Imprensa piracicabana no século XIX (3)

Este artigo, aqui dividido em capítulos, recupera parcela inicial da tese de doutorado do autor, defendida em 1998, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo. O texto aborda as origens da imprensa na cidade de Piracicaba no século XIX, apresentando os principais jornais e ações ocorridas naquele período.

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Foto: Pexels

As primeiras informações sobre o desenvolvimento da atividade da imprensa na cidade de Piracicaba foram localizadas apenas no ano de 1874, quando surgiu um jornal denominado “O Piracicaba”, propriedade da empresa Andrade Coelho & Cia., tendo como editor S. B. Andrade. Era publicado sempre às quartas-feiras e aos sábados. (GUERRINI, Leandro, “História de Piracicaba em Quadrinhos” edição do IHGP, vol. 2, pags. 52/53). Ou como sugeriu Guerrini,

“4 de julho – sob a redação do dr. Brasílio Machado, surge em nossa terra o número inicial de “Piracicaba”, que foi o primeiro jornal editado na cidade. O dr. Brasílio Machado era promotor público da comarca local. Cultor das letras, bom poeta e orador, foi autor da poesia “Piracicaba”. Que deu à cidade o epíteto de “Noiva da Colina”. Compreendendo a necessidade do município, inaugurou a imprensa do burgo que muito amou. “Piracicaba” era propriedade de Andrade Coelho & Cia., tendo como editor S. B. Andrade. Publicava-se às quartas-feiras e aos sábados e seu preço de assinatura era de 10$000 anuais na cidade e 12$000 fora. Convém notar que, na época, a cidade ainda se chamava “Constituição” e o título do órgão seria influência forte do rio, um divisor marcante da tradição inconfundível que o Piracicaba representava. Na sua apresentação, dizia-se “Jornal imparcial, commercial e agrícula”. Saudou a população desta cidade, já tão adiantada em sua lavoura, comércio e indústria e considerou que o jornalismo é a luz, a vida, o progresso de todos os povos e Guttemberg o complemento de Jesus.” (GUERRINI, L, idem, pags. 52/53)

A cidade tinha recém-inaugurado a sua fábrica de tecidos, pertencente a Luiz Vicente de Souza Queiroz, a Câmara Municipal cumprimentava a cidade pela inauguração da iluminação à querosene nas ruas e praças, que se estenderia até as dez horas da noite e os vapores comerciais que exploravam as águas do rio Piracicaba, tinham notícias contínuas das suas atividades na cidade.

Em 25 de outubro do ano seguinte, por obra de Brasílio Machado, “O Piracicaba” foi editado em inglês, para figurar numa exposição industrial em Philadelphia, Estados Unidos.

Depois disso, a outra notícia que se tem sobre a imprensa local é de 1 de outubro de 1876, quando outro jornal, denominado “O Piracicabano” foi lançado. Segundo Gerrini,

“1 de outubro – Surgiu o primeiro número de O Piracicabano, terceiro jornal da terra, na ordem de aparecimento. Era de propriedade de Joaquim Moreira Coelho, seu editor responsável. Pelo que a gente conclui, os dois anteriores e o presente eram uma só folha, isto é, mudavam os títulos e as datas, mas os tipos e o prelo eram os mesmos. Também é digno de registro o nome do jornal, não obstante a cidade chamar-se ainda Constituição. Colhemos esta informação no Almanaque de Piracicaba para 1900.” (GUERRINI, L., idem pags. 60/61)

Inaugurando uma nova fase de expressão política e partidária, apresentado como o primeiro periódico bi-mensal a circular na cidade, “O Piracicabano” em seus editoriais procederá a discussão de propostas mais complexas daquele momento tais como representatividade dos governantes.

Em 1 de outubro daquele ano, era publicado o primeiro número do jornal, atuando como tipógrafos José Pantaleão Lopes Rodrigues e Jorge Augusto Damasceno.

É de 12 de janeiro de 1881 outra informação importante de Guerrini:

“… 12 de janeiro – Para a história da imprensa local: “Leu-se um ofício do cidadão João Nepomuceno de Souza, comunicando a esta Câmara ser ele editor responsável à publicação do jornal “Opinião”, cuja tipografia se acha em sua residência à rua da Palma, número 24. Arquive-se.” (GUERRINI, L., idem, pag. 83)

Em 10 de junho de 1882, foi publicada a primeira edição do jornal “Gazeta de Piracicaba”, o primeiro jornal diário de Piracicaba.

