Não é mentira! “O Pasquim” quase foi impresso em Piracicaba (1)

Pasquim

“O Pasquim” sendo impresso em Piracicaba. Dá prá acreditar? Mas o que, para a grande maioria das pessoas, possa parecer apenas folclore ou invencionice, quase aconteceu mesmo.

Corria o ano de 1973. No país, os rescaldos do AI-5 faziam um ambiente sombrio, repleto de medos, temores e dúvidas. Não havia segurança, não havia espaços para que pessoas, entidades e até órgãos de comunicação se expressassem com um mínimo de tranquilidade. O cala boca se generalizara e causara efeitos.

Mas “O Pasquim” insistia em sobreviver. Quase que único exemplar de uma imprensa que ousava afrontar a ditadura, o semanário chegava, contraditoriamente, ao seu melhor e pior momento. Nas bancas, a procura crescia numa progressão que levava a edições acima de cem, cento e cinquenta mil exemplares. Afinal, “O Pasquim” tentava rir das próprias desgraças do país, tentava mostrar e denunciar através da fina ironia, das entrevistas em que as verdades tentavam aparecer, nem que apenas nas entrelinhas. Era preciso resistir, e “O Pasquim” tentava fazê-lo. Mas, na outra ponta do processo, valiam as pressões. O governo ameaçava, vivia prendendo seus jornalistas, pressionava os prováveis anunciantes para que não se envolvessem. E o jornal praticamente não conseguia se manter, financeira e administrativamente, de pé.

Piracicaba vivia, entretanto, dois momentos especiais. “O Diário” acabava de receber, poucos meses antes, sua off-set, um equipamento que viria a revolucionar o mundo gráfico. Fora o primeiro jornal do interior do país a aventurar-se neste caminho. E junto com o jornal “Cidade de Bauru”, que também teve iniciativa semelhante, passava por um processo de profundas transformações. As duas unidades compradas e já instaladas na Rua Prudente eram vistas como algo com grandes recursos, capazes de produzir belas páginas impressas, inclusive com o recurso das cores. Era um tempo de mudanças.

E também naquela década na cidade, uma ideia que iria caracterizá-la e projetá-la internacionalmente anos depois: o Salão do Humor. Ele nascia pequeno, sem grandes pretensões. Mas bastou a ideia. Num momento em que o país desaprendera de rir, o aparecimento de novo espaço onde o humor pudesse canalizar o desespero político, a vontade de falar, as tentativas de se mostrar as imensas injustiças que se cometiam, aglutinou grandes nomes. E já em sua primeira mostra, o Salão de Humor fez com que Piracicaba se transformasse no ponto de encontro da resistência: todos os grandes humoristas, os cartunistas, os intelectuais resolveram, aqui, se encontrar, usar deste novo espaço e expor trabalhos que certamente não seriam publicadas em lugar algum.

(continua)

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