Inquietações bem-humoradas de um artista precoce

Derli Barroso

Nascido em Piracicaba e formado pela Escola Normal do Instituto Educacional Piracicabano na turma de 1960, Derli Barroso, no início de 1957, passou a fazer as ilustrações e desenhos para o jornal mimeografado “O Avante”, que era publicado pela Sociedade Metodista de Jovens, da Igreja Metodista Central de Piracicaba e do qual ele e eu fomos diretores por vários anos. Em 1958, o Derli fez sua estreia como cartunista na revista “Mirante”, liderada por outro artista, Renato Wagner, no estúdio de quem passou a trabalhar. Tive, assim, o privilégio de conhecer o Derli, o seu extraordinário dom, bem como sua arte, quando ele era ainda bem jovem.
No final dos anos cinquenta, eu estudava em São Paulo, onde também trabalhava como redator da revista “Cruz de Malta”, excelente periódico destinado principalmente à juventude metodista e vendido por meio de assinaturas, cuja tiragem ultrapassava dos 18.500 exemplares, número expressivo para aquela época. No início de 1961, essa revista precisou recrutar profissional para ocupar o cargo de orientador artístico desse periódico e de outros editados pela Igreja Metodista. O escolhido trabalharia juntamente com dois outros festejados artistas: Ênio lmbuzeiro e Cláudius Ceccon, ambos cariocas. Esse último, com mais experiência e tempo na área, já era bastante conhecido e festejado, pelo fato de trabalhar para a revista Manchete, na qual era responsável pela charge estampada na última página. Regozijo-me pelo fato de ter tido a lembrança de indicar o nome do Derli para a revista “Cruz de Malta”, onde eu era redator, e cuja direção o contratou rapidamente, graças ao seu trabalho já reconhecido, uma vez que o jornalzinho “O Avante” era enviado mensalmente à direção desse periódico. Assim, trabalhamos juntos. Depois disso, concomitantemente, especializou-se em fotografia, usufruindo de bolsa de estudos, conseguida pela Igreja Metodista, concedida a partir da Universidade Metodista de São Bernardo. Esteve atuando como fotógrafo e designer gráfico em Nova lorque, onde frequentou a School of Visual Arts (NYC), RIT (Rochester Institute of Technology – Rochester, NY) Turma de 1983 • Photography • Rochester (Nova lorque).

Posso dizer que fui, em dado momento e por acaso, além de amigo, mentor do Derli Barroso, de cuja amizade desfruto até hoje. Esses laços amistosos se iniciaram na primeira década dos anos cinquenta, quando ele e eu frequentávamos a Igreja Metodista de Piracicaba. E, desde então, mantivemos esses laços e contatos, mesmo à distância e intermitentes, quando se dirigiu para novos desafios na Universidade Metodista de São Bernardo do Campo e, posteriormente, para os Estados Unidos onde frequentou a School of Visual Arts de Nova Iorque. A partir daí não parou mais de trabalhar como “designer” gráfico e fotógrafo. Há muitos anos reside nos Estados Unidos, onde tem trabalhado. São também muito festejadas as exposições que tem feito.

Mas, seus primeiros passos no campo das artes foram dados aqui em Piracicaba em 1958, um pouco antes de concluir o então chamado Curso Normal do Instituto Educacional Piracicabano, quando tinha seus 15/16 anos. A revista “Mirante”, liderada por Renato Wagner, vinha com uma nova proposta editorial para revolucionar a linguagem gráfica, a redação e a forma de realizar anúncios publicitários. Tudo o que o jovem Derli precisava para exercer suas habilidades, como “designer”, fotógrafo e, enfim… como cartunista.

Com as páginas abertas por Wagner, ele produziu, no período em que a revista circulou, dezenas de cartuns, caricaturas, tiras de quadrinhos, com as temáticas da época, sobre política e temas do cotidiano. Há alguns anos, por iniciativa do jornalista Edson Rontani Júnior, filho de um dos pioneiros do humor gráfico na cidade, foi realizada uma exposição na Pinacoteca Municipal, com vários cartuns colhidos pelo organizador nos exemplares da “Mirante”.

Fogo

E pudemos ter a certeza de que Derli Barroso contribuiu decisivamente para que a cidade de Piracicaba desse espaço à imaginação criativa de um jovem talento que perfilava entre os grandes nomes da época, como Rontani e Wagner.

Bem lembrado para mais esta homenagem no livro “Piracartum”, Derli passa a figurar de forma definitiva no rol dos artistas gráficos que contribuíram para o exercício dessa profissão e arte, com seu talento e imaginação criativa. Para mim, é muito bom poder constatar que os frutos da minha eventual mentoria, produzidos por ele, continuam sendo reconhecidos e reverenciados pela cidade.

TV

* Gustavo Jacques Dias Alvim (in memorian), Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba e Academia Piracicabana de Letras.

[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]

Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum

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