniciada a revolução.

Em Piracicaba, a reação é imediata. No Hotel Rex, em São Paulo, Fernando Febeliano da Costa e Otávio Teixeira Mendes tinham-se reunido para preparar Piracicaba para a revolta. O quartel de Pirassununga rebelou-se antes. No dia 10, Samuel de Castro Neves, Fernando Febeliano da Costa, Luiz Alves Filho organizam o Clube Político para abrigar os revolucionários. No dia 12 de julho de 1932, é instalado o Quartel General dos revolucionários no Grupo Escolar Moraes Barros. Homens e mulheres começam a se alistar.

A figura de Branca de Azevedo – professora enérgica – emerge com força. Dos altos do Teatro Santo Estevão, Branca de Azevedo convoca a juventude piracicabana para a luta pela constitucionalização do Brasil. Ela cria o comitê feminino MMDC do qual é presidente, e tem como companheiras as professoras Olívia Bianco e Eugênia da Silva, fazendo seu QG, com a Cruz Vermelha, no Teatro Santo Estevão. Doze mulheres piracicabanas partem para o front, fazendo parte do Corpo de Saúde sob a direção do dr.Nelson Meirelles.

O corpo médico é formado por Nélson Meirelles, Caio Leitão, Luiz Gonzaga de Campos Toledo (dr.Lula), Zeferino Bacchi, José Rodrigues de Almeida, Darwin A. Viegas Dentosas, João Dias de Aguiar e José de Toledo Noronha. Farmacêuticos: Pedro Alcântara Chagas, Antonio Oswaldo Ferraz, Morel Rodrigues dos Santos.

O Batalhão Piracicabano

Somam centenas os voluntários piracicabanos. O primeiro batalhão, com cerca de 600 voluntários, parte no dia 16 de julho, saindo às 14h50 em trem especial da Estrada de Ferro Paulista, o povo delirando em alas postadas desde a Igreja Matriz até a estação, lançando flores sobre os voluntários. Em frente à Empresa Eléctrica – rua Boa Morte, ao lado da Matriz – o Cônego Rosa e o Padre Jerônymo Gallo procederam à benção da bandeira do batalhão. As

bandas “União Operária” e “Capitão Lorena” precedem os voluntários, tocando hinos patrióticos.

O prefeito Luiz Dias Gonzaga quer que o grande tribuno Sebastião Nogueira de Lima faça o discurso de despedida, mas o entusiasmo do povo, os gritos e os cânticos, não permitem orações. Há confiança na vitória paulista. O prefeito Luiz Dias Gonzaga, tão logo o trem dos voluntários partiu, enviou telegrama a Pedro de Toledo, Francisco Morato, Paulo de Moraes Barros comunicando que Piracicaba começava a participar, efetivamente, da grande epopéia. O segundo batalhão, com mais 200 homens, sairia no dia 24 de julho.

O destino, onde se aloja o batalhão, é o quartel de Quitaúna, supervisionado pelo General Bertholdo Klinger. De lá, segue para Cruzeiro, sendo ovacionado em cada estação por onde passa o trem: Taubaté, Caçapava, Queluz. Octávio Teixeira Mendes, diante da limitação das armas paulistas, inventa a “catraca”, que passará a ser conhecida como “matraca”, que imitava tiros de metralhadora. com grande poder de fogo.

A historiadora Maria Celestina Teixeira Mendes relata toda essa saga, da qual seu pai foi um dos líderes, com detalhes, em seu livro “Otávio Teixeira Mendes e sua Piracicaba. Nele se descreve a “catraca” inventada, arma que passou a ser conhecida como “matraca”, havendo um modelo da invenção no Museu Histórico de Ribeirão Preto.

A derrota será inevitável, os paulistas serão vencidos, mas a Revolução de 1932 marcará o Brasil obrigando Getúlio Vargas a elaborar uma nova Constituição. O Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes guarda as lembranças e os nomes dos heróis desse movimento, centenas de voluntários piracicabanos que participaram da revolução paulista. O General Euclydes Figueiredo – um dos chefes do movimento – iria apontar um dos feitos dos piracicabanos, que foi a vitória, obtida no dia 15 de setembro, contra o 19o. BC, em Morro Vermelho.

Piracicabanos exilados

A derrota dos paulistas condenou ao exílio muitas das suas principais lideranças. Entre os piracicabanos, foram Paulo de Moraes Barros e Francisco Morato as grandes vítimas. O dr.Paulo foi para Lisboa juntamente com o governador Pedro de Toledo e todos os membros de seu gabinete. Francisco Morato asilou-se primeiramente também em Lisboa, indo, depois, para Paris. O livro do falecido desembargador e ex-juiz na comarca de Piracicaba, dr. Luiz Roberto de Almeida, “A época de Francisco Morato”, faz a narrativa do drama pessoal e familiar de Francisco Morato com a derrota da revolução paulista. O dr. Morato fora levado, pela polícia da ditadura, à prisão da rua Frei Caneca, no Rio, depois para a prisão do Meyer.

2 comentários

  1. Guilherme Oliveira Santos Ferraz de Arruda em 12/07/2019 às 10:02

    Muito interessante conhecer a história dos piracicabanos participantes da Revolução de 1932

  2. Edson em 05/01/2021 às 13:55

    Apenas um observação : os MMDC não eram todos estudantes como afirma o texto.

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