Engenheiro do Cartum
Quando fui convidado para participar deste novo projeto cultural da AHA, Associação dos Amigos do SaIão de Humor, anexo ao convite veio um recorte amarelecido do jornal “O Diário”, de 1981, onde o jovem Eduardo Caldari, ao lado do meu amigo, um dos fundadores do Salão Internacional, do Salão da Unimep e agora na presidência da AHA, Adolpho Queiroz, me fazia a memória voltar aos anos 80.
No nosso velho e querido ginásio “Sud Mennucci”, houve uma mostra estudantil, vencida por Caldari. Memórias de um tempo de construção, onde o Salão de Humor de Piracicaba emerge como uma das mais fecundas realizações que engrandecem o nome da cidade.
E lá fui conhecer o personagem do meu biografado e sua obra. Um engenheiro mecânico? Pensei com os meus botões. Como é possível um engenheiro mecânico virar cartunista? E fui andando pelas suas memórias. Vi suas viagens para um sem número de países. E, em cada viagem, sempre que possível, visitando museus sobre humor gráfico e deixando suas contribuições na imprensa local.
E percebi que muitos cartunistas de hoje e sempre, nem sempre são oriundos do próprio campo. Mas a maioria das pessoas desconhece que muitos artistas gráficos têm formação, atuam ou atuaram em campos totalmente diferentes. Lembrando de alguns nomes, o Fernando Gonzáles, quadrinista da Folha, é médico veterinário (ele foi um dos responsáveis pela retirada dos bichos da região de Sete Quedas que foi inundada para formar o lago da hidrelétrica de Itaipu). Arquitetos têm diversos (Dil Marcio, Gualberto, Chico e Paulo Caruso…); o Erico Ayres (do Maranhão), é engenheiro civil; o gaúcho Ronaldo Dias e o Lor, de BH, são médicos. Sem contar o montão de gente formada em Jornalismo e Publicidade ou os que atuam como professores universitários (Mastrotti, Dacosta, etc).
Talvez seja o mais internacional dos colaboradores do humor gráfico que saiu entusiasmado com os projetos neste campo em nossa cidade e ganhou o mundo com a formação de engenheiro mecânico debaixo do braço e o humor no coração. É o humor que move o mundo. E Caldari é prova disso. Fazia do serviço profissional um trampolim para cultivar sua paixão pelo campo árduo e difícil do humor, do ponto de vista profissional. São poucos os artistas que conseguem espaço na imprensa nacional e internacional para publicarem seus trabalhos. Mesmo com o advento da internet, não há nada mais saboroso do que contemplar uma charge, um cartum, uma caricatura, uma história em quadrinhos impressa num jornal ou revista. Tendo a companhia de uma boa xícara de café.
Entre honrado e feliz pela oportunidade de voltar à minha terra – eu também um jornalista cigano, que percorri profissionalmente várias cidades – tenho o orgulho de lhes apresentar o nosso “Engenheiro do Cartum”, o mais estrangeiro dos cartunistas piracicabanos.
*José Occhiuso, diretor de jornalismo do SBT
[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]
Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum.