Thales Castanho de Andrade, 130 anos (3)

Minhas lembranças de Thales de Andrade

A-Filha-da-Floresta

“A Filha da Floresta”, uma das obras de Thales, em defesa do meio ambiente.

O conhecido e festejado escritor piracicabano Thales Castanho de Andrade, que comemora 130 anos de nascimento e cuja memória vem sendo alvo de expressivas homenagens das instituições culturais da cidade, deixou como legado um acervo enorme de livros voltados, de modo especial, às crianças, cuja lembrança permanecesse inesquecível.

Tive o privilégio raro de conhecer pessoalmente esse ilustre piracicabano, que dedicou toda a sua vida à causa da educação, mostrando que a mente infantil é o melhor terreno para, nele, serem lançadas as sementes da bondade, do amor, da tolerância, da solidariedade, do civismo, do patriotismo e respeito para com a natureza.

Iniciava-se o ano de 1957, quando fui admitido a trabalhar no nosso querido e centenário Jornal de Piracicaba, como revisor, após concorrer com diversos pretendentes, em um teste realizado pelo próprio diretor, o saudoso médico e competente jornalista Dr. Fortunato Losso Netto. Conhecia Thales de Andrade de nome e da leitura de alguns dos seus livros, mas a figura humana impressionou-me. Estatura mediana, cheio de corpo, rosto risonho, semblante sereno, andar compassado, adentrava o longo corredor que levava à sala da redação do “Jornal”, que funcionava, à época, na Rua Moraes Barros.

Sentava-se na poltrona, ali existente, e punha-se a conversar com o Redator Chefe, Severiano Alberto Ferraz Filho, apelidado “Nenê”. A mesa da revisão ficava no canto da sala e, de lá, era possível ouvir, por vezes, alguns trechos da conversa. Thales era uma simpatia. Teria, nessa época, pouco mais de sessenta anos e já havia ocupado diversos e importantes cargos na área da Educação do Estado. Sentava-se, às vezes, na mesa de revisão e conversava conosco – éramos dois; revisor e acompanhante – perguntava do serviço, o que estudávamos, em que escola, que profissão pretendíamos seguir. Sua simpatia era contagiante.

A redação do “Jornal” era ponto de encontro dos intelectuais da cidade. Por lá passavam os professores Archimedes Dutra, Demósthenes Santos Correa, Benedicto de Andrade, Joaquim do Marco, Pedro Krahenbuhl, Newton de Mello, autor do Hino de Piracicaba, Catedráticos da “Luiz de Queiroz”, e outras figuras importantes da vida cultural da cidade. A redação do “Jornal” era ponto de passagem obrigatória dos intelectuais e acadêmicos da cidade naqueles tempos. Thales de Andrade não fazia exceção.

No entanto, conhecendo os livros de Thales de Andrade, seu carisma, podemos entender agora, passados mais de 50 anos, a importância de sua obra voltada para a formação infantil. Seu culto à natureza, sua defesa intransigente ao meio ambiente, aos animais, à flora e à fauna. Foi o pioneiro dos chamados ambientalistas de hoje, pois, há mais de cem anos, já tinha a preocupação com a proteção do ecossistema. Seus livros o dizem.

De maneira simples, afável, mas firme, mostrava os perigos que rondavam a natureza, com queimadas, poluição dos cursos d’água, tentando incutir nas crianças uma consciência ecológica, o amor e defesa das plantas e dos animais. Os grandes crimes ecológicos cometidos pela humanidade durante o século XX, em nome do progresso, do desenvolvimento, e do lucro, não teriam ocorrido, se as lições deixadas pelo mestre Thales de Andrade pudessem ser estendidas através do planeta.

Thales, o piracicabano visionário, merece de todos nós o carinho, a compreensão e o respeito, pois ele plantou, no coração de milhares de crianças, a semente do amor às coisas da natureza.

Ao mestre Thales, a minha singela homenagem e imorredoura gratidão.

*Antonio Messias Galdino, advogado e jornalista.

[texto publicado, originalmente, no caderno especial produzido pelo jornal “A Tribuna Piracicabana”, em comemoração aos 130 anos de nascimento do escritor piracicabano Thales Castanho de Andrade – considerado o pioneiro da literatura infanto-juvenil brasileira]

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