“Liberdade de pensamento é responsabilidade do autor”. Esta frase, encabeçando o jornal “Gazeta de Piracicaba”, em 10 de junho de 1882, foi o primeiro compromisso implícito da imprensa diária da cidade, que comemora nesta data os seus 106 anos de existência como jornal diário. Estão distantes da nossa realidade os compromissos daqueles dias, entretanto as preocupações com a cultura, teatro, os movimentos e lutas políticas, com a venda de gaiolas ou roupas, casas ou escravos, mas principalmente, o respeito à pluralidade de ideias que perpassavam a sociedade local há mais de um século era um compromisso que se herdou da tradição liberal e que nos persegue até estes dias. Pouco maior que um tabloide, circulando às terças, quintas e sábados, este primeiro jornal diário da cidade mantinha, na sua primeira página, artigos relacionados a temas diversos e compromissos filosóficos vários, que representavam o pensamento da época. A primeira manchete representava igualmente um vício. Falava do sucesso da apresentação de uma banda dirigida pelo maestro Antonio Gomes Escobar. A banda, entretanto, tinha se apresentado seis dias antes. Só que, naqueles dias, a composição dos tipos de jornal era feita manualmente. As notícias não eram tantas assim, mas o jornal já representava um novo sintoma de progresso para a cidade.” (QUEIROZ, Adolpho C.F., “Piracicaba, 106 anos de imprensa diária”, Jornal de Piracicaba, 16 de junho de 1988)

Outra constatação a partir do jornalismo diário que passou a ser praticado na cidade, foi a sua aproximação com a maçonaria.

“A maçonaria teve, no passado, e mantém até hoje, influência discreta sobre as empresas de comunicação da cidade. E a história do jornalismo local, do romantismo à era da indústria cultural, tem evidentemente, características próprias, personagens, mas representa um elo importante para a compreensão da história do jornalismo brasileiro. Se a Gazeta surgiu como fruto da luta entre monarquistas e republicanos, a luta histórica entre conservadores e progressistas, outras publicações surgiram, dando à luta pelo poder político local, cor e sentidos próprios.” (idem)

O redator da “Gazeta” era Vitalino Ferraz do Amaral e a empresa, propriedade de Assis & Ferraz. Em 6 de fevereiro de 1885, o jornal foi vendido por Joaquim Borges aos profs. José Manuel de França Junior e Augusto César de Arruda Castanho.

Alguns dias depois, em 12 de abril, a “Gazeta” enfrenta o concorrente “O Piracicabano”, de forma inusitada, como nos relata Guerrini:

“12 de abril – Consoante o registro competente, havia na cidade dois jornais, a Gazeta e O Piracicabano. Por 40$000 e 30$000 anuais, respectivamente, propunham-se ambos a publicar atos oficiais da municipalidade. Foi, entretanto, aceita a proposta mais cara, da Gazeta, que conhecendo a oferta do colega citadino, ofereceu-se, gratuitamente para fazer o trabalho em apreço.” (GUERRINI, L., idem, pag. 112)

Ao participar da abertura de um evento denominado “Inventário da Imprensa Piracicabana”, para alunos do sétimo semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba, em 9 de março de 1988, o jornalista, historiador e folclorista João Chiarini, assim definiu os objetivos da “Gazeta”:

“O jornal era composto manualmente e surgiu como produto dos que acreditavam na República. Politicamente nada combativo, apareceu durante o regime monárquico, que tinha uma peculiaridade local: era representado por estes dois partidos, um encabeçado pelo Barão da Serra Negra e, outro, por seu genro Barão de Rezende. Preocupado quanto aos aspectos culturais da época, enfatizava o teatro e a literatura, sem deixar de abordar problemas locais. Lutava, por exemplo, para que a estrada de ferro chegasse ao município, o que acabou ocorrendo em 1894. Sua apresentação literária impressionava pelo requinte estilístico. O noticiário retratava acontecimentos sociais da época. Não possuía linha editorial rígida. As matérias assinadas refletiam a orientação impressa em sua primeira página. A Gazeta circulava com quatro páginas, sendo as duas últimas reservadas a anúncios de vendas de casas, gaiolas, roupas, escravos, etc. Sua diagramação seguia, sempre, o mesmo estilo: três colunas em cada página, variando somente as de publicidade feitas por reclamistas, responsáveis por suas ilustrações. O jornal possuía seção livre, destinada às pessoas interessadas em anúncios ou notas, os mais diversos, desde falecimento à apresentação de orquestras. Trazia, ainda, uma coluna sobre Capivari, cidade vizinha, para onde eram enviados alguns exemplares.” (CHIARINI, João, “Inventário da Imprensa Piracicabana”, boletim editado pelos alunos do Sétimo Semestre do Curso de Comunicação da Unimep, junho de 1988, número 8)

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