Os verdes anos de Prudente de Moraes

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Retrato do primeiro presidente civil

Os adversários chamavam-no de “biriba”, como, depreciativamente, eram chamados os que nasciam no Estado de São Paulo. E, quando candidato a Presidente da República, Prudente de Moraes ouviu os mesmos adversários chamando-o de “caipira de Piracicaba”, escandalizados diante da possibilidade de um caipira chegar à chefia da República. Chegou. E se tornou “O Pacificador”. O Brasil viu, então, a honradez e a dignidade que brotavam de um “biriba”, do “caipira de Piracicaba”.

Prudente José de Moraes Barros nasceu em Itu, no dia 4 de outubro de 1841. Os pais – José Marcelino de Barros e Catarina Maria de Moraes – eram agricultores, pertenciam a uma elite paulista cuja linhagem remonta a antigo tronco português e, também, a caciques indígenas brasileiros, como Tibiriçá. (v. árvore genealógica).

José Marcelino e Catarina Maria, quando Prudente José nasceu, tinham os filhos Frederico José, Fernando José, Joaquim José, Manoel e Cândida. A vida da família girava em torno da então pequena Itu, nos campos de Pirapitingui, onde o centro da comunidade era a igreja matriz de Nossa Senhora da Candelária, construída em 1780 pelo padre João Leite Ferraz.

José Marcelino criava gado em sua fazenda, fornecendo-o às cidades próximas, como São Paulo, Santos, Sorocaba, na dura vida de tropeiro. E foi numa dessas viagens que a tragédia aconteceu para a família dos Barros e Moraes: um escravo da família, nas proximidades da cidade de São Paulo, no bairro dos Moinhos, assassinou José Marcelino. O menino Prudente José tinha apenas dois anos de idade. Sem nada conhecer da vida, conhecia a orfandade paterna. A responsabilidade total da casa e da família recaía, então, sobre os ombros ainda jovens de Catarina Maria, a mãe.

Infância, estudos, mocidade

A infância de Prudente de Moraes transcorreu sem grandes sobressaltos na cidade de Itu. Seus primeiros estudos foram feitos no Colégio Ituano e, com 13 anos de idade, ingressou na escola do Mestre Manoel Estanislau Delgado, afamado professor e orientador da época. Os estudos com Mestre Estanislau, no entanto, não lhe bastam. Prudente quer mais. Sua mãe, a essa época, se casara novamente, com o também viúvo Caetano José Gomes Carneiro. E é o padrasto quem tenta impedir Prudente José de prosseguir os estudos conforme sonhava, na cidade de São Paulo, capital da Província.

Catarina Maria, contrariando o marido, estimula e ajuda Prudente a transferir-se para São Paulo onde estuda no Colégio de João Carlos Fonseca.

Prudente José mergulha, então, em seus estudos, interessando-se por direito e filosofia. Com 18 anos, em 1859, Prudente ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo, as já famosas “Arcadas”, onde há uma ebulição de idéias republicanas e abolicionistas. Passa a interessar-se por atividades políticas, tendo como colegas moços que se tornariam, como ele, líderes da futura República do Brasil: Campos Sales, Bernardino de Campos, Teófilo Otoni, Rangel Pestana, Francisco Quirino dos Santos.

Nesse mesmo período, os pais de Prudente José adquirem uma fazenda em Piracicaba, que passara a chamar-se Constituição, desde 1856. Passando as férias em Constituição, Prudente José se apaixona pela cidadezinha, pela região, lugar onde sua família passou a residir em definitivo. E toma uma decisão: ao concluir o curso de Direito irá montar a sua banca de advogado em Constituição, a Piracicaba cujo nome ele nunca esqueceu. Assim acontece: em 1863, com pouco mais de 22 anos, advogado, instala o seu escritório na rua Boa Morte.

A carreira de Prudente José – já conhecido como Prudente de Moraes – se consolida rapidamente. Advogado brilhante, com amizades e relações em toda a Província, o dr. Prudente recebe admiração e respeito de sua comunidade. Participa de atividades sociais, benemerentes, interessa-se por política, freqüenta grupos ligados ao seu irmão Manoel de Moraes Barros.

Prepara-se para ingressar na política. E para se casar.

A família com Adelaide Benvinda

A família Silva Gordo foi uma das mais poderosas de São Paulo, com forte presença em Piracicaba, Limeira e região. O patriarca, Antônio José da Silva Gordo, era agricultor e tenentecoronel da Guarda Nacional. Era membro do Partido Liberal e foi vereador na Câmara Municipal de Limeira, sendo seu presidente. Antônio José da Silva Gordo casara-se, em primeiras núpcias, com Francisca de Assis Negreiros que era viúva do capitão Manoel Ferraz de Campos, família que se ligou por laços familiares aos Campos Salles, Cerqueira Cesar, Ferraz Salles.

Em segundas núpcias, Antônio José se casou com Blandina e, com ela, teve seis filhos, entre os quais Adelaide Benvinda e Maria Ignez. Foi por Adelaide Benvinda que Prudente José de Moraes Barros se apaixonou, enquanto seu irmão, o Senador Manoel de Moraes Barros, se casava com a irmã dela, Maria Ignez. Os Silva Gordo marcaram a vida dos Moraes Barros. E foi em Santos – na mansão que os Silva Gordo haviam construído, como grandes exportadores de café, que Prudente de Moraes se casou com Adelaide Benvinda, no dia 28 de maio de 1866, em festa que mobilizou o mundo político e social de São Paulo. O cunhado de Prudente – meio-irmão de Adelaide – Adolpho Affonso da Silva Gordo tornou-se Senador da Primeira República, tendo estudado nas “Arcadas”, expandindo as relações familiares com descendentes do Senador Nicolau de Campos Vergueiro, casando-se com Albertina, irmã do célebre “Doutor Arnaldo”, o Professor Arnaldo Vieira de Carvalho que seria o fundador da Faculdade de Medicina de São Paulo.

A elite política paulista – e, portanto, elite com influência nacional – fazia parte do cotidiano e da família de Prudente de Moraes. E, terminadas as núpcias, Prudente José levaria sua esposa, Adelaide Benvinda, para residir em Piracicaba onde, em 1870, acabaram fixando-se na casa da rua Santo Antônio, esquina da rua 13 de maio, (atualmente, n.641, “Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes”). Prudente e Adelaide Benvinda tiveram os seguintes filhos: Prudente Filho, Antônio Prudente, Júlia, Carlota, Paula, Gustavo e Maria Amélia*.

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