O talento piracicabano brilha fora daqui

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

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Wilson Sampaio

 Wilson Sampaio, violoncelista nascido em Piracicaba, estuda atualmente na Escola Superior de Música em Detmold, na Alemanha, e se prepara para uma carreira em nível internacional. Wilson é um exemplo dos talentos musicais que começaram aqui, na Escola de Música de Piracicaba, e que a província “exportou” para vários países do mundo.

A música, para Wilson Sampaio, esteve presente desde cedo, começando a estudar violoncelo aos sete anos, mas ele reconhece que a influência da mãe, a pianista Bernadete Sampaio, foi importante: “Eu sempre gostei de ouvir música clássica, mas os pais tem que forçar um pouco, pois mesmo que eu preferisse brincar, é indispensável se transmitir que, para ser músico, além do talento, é necessário muita disciplina”.

Iniciando seus estudos quando ainda era criança, a coisa começou a ficar mais séria para Wilson Sampaio a partir dos 13 anos. “Foi quando — diz ele — comecei a ganhar vários concursos e fiz meu primeiro solo como vencedor do concurso de Jovens Instrumentistas. Então, começaram a aparecer várias oportunidades de apresentaçóes no Festival de Inverno de Campos do Jordão”.

A partir daí, foi inevitável que várias pessoas ligadas aos meios musicais dissessem para seus pais: “O menino tem talento, porque ele não vai estudar no exterior?”. Aliado ao fato de que o próprio músico também desejava sair de Piracicaba, a viagem logo se concretizou. E, neste ponto, Wilson Sampaio aborda uma questão importante. “Tocar apenas no Brasil, não dá. Quando um músico atinge um certo nível, tem que sair para estudar em outros países onde a tradição musical é mais forte. Acontece que, infelizmente, o Brasil ainda não tem condições de apoiar as artes”.

Assim, com apenas 15 anos, o músico teve sua primeira experiência internacional, saindo de Piracicaba diretamente para Nova York. Apesar de reconhecer que a viagem foi “excelente, do ponto de vista profissional”, Wilson Sampaio diz que, pessoalmente, foi um choque.

“Foi dificil em Nova York, uma cidade maluca, onde eu não encontrava sossego e me dispersava muito. Além disso, aqui em Piracicaba, eu era o garoto talentoso, o único, e lá se reúnem os melhores do mundo”.

A experiência norte-americana durou dois anos e meio, até o momento em que o professor com quem estudava morreu, e ele não encontrou mais incentivo. Voltou então para o Brasil, onde ficou seis meses, até que surgiu o convite para a Alemanha. Lá, Wilson tem aulas com um professor também brasileiro, Márcio Carneiro, o que, segundo ele, “é bom para se estabelecer uma boa relação entre professor e aluno, mas, mesmo que nós não fôssemos do mesmo país, sinto que na Alemanha há uma atenção maior para com os alunos”.

O contato com a Alemanha parece que tem sido bem mais positivo para o violoncelista. Mesmo reconhecendo que “o choque de estruturas foi muito grande”, Sampaio entende que isso é importante para o músico. “O alemão é um povo de tradição e cultura musicais mais forte e o que transmite é basicamente a necessidade de disciplina e seriedade”. Além disso, o choque pessoal não foi tão marcante. Detmold, onde ele vive, é uma cidade pequena e ele mora numa Casa de Estudante, onde tem um relacionamento grande com músicos de vários países.

Para terminar os estudos na Alemanha ainda faltam uns três anos, pois também faz matérias teóricas. E Wilson acha cedo para se responder se pretende continuar carreira no Brasil ou na Europa: “Eu quero chegar no mais alto nível profissional possível, aí depois eu decido. Quero tentar uma carreira internacional, mas sei que isso depende de muitas coisas, também é preciso sorte e conhecimentos, além do talento”.

De férias em Piracicaba, foi inevitável para ele o contato com músicos que estão começando carreira e o vêem como um exemplo a ser seguido. “Hoje diz Wilson quando a criançadinha vem me pedir conselho, eu digo que se pudesse fazer tudo de novo, não teria tanta pressa. Digo que é importante o músico ir para o exterior, mas uma boa idade seria com 18 ou 19 anos, depois de terminar o colegial”.

Mas, mesmo afirmando que pretende voltar pelo menos uma vez por ano a Piracicaba, se alguém perguntar a Wilson Sampaio se ele tem saudades da província, a resposta será clara: “Não, nem um pouco!”.

