Nelson Genaro

Nelson Genaro aos 20 anos.

Nelson Genaro é um piracicabano nato. Nasceu no dia 20 de março de 1920, década em que o automóvel era a grande novidade no Brasil. Piracicaba estava em pleno desenvolvimento, com uma população de 67.732 habitantes, com grande presença de imigrantes, portugueses, italianos, sírios, alemães, que impulsionavam os negócios e o comércio na cidade. Porém, sofria dos problemas comuns à maioria das cidades do interior, como a distância da capital, falta de bancos e serviços de transporte deficientes. Entretanto, segundo Nelson Genaro, Piracicaba era bem melhor naquela época do que hoje!

Em seu aniversário de 92 anos, convidamos o senhor Nelson para um bate-papo na Estação da Paulista, um dos cartões postais da cidade de Piracicaba, e local onde ele trabalhou por mais de 35 anos. Acompanhe:

“Comecei a trabalhar na Estação da Paulista em 1940, logo após retornar da II Guerra Mundial. Fiquei no quartel do 4º Regimento na cidade de Itu, aguardando instruções, de 1942 a 1943. Eu dava plantão no quartel, os soldados com menos instrução iam pra fronteira. Quando a Guerra acabou, em 1945, retornei para Piracicaba e já comecei a trabalhar aqui na Estação da Paulista. Aqui era muito movimentado. Mais que a Sorocabana. Todos os dias chegavam e partiam trens em três horários”, relatou.

Desde 1902 há registros de pedidos para a construção de um novo ramal de trem em Piracicaba, dado ao fato do grande número de reclamações sobre a qualidade dos serviços prestados pela Companhia Sorocabana. Os atrasos e as perdas de carregamento eram frequentes.

Um novo ramal da Companhia Paulista de Estradas de Ferro foi inaugurado em 1922. A Estação da Paulista foi construída para ligar Piracicaba à cidade de Nova Odessa e, a partir daí, ligar Campinas à Estação da Luz, em São Paulo. “Na Paulista eu trabalhava como examinador de veículos e fazia a graduação do trem antes da partida. Na mesma época funcionava a Estação Sorocabana, mas não era como a Paulista. A Paulista era melhor, mais limpa, espaçosa, moderna e bonita”, diz Genaro.

Nelson Genaro também fez parte da Banda União Operária. E quando o assunto foi para “música”, ficou clara sua paixão. Entre uma história e outra, cantava um verso. E com orgulho, contou como fazia para dividir seu tempo entre o trabalho na Estação e as noites de baile. “Tocava clarineta e saxofone. Nunca deixei de tocar, fazia muitos bailes. Eram tantos chamados que quando não poderia tocar, por causa do trabalho na estação, conversava com o encarregado que me ajudava na troca de horário com algum colega e eu ia tocar no baile. Ganhava mais tocando nos bailes do que trabalhando na estação, mas nunca deixei um emprego pelo outro”, conta.

“Chegamos a tocar na Espanha, com a banda União Operária, em Barcelona e Valença. Éramos 50 músicos. Mário Dedini foi quem financiou a viagem. Era um festival com bandas de outros países, Estados Unidos, França, Itália. Éramos a única da América Latina. E quando tocamos a espanholada se animou, foi uma festa. Chegamos a tocar por mais de quatros horas seguidas”.

(Pausa)… E Nelson começou a cantar:

“Embaixo daquela jaqueira/ Que fica lá no alto, majestosa
De onde se avista a turma da Mangueira
Quando se engalana com suas pastoras famosas
Ai, foi lá, quem é que diz/ Que o nosso amor nasceu

Na tarde daquele memorável samba/ Eu me lembro
Tu estavas de sandália/ Com teu vestido de malha
No meio daqueles bambas/ Nossos olhares cruzaram
E eu para te fazer a vontade / Tirei fora o colarinho
Passei a ser malandrinho / Nunca mais fui à cidade”.

“Esse é o samba que mais gosto (Pausa)… Não lembro mais o nome nem como termina. Mas eu tenho um caderno com as partituras das músicas que eu tocava na banda”, continuou Nelson.

Fui pesquisar. O samba se chama “Meu Romance”, composição de J. Cascata (Álvaro Nunes), gravado por Orlando Silva, em 1938. E a parte final do samba segue abaixo:

“Pra gozar do teu carinho/ Naquela tranquilidade
E hoje faço parte da turma/ No braço trago sempre o paletó
O lenço amarrado no pescoço/ Eu já me sinto um outro moço
Com meu chinelo Charlote/ E até faço valentia
E tiro samba de harmonia”.

 

“Quando eu casei comecei a parar de tocar na noite. A esposa não gostava que eu ficasse fora, nos bailes. Ficava brava de ficar em casa com os filhos. Ela tinha ciúmes. Mas não precisava ter ciúmes, as mulheres não olhavam muito e se olhavam eu não dava confiança. O que adianta dar confiança e não poder pegar (risos)”, brinca Nelson.

Nelson Genaro casou-se com Ana Ricci Genaro, tiveram quatro filhos (Ana Maria Genaro, Vera Lúcia Genaro de Almeida, Sandra Maria Genaro Nicolete e José Nelson Genaro) e seis netos – Andréia Karime Marcelino Garcia, André Luiz Marcelino Garcia, Ana Paula Genaro de Almeida, Emmilyne Genaro Nicoletti, Vinicius Medeiros Genaro e Felipe Medeiros Genaro.

 

 

“Sempre morei na Rua Santa Cruz. Era um sossego. Não tinha esse movimento que tem agora. A gente saia na rua, ia pro jardim, olhar as moças que ficavam dando voltas na praça e a gente rodeava ao contrário pra ficar paquerando. A gente só ficava olhando, era difícil a gente pegar. A mulherada queria pegar o homem pra casar e os homens queriam só paquerar, mexer com as moças”, relata.

“Eu gostava daquele tempo, em que ganhávamos pouco, mas dava pra viver. Hoje tem muito roubo, crimes. De primeiro, a gente não via tanto isso ai. Todo mundo era colega um do outro, não tinha traição. A gente podia andar na rua a qualquer hora. Quando tocava em baile eu chegava em casa pra mais de meia-noite. Agora é muita malandragem, roubo e crimes. Eu sinto muita saudade. Não tem ninguém mais do meu tempo”, finaliza Nelson.

1 comentário

  1. SANDRA em 28/08/2012 às 18:54

    E ISSO AI PAIZAO,TEMPO BOM E MUITA HISTORIA PRA CONTAR UM GRANDE BEIJO,POIS NAO E PRA TODOS TER UM PAI COMO VC.

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