Douglas, um gênio tímido

Douglas Mayer

Douglas Mayer é paranaense, nascido em Ponta Grossa, 14 de abril de 1951. Iniciou-se no campo das artes gráficas dos jornais paranaenses e nos anos 1980 veio a Piracicaba, onde trabalhou nos jornais “O Diário” e “A Província”, tendo feito capas de livros, ilustrações para o campo publicitário e, especialmente, charges, cartuns e caricaturas para os veículos. Um dos seus trabalhos foi premiado no Salão de Humor de Piracicaba em 1980. Hoje vive em Matinhos, PR, tendo trabalhado também nos jornais A Notícia, Correio Popular e A Gazeta do Paraná.

Talvez, seja até redundância referir-se à timidez de uma pessoa genial. Pois, quase sempre, são, elas, tímidas. Ou aparentemente malucas. Que, aliás, poderia ser considerada outra redundância, já que a genialidade e a maluquice transportam esses privilegiados para um mundo diferente do dos simples mortais. Posso assegurar — no meu convívio pessoal, muito próximo e por muitos anos com ele — que Douglas Mayer era um gênio. (Deve ser, ainda.)

Foi em meados de julho de 1987 que o conheci. O jornalista, e meu amigo, Rogério Vianna — um dos mais ecléticos e competentes profissionais de quem vi o início de carreira — fez-me uma visita informal, acompanhado de um moço que, à primeira vista, parecia polaco, russo, alemão, algo assim. Cabelos quase ruivos, muito corado, pele avermelhada e um sorriso permanente nos lábios. Sorriso que parecia o de um tolo, como de quem está feliz sem motivo algum. E, além do sorriso, a mudez de um mudo. Era Douglas Mayer que — depois de um largo período nos Estados Unidos — retornara para o seu Paraná, onde ele e Rogério tinham nascido.

Douglas pouco falou, enquanto eu, animadamente, lhes contava do projeto editorial de “A Província”, o semanário que estávamos prestes a lançar. Os olhos de Douglas brilharam e percebi, de imediato, o seu entusiasmo. Ele era designer gráfico, especializara-se — já àquele tempo — nas novas tecnologias. No exterior, fora chefe de criação artística no universo digital sem, no entanto, abandonar sua vocação criadora. Douglas era um artista plástico, cartunista, caricaturista, suas pinturas em tela eram surpreendentes. E o entusiasmo dele aumentou ainda mais quando lhe disse que gostaria de o novo jornal partir de um estilo “art nouveau” modernizado, algo que superasse regra, estilos, moda consagrada.

Aconteceu de imediato. Douglas — que estava em Piracicaba apenas para visitar um amigo — decidiu ficar, participando daquela experiência que nos excitava. Tornou-se meu hóspede e, imediatamente, começamos a criar “A Província”. Seu talento brotava como uma fonte. Em silêncio, ele rabiscava, desenhava, criou uma coluna de humor, discutíamos detalhes, brigávamos até por este ou aquele traço. E, no dia 28 de agosto de 1988, “A Província” nasceu. Com um estilo redacional diferente e com um visual maravilhoso. Com assinatura de Douglas Mayer.

Sua coluna de humor fez grande sucesso: satírica, delicada, sutil, mas de uma expressividade que incomodava. Devo dizer que, sem Douglas Mayer, “A Província” não teria feito todo o sucesso que fez e, se hoje estivesse conosco, o jornal, agora eletrônico, seria um novo laboratório para a genialidade de um artista que Piracicaba não chegou a conhecer por inteiro. Atualmente, solitário, vivendo numa praia quase deserta no litoral catarinense, certamente pintando o seu mundo interior tão semelhante ao da própria natureza.

 *Cecílio Elias Netto, Editor de “A Província”

[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]

Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum.

Deixe uma resposta