Talentos exportados

Vários outros músicos começaram na Escola de Música de Piracicaba e hoje desenvolvem carreiras brilhantes no exterior. Outros estudaram fora, mas voltaram ao Brasil, onde também ocupam posições de destaque.

Cláudio Mahle, por exemplo, ingressou em 1978, aos 16 anos, na Nordwestdeutsche Musikakademie, em Detmold, na Alemanha (mesma escola onde estuda Wilson Sampaio) e se formou com nota máxima em violino em 1985. Tem atualmente uma sólida carreira de músico na Europa, onde, neste ano participou do Curso Internacional de Férias, em Lion, na Suíça, tocando na Orquestra de Câmera de Detmold, sob a regência de Tibor Varga. Como assistente do maestro Varga, lecionou violino, no mês passado, para crianças super-dotadas no Curso de Romano, na França.

Também na Alemanha está o oboista Paulo Rogério Arantes, que começou a estudar na EMP com Davino da Rosa e Luis Carlos Justi e foi para lá estudar com o professor Ingo Goritzk, morando até hoje na Alemanha.

Caio Carneiro Filho iniciou a carreira estudando violino com o professor Olênio Veiga. Estudava na Faculdade de Engenharia em São Paulo, mas a vocação musical foi mais forte e ele foi para a Alemanha em busca de um aperfeiçoamento. Lá, passou a estudar viola e hoje é violista numa Orquestra Sinfônica na Suíça.

Na Holanda, estão Luiz Fernando e Paulo Celso Guimarães Sousa. Luiz Fernando era professor de oboé na Escola de Música de Piracicaba e nos Conservatórios de Jundiaí e Carlos Gomes, de Campinas. Atualmente faz o curso de oboé no Conservatório Real de Haia. Paulo Celso fazia parte, como violinista, das Orquestras Sinfônicas da EMP e de Campinas. Atualmente, na Holanda, faz um curso de especialização em violino barroco no Conservatório de Rotterdam e também atua na orquestra do Conservatório Real de Haia, tocando como convidado em orquestras da região.

Marcos de Castro Kiehl estudou flauta em Piracicaba com Rafael Gobeth e Ernst Mahle, em São PauIo com João Dias Carrasqueira e Grace Bush e na Unicamp com Tadeu Coelho. No ano passado, viajou aos Estados Unidos a convite do flautista americano Keith Underwood e atualmente estuda na Manhattan School of Music.

Luiz Carlos Justi fez todo o estudo de música na EMP. Chegou a freqüentar a ESALQ por alguns meses, mas preferiu o oboé. Foi, então para a Alemanha, onde cursou a Escola Superior de Música na classe do professor Ingo Goritzk. Voltou ao Brasil e atualmente é o primeiro oboista da Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro. Paulo Justi começou os estudos de fagote com Ernst Mahle, participou de vários cursos de férias e foi professor no Festival de Inverno de Campos do Jordão. Estudou fagote em Hannover na Alemanha e hoje toca na Orquestra Sinfônica de Campinas.

Washington Barella também se iniciou na Escola de Música de Piracicaba, indo depois se aperfeiçoar na Alemanha, onde fez o curso na Escola Superior de Música de Hannover. Voltou ao Brasil e atualmente é o primeiro oboista da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. A pianista Maria Helena Peixoto Ferraz fez cursos nos Estados Unidos com Luiz Carlos de Moura Castro e também estudou em Portugal e na Espanha, sendo atualmente professora da EMP. A violinista Mayra de Oliveira Lima aperfeiçoou seus estudos nos Estados Unidos e hoje está na Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo.

Além disso, a Escola de Música de Piracicaba conta com vários ex-alunos integrando a Orquestra Sinfônica de Campinas. Atuam sob a regência de Benito Juarez, além de Paulo Justi e Washington Barella, o violoncelista Érico de Amaral, as  violinistas Maria de Lourdes Justi e Mara Granado, o violista Marcos Rontani, o fagotista Francisco Amstalden e o contrabaixista Walter Valentin. Cynthia Pinotti já substituiu, na regência, a Benito Juarez e é regente do Coral da Prefeitura de Campinas.

São alguns dos muitos nomes de piracicabanos que fazem sucesso fora de Piracicaba.

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A reportagem, de 1987

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