O adorável Renato Wagner
Aqueles 1950 já eram anos dourados, sem que nós sequer o soubéssemos. As gerações vivem fazendo história e não o percebem, conseguindo avaliar tão somente o depois. No mínimo, para nós, eram anos de excitações inexplicáveis, como se estivéssemos numa corrida constante, mas sem rumo definido. Para este escrevinhador, o mundo tinha sido sempre daquela maneira alegre, vibrante, vivificante. O significado de um pós-guerra não me dizia nada, a não ser algumas lembranças temerosas da pequena infância, ouvindo falar da bomba atômica.
Um homem diferente, João Chiarini, me transformou em seu protegido. Ele e meu pai eram amigos desde a adolescência. E Chiarini percebeu, no menino e no adolescente, alguma tendência literária, intelectual. Muitas vezes, evitei-o, temendo subordinar-me à sua visão, a seus projetos, dos quais ele queria que eu participasse. Convidava-me para acompanhá-lo em encontros culturais, apresentava-me aos grandes mestres escritores, pintores. Enfim: João Chiarini foi o homem que me introduziu no universo cultural de Piracicaba e de São Paulo, um tesouro que ele me deu e de que, emocionadamente agradecido, jamais me esqueço.
Renato Wagner foi uma das pessoas notáveis a quem Chiarini me apresentou. Renato era um moço bonito, agitado, ao mesmo tempo amável e ansioso. De corpo atlético, Renato fora ótimo esportista tanto no futebol, quanto no basquete e natação. Seu avô, Jacob, foi o proprietário de uma das primeiras cervejarias alemãs de Piracicaba. Ele – cerca de 20 anos mais velho do que eu – acolheu o adolescente de uma maneira que me estimulou: Renato me tratava como um igual, o que me embevecia. Nossa amizade consolidou-se quando ele, Fued Helou Kraide e Arlindo Romani criaram a primeira agência de Publicidade de Piracicaba. E, desta, nasceu a vitoriosa revista “Mirante”, da qual, ainda jovenzinho, fui cronista.
Piracicaba deve, a Renato Wagner — entre tantas e tantas riquezas que ele nos deixou — a presença do notável artista plástico Vladan Stiha, que fora seu professor em São Paulo e que ministrou aulas a muitos que se tornaram reconhecidos pintores piracicabanos. Renato foi um diferenciado caricaturista, enriquecendo jornais da cidade e a revista Mirante. Dele, guardo um tesouro que ele próprio me deu: uma caricatura dele mesmo, junto com outros dois notáveis artistas, Antônio Pacheco Ferraz e Manoel Martho. Nas últimas décadas de sua vida, pôde dedicar-se ao grande sonho e vocação: a pintura. E se tornou um dos memoráveis artistas plásticos de Piracicaba.
Uma última palavra: Margareth Pyles Wagner, sua esposa, foi um dos pilares em que Renato se apoiou para erguer-se ao Olimpo das artes plásticas. De Dona Margareth, guardo lembranças agradecidas, como minha professora particular de Inglês.
[Este texto é parte do livro “Pira Cartum – Homenagem a 32 cartunistas e ilustradores de Piracicaba nos 45 anos do Salão de Humor”. Organizadores: Adolpho Queiroz, Edson Rontani Junior, Maria Luziano e Victor Corte Real. Uma publicação da Coleção AHA de Humor Gráfico – Associação dos Amigos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (Editora Nova Consciência – 2018)]
Para conhecer demais cartunistas e ilustradores integrantes do livro, acesse a TAG Pira Cartum.