CARLOS José de Arruda BOTELHO

Para muitos, o que se conhece de Carlos Botelho, ou Arruda Botelho, são seus méritos indiscutíveis como médico. Para outros, trata-se do filho de um dos fundadores da cidade de São Carlos do Pinhal, hoje apenas São Carlos, o também piracicabano Antônio Carlos Botelho. . Há, ainda, quem dele se lembre como senador e político eleito por São Paulo.

Mas Piracicaba merece conhecer sua vida dentro do contexto de importância daquilo que Carlos José de Arruda Botelho fez por ela, sua cidade natal. Foi em Piracicaba que ele nasceu, em 1855, filho do conde do Pinhal e de Francisca Theodoro Botelho, embora ainda criança tenha se mudado para a Fazenda Pinhal, na região de São Carlos. Antes de se fazer político e estadista, seguindo a tradição familiar, Carlos Botelho formou-se, entretanto, em Medicina, tendo estudado em Montpellier e Paris. Foi dele o primeiro hospital particular de São Paulo, fundado à rua do Gasômetro. Foi um dos primeiros urologistas a operar no Brasil e teve, entre seus discípulos, Arnaldo Vieira de Carvalho – hoje, conhecido apenas como “Dr. Arnaldo”, nome dado a avenida – respondendo ainda, como primeiro diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

No entanto, com sua formação mais ampla, e tendo sido criado em meio às fazendas de café e pecuária, chegou a Secretário da Agricultura em 1904, a convite do presidente da Província de São Paulo, Jorge Tibiriçá. Carlos Botelho se caracterizava, também nesta área, pelas marcas de seu pioneirismo : foi quem trouxe o primeiro grupo de imigrantes japoneses ao Brasil, introduzindo o sistema de irrigação nas culturas de arroz. E, mais tarde, trabalhou no projeto de saneamento de Santos, no projeto de ajardinamento do Museu do Ipiranga, no incentivo ao ensino profissional agrícola , na organização do programa de Estatística Agrícola

e Zootécnica.

Foi neste período, que Carlos Botelho dedicou especial atenção a Piracicaba. Ao lado de Jorge Tibiriçá deu formas ao sonhos de Luiz de Queiroz, garantindo que o Estado respondesse pelo planos de implantação da Escola de Agronomia, cujo projeto fora paralisado anos antes. E ambos inauguraram o prédio principal, em cuja solenidade Carlos Botelho foi enfático: “foi-me fácil transformar as ruínas que aqui se encontravam neste suntuoso templo que hoje se ergue à Ciência Agronômica.” Na ESALQ criou, ainda, durante sua gestão como Secretário da Agricultura, o posto zootécnico, as oficinas de ferreiro, carpinteiro e selheiro; assentou descascadores de algodão, prensa hidráulica e outras máquinas, construiu a leiteria, apiário, horta, pomar, parque.

Em 1905, a Câmara de Piracicaba aprovou que a avenida, dando acesso à Escola Agrícola, passasse a levar o seu nome, Carlos Botelho. Em muito, ele próprio contribuíra para a construção desta avenida de um quilômetro de extensão, ladeada de eucaliptos, via de acesso ao hospital de hansenianos, em São Paulo. Em vida, uma das últimas homenagens que recebeu foi de ter sido escolhido como paraninfo dos formandos da ESALQ de 1940. Faleceu na Fazenda do Pinhal, em São Carlos, aos 92 anos de idade, em 1947. A Fazenda, atualmente, é mantida por uma fundação que atua no sentido de preservar seu valor histórico: além de manter intacto o patrimônio arquitetônico, os pomares, áreas de secagem de café, tem incentivado parcerias com universidades e instituições de ensino no sentido de pesquisar a época da família Arruda Botelho e sua importância para o país, em termos políticos e na área agrícola.

(Dados biográficos extraídos do livro “Medicina em Piracicaba”, de Oswaldo Cambiaghi, 1984).

Ilustração: A fazenda do Pinhal, em pintura de Benedito Calixto (1900), preservada na sala central da sede (reprodução de publicação Fazenda Pinhal)

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