Lyson Gaster: de Santa Terezinha, ao teatro de revista

“Não somente na sua terra natal, como também no Brasil inteiro, o nome da grande Lyson Gaster não pode ser esquecido”. O alerta foi da atriz Henriette Morineu, em 1977. Mas a admiração por Lyson Gaster atingiu muitos outros mitos da vida artística. Procópio Ferreira a ela se referiu como “uma pioneira, que levou o teatro aos mais longínquos e inacessíveis rincões do solo brasileiros, o nosso Anchieta de saias”, enquanto o teatrólogo Pedro Bloch enfatizou o fato de Lyson ter “emocionado grandes platéias durante muitos anos”.

Lyson Gaster, a atriz que se consagrou nos anos 30 e 40 como artista de teatro, nasceu na Espanha, em 1895, mas ainda pequena transferiu-se com os pais para o Brasil, passando sua infância e juventude em Santa Terezinha, distrito de Piracicaba. Agostinha Balber Pastor chegou com os pais entre os primeiros imigrantes vindos a Piracicaba, e que se dedicaram à lavoura. Só alguns anos depois, a família conseguiu recursos para se transferir para a cidade, onde o pai abriu um bar no Largo da Matriz.

Agostinha, como os demais irmãos, cursou o Grupo Escolar Moraes Barros, e ajudava o pai como garçonete no bar. Aos 17 anos, casou-se com Nicolau, filho de árabes que viviam do comércio de armarinhos. Em três anos, vieram dois filhos. E um ano mais tarde, a separação, motivada pelo problema de alcoolismo do marido. Começava, então, a trajetória que faria de Agostinha a atriz Lyson Gaster. Deixando os filhos com a mãe, a jovem, em São Paulo, empregou- se em uma modista, em cuja loja circulavam várias artistas de teatro. E veio o primeiro convite, através da artista Ana Kremser, integrante da Companhia South American Tour, impressionada com a beleza da jovem. Agostinha recebeu aulas de canto, ensaiou, e, em 1919, fez sua estréia em palcos paulistas com a designação de “cantante internacional”.

Inicialmente, com a Companhia Casino Antártica, Lyson excursionou por várias cidades do interior. Em 1921, ingressou na Troupe Teatro Novo para depois ser contratada pela Companhia de Revistas Zaparolli, onde realmente se transformou em estrela e contracenou com Manoel Pêra, pai da atriz Marília Pêra. No Rio de Janeiro, já integrada à Companhia Juvenal Fontes tornou-se ainda mais conhecida, através de longa temporada no Cine Íris. Eram os espetáculos que se seguiam após as sessões de cinema mudo, os chamados shows onde se encenavam as mais variadas peças.

Mas foi depois de unir-se ao ator Alfredo Viviani, que Lyson definiu também sua trajetória artística, quando ambos decidiram-se por formar uma dupla que passou a se apresentar pelo país, independente de outras companhias maiores. Anos mais tarde, formariam sua própria companhia, que levaria o nome de Lyson Gaster. Foi o conjunto nacional que mais viajou.

Durante 22 anos percorreram, como andarilhos, de trem, gaiola, avião, de Manaus ao Rio Grande do Sul. Em muitos locais, levaram o teatro pela primeira vez. Eram tempos em que o teatro de revista, ponto alto também da Cia Lyson Gaster, ganhava espaço. Ali, misturavam- se a música, a dança, piadas, teatro, muita cor e figurinos.

Em 1943, Lyson e Viviani, a convite do governo do Pará, integraram o espetáculo comemorativo ao aniversário do Estado, apresentando-se, em Belém, ao lado de Silvio Caldas, Jararaca e Ratinho, Laura Suarez, figuras das mais aplaudidas no rádio. Lyson deixou o teatro em 1950. Viviani foi contratado pela Rádio Nacional, onde permaneceu em atuação até 1963. Lyson faleceu em 1970, em Teresópolis, onde se encontra enterrada.

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