Não é mentira! “O Pasquim” quase foi impresso em Piracicaba (2-final)

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O Pasquim. (imagem: reprodução Google)

O Diário queria apenas o papel

Foi neste momento, em que as circunstâncias reuniram em Piracicaba os grandes do “Pasquim”, como Millor Fernandes, Ziraldo, Fortuna e Jaguar – por sorte, todos em liberdade – que surgiu a possibilidade do jornal passar a ser impresso pelo “Diário”.

O contato entre seus proprietários e o dono do “Diário”, Cecílio Elias Netto, aconteceu inicialmente pelo próprio interesse em torno do Salão do Humor. Sua proposta de tal forma excitou os jornalistas, que se pensou na possibilidade de que “O Diário” preparasse um suplemento especial sobre o salão, que seria encartado e distribuído nacionalmente pelo Pasquim.

Só que, aí, começavam a se tornar mais claras, aos jornalistas piracicabanos, as dificuldades do semanário. Sem anunciantes, sob forte pressão do governo, “O Pasquim” não tinha receita sequer para garantir a produção de cada uma de suas próximas edições. Mas também, por parte do “Diário”, existia a necessidade de se apoiar aquela luta, de ser solidário, de estar junto.

E, então, a proposta se concretizou. No saguão do antigo prédio do “Diário”, o jornalista Cecílio Elias Netto colocou a infraestrutura já existente para garantir a circulação do “Pasquim”. A seus administradores, bastaria garantir o papel. Todo o restante – composição, fotolitos, impressão – ficaria por conta do próprio “Diário”.

Por mais de um mês, sucederam-se os interurbanos entre Rio de Janeiro e Piracicaba. Era necessário se verificar detalhes, se planejar a produção, se verificar custos. O interlocutor era Millor Fernandes, que, à época, tentava administrar “O Pasquim”, fugindo das sucessivas prisões que atingiam seus companheiros.

Mas as boas intenções foram insuficientes. Na hora de se estabelecer cronogramas, datas de fechamento e de chegada às bancas, descobriu-se que, embora com recursos técnicos significativos para a época, “O Diário” não teria condições de atender às necessidades do semanário. Afinal, era preciso se garantir uma tiragem de cerca de 150 mil exemplares. O que até seria possível. Mas esbarrava-se em dois outros problemas: o prazo para que tal quantidade fosse impressa para chegar às bancas, sempre no mesmo dia, e a possibilidade de eventuais encartes, caso a edição ultrapassasse mais de 16 páginas.

Final da estória: assim como tudo começou, acabou. Nada além da conversa. “O Pasquim” conseguiu outras opções de sobrevivência, “O Diário” prosseguiu com sua off-set, se caracterizando como um jornal de resistência que, via de regra, incomodava também.

Mas, de qualquer forma, é uma história de um tempo especial, que poucos se lembram ou sequer conheciam. E que deixa claro que Piracicaba, há tempos, vem se preocupando, e muito, em resistir a todas as formas de pressões e limitações impostas pelo poder. Inclusive através do humor.

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