Felix Bonilha, Nhô Lica

“Nhô Lica” continua vivo no imaginário popular piracicabano.Dos nossos tipos populares, ele foi o que mais permanece na lembrança do povo, figura mítica e inesquecível. Mas quem foi “Nhô Lica”?

S.Ferraz, o jornalista Sebastião Ferraz , conta: “O nome dele era Felix do Amaral Mello Bonilha. E, conformecolhi nos arquivos de Jair Toledo Veiga, era o segundo filho do casal Martim Alves Bonilha e Maria Augusta de Amaral Melo, famílias honradas e de renome. A data de nascimento é incerta, mas supõe-se que no dia 17 de janeiro de 1863, pois, no assentamento de batismo – assinado pelo padre Joaquim Cipriano de Camargo – está registrado: “Aos cinco de março de mil oitocentos e sessenta e três, baptizei e puz os santos óleos a FELIX, de quarenta dias, filho legítimo(…)”

Prossegue S. FERRAZ:

“Felix teria ficado órfão de mãe aos onze anos, frquêntando os melhores colégios de Piracicaba onde obteve boa cultura, falando correntemente o francês. Tanto assim foi que Delphim Rocha Neto lembra que “Nhô Lica” era primo de sua mãe, dona Eufrosina do Amaral Melo Rocha, e ambos ficavam conversando em francês.Consta que Felix chegou até mesmo a lecionar essa língua. Gostava de se vestir bem e de danças, levando, porém, vida regrada. Aos 23 anos, ingressou na Igreja Metodista, motivado, pelo que diziam as pessoas mais próximas, pelas palavras de um conferencista. Em 1892, no entanto, desligou-se da igreja.”

Atingido por um raio

Quando, como, onde, então, Felix do Amaral Melo Bonilha se desequilibrou, tornando-se o “Nhô Lica”?

S. Ferraz conta a versão que explica a transformação: “Ele gostava muito de caçar. E, numa de suas caçadas solitárias, teria sido atingido por um raio, ficando desacordado por longo tempo. Os familiares, preocupados com a sua ausência, foram procurá-lo e o encontraram no meio do mato, atoleimado, falando coisas. Levaram-no a médicos, ele foi submetido a tratamento mas nunca mais voltou ao que era. Abandonou tudo o que fazia – inclusive o comércio – e se tornou um homem cheio de manias.”

Histórias

Nacionalista fanático, “Nhô Lica” brigava – lembra-se S. Ferraz – com quem lhe dissesse que “os comunistas iriam tomar conta de Piracicaba”. A bengala lhe servia não apenas de instrumento de garimpagem, mas, também, de ataque e de defesa. Era com ela que “Nhô Lica” espantava a criançada que o perseguia com zombarias, sendo sempre lembrado o dia em que, num ponto de táxi ao lado da Catedral, “Nhô Lica” machucou um motorista que o provocara.

Corria a história de, no passado,“Nhô Lica” ter quebrado um violão na cabeça de um delegado que tentara prendê-lo. A partir daquilo, para provocar a ira do nosso “Fernão Dias, catador de esmeraldas”, bastava que, perto dele, se cantasse a música famosa da época, “Quem quebrou meu violão de estimação?” E outras histórias passaram para o folclore da cidade, como das riquezas que “Nhô Lica” inventava ter.

Certa vez, pedindo que lhe pagassem um café, o conhecido, brincando, lhe perguntou: “Mas como, pedir um café, você, tão rico, dono de Monte Alegre?”O notável “Nhô Lica” não se abalou: “É que, hoje, estou sem cheque do Banco do Brasil…”

O fim

“Nhô Lica” morreu solitariamente no Lar dos Velhinhos. Era 17 de junho de 1954. No dia 19, S.Ferraz – com o pseudônimo de Raul de Sá, dedicou-lhe emocionada crônica, ao “Maior Colecionador de Pedras Preciosas”. Piracicaba, por iniciativa de Esio Toledo Martins, mobilizou-se paradar-lhe um túmulo digno. Com subscrição popular, comprou-se o túmulo de “Nhô Lica”, na rua 3,n.33, do Cemitério da Saudade. Na lápide, a inscrição: “Aqui repousa Felix do Amaral Melo Bonilha (Nhô Lica) – Foi bom e amou sua terra. – Homenagem de amigos –1863 – 1954.”.

(Mais informações no livro “O lendário Capitão Nhô Lica”, de Francisco de A.F.Mello, edição particular, 2003.)

2 comentários

  1. jose roberto lopes cardoso em 23/11/2017 às 16:08

    muito bom saber da nossa estoria, pois minha mãe sempre falava, esta parecendo o nho lica, trazendo essas coisas para casa

  2. Marney Pascoli Cereda em 22/04/2021 às 15:45

    Minha avó, que era da familia Amaral Mello, contava que ele catava qualquer vidro na rua e levava para depositar no BB, onde recebiam, porque como o conheciam

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