Contribuição para a história do jornalismo piracicabano (1874-1930) (parte 1)

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(imagem de Rudy and Peter Skitterians, por Pixabay)

As pesquisas que realizo para colher subsídios para uma monografia sobre a imigração italiana, levaram-me a descobrir na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, uma valiosa coleção de velhos jornais piracicabanos de fins do século XIX.

O mais antigo desses jornais é O PIRACICABA, de Antonio G. Escobar, uma interessante figura de jornalista e empresário, que possuía na rua da Palma, a Tipografia Popular. Esse O PIRACICABA é de 1878 e traz ainda no cabeçalho a indicação Constituição, então o nome de Piracicaba, tratando-se, provavelmente, da segunda fase desse jornal (1).

Escobar teria sido candidato a vereador por volta de 1876 e foi responsável por vários jornais publicados em Piracicaba. Em 1878 estava publicando A DEMOCRACIA, do qual a Biblioteca Nacional possui 20 números (2). Republicano, jacobino e anti-clerical, publica tremenda diatribe contra a monarquia, regime, diz ele, com numerosa família que se trata à custa da Nação e verdadeira escola de servilismo. Essa a linha constante de sua pregação nos dois jornais acima citados, e, também, em A ALVORADA, editado por Joaquim E. A. Proença, nos quais aparece como redator, do qual a Biblioteca possui dois números datados de 1880.

Contemporâneo desses jornais é O PIRACICABANO, do qual a Biblioteca tem apenas o número 126, de 27 de fevereiro de 1878, editado por Joaquium Moreira Coelho, e, então, em seu terceiro ano de existência. Segundo Escobar, era um periódico de intrigas e adulações (3).

De 1878 é o BUGRE do qual só encontrei o número 10, cuja orientação era, também, republicana e anti-clerical (4). Em suas páginas consigna já esse jornal a presença de italianos ocupando posições importantes no comércio local, como a Alfaiataria de Francesco Midaglia, muito antes das primeiras referências e comerciantes italianos na GAZETA DE PIRACICBA, de 1882.

A leitura desses jornais permite, outrossim, desmentir uma das mais aceitas mentiras de nossa historiografia oficial, baseada em frase atribuída a Aristides Lobo. Refiro-me a versão de que a República teria colhido o povo bestializado, versão que reflete a visão etnocêntrica dos que, vivendo na Corte, no Rio de Janeiro, desconheciam o vigor das ideias republicanas em São Paulo e em seu interior. O próprio historiador José Murilo de Carvalho, em livro recente encampando essa mentira histórica, reconhece que há versões contraditórias à espera de análise crítica (5). Revelam esses jornais como era profunda em Piracicaba, em fins do século, a consciência republicana.

Notícia curiosa que aparece no número 29 de A ALVORADA é a da concessão a um cidadão de nome Barreto para construir, em 1880, uma linha de bondes elétricos entre Piracicaba a São Pedro, onde os fazendeiros se entusiasmaram com a ideia (6). Esse número traz, também, a chapa inteira dos candidatos à vereança pelo Partido Liberal (monarquista) encabeçada pelo Major Fernando Ferrez de Arruda e informações sobre reuniões de republicanos.

Uma polêmica ocupou por essa época os jornais O PIRACICABA e A DEMOCRACIA sobre um erro médico do dr. Rocha Almeida, conhecido médico local, cujo nome está em uma das ruas da cidade, o qual, apesar de assistido pelo dr. Candido Mota, médico famoso, não foi capaz de resolver um caso que o dr. Melchert, outro médico residente na cidade, que passava por Piracicaba em direção a sua fazenda soube resolver em segundos.

(continua)

Para conhecer o texto completo, acompanhe a TAG Jornalismo Piracicabano.

Referências:

(1) O primeiro número é de 3 de julho de 1874. Fundado por Brasilio Machado, pai de Alcantara Machado, então promotor em Piracicaba. Esse número fala do lançamento da pedra fundamental da Fábrica de Tecidos Arethuzina, de Luiz Vicente de Souza Queiroz.

(2) O Almanaque Administrativo, Comercial e Profissional de São Paulo de 1896 ainda se refere a este jornal. Escobar é mencionado como vereador no Manual de História de Piracicaba, de Guilherme Vitti.

(3) O seu primeiro número saiu em 11/10/1876. Circulava ainda em 1882 quando passou a bi-semanário. Existia então na cidade O PIRACICABA e O PIRACICABANO.

(4) Editado por J. A. Damasceno e J. P. Rodrigues. Era um jornal de pequeno formato.

(5) José Murilo de Carvalho, Os bestializados, Rio de Janeiro e a República que não foi, Cia. das Letras, Rio, 1993.

(6) O ramal da estrada Ituana para São Pedro só foi inaugurado em 4 de junho de 1893.

1 comentário

  1. [email protected] - Maria Lúcia em 20/04/2021 às 10:14

    Interessada na continuidade dessa pesquisa! Avós italianos nascidos na Itália ao redor de 1880 e , com seus filhos radicados em Campinas, em Piracicaba e cidades vizinhas até 1930. Distantes da primeira guerra mundial.

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