Nos Tempos da Romi-Isetta (1)

Esta matéria foi originalmente publicada no jornal impresso “A Província”, na edição de 30 de setembro de 1994

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O presidente Juscelino Kubitschek desfila em Brasílio, no dia 3 de fevereiro de 1960, no carro nacional Romi-Isetta (fabricado em Sta. Bárbara D’Oeste).

Nos sonhos mais impossíveis do homem contemporâneo, certamente se inscreve a posse de um carro barato, que consuma pouco combustível e, melhor, que encontre locais de estacionamento mesmo nas grandes metrópoles. O mais triste disto tudo é que tal carro já foi produzido no Brasil, na década de 50, e foi praticamente destruído pelo jogo interno da industrialização e dos interesses econômicos que envolviam a florescente indústria automobilística. Mas isto já é outra história.

O melhor a se lembrar é que o tal carro, objeto perfeito do desejo impossível, nasceu aqui mesmo, em Santa Bárbara D`Oeste, em tempos em que o interior ainda se mostrava como opção de futuro industrial. Chamava-se Romi-Isetta e teve apenas quatro mil unidades fabricadas pelas Indústrias Romi, que o colocaram no mercado nacional já em 1956.

Era um verdadeiro prodígio em termos de espaço: para apenas duas pessoas, sua carroceria tinha apenas 1,34 m de largura por 2,25 m de comprimento e 1,32 m de altura. Ou seja, encontraria fácil estacionamento em qualquer lugar que o motorista desejasse, já que o espaço por ele exigido é quase de apenas um terço do dos demais carros. Mais fabuloso ainda: com um motor de dois tempos, potência de 9,5 cavalos a 4500 rotações por minuto, seu tanque tinha uma capacidade para apenas 13 litros de gasolina. Problema? Absolutamente: o consumo, quase inacreditável, de 3,75 litros para cada 100 quilômetros. Entre outros dados técnicos, ressaltam-se o peso de 300 quilos, as quatro marchas de velocidade para frente e uma para trás, motor de arranque elétrico, velocidade máxima até 85 km/h, duas rodas de bitola normal na frente e duas com eixo curto atrás (as rodas eram de aro desmontável, dando maior facilidade à troca de pneus).

Poder-se-ia, hoje, reclamar-se um pouco de seu design, já que, com apenas uma porta, muitos já o tacharam, àquela época, de algo semelhante a um ovo ou a um sapo. Mas certamente, ele não seria tão feio assim, já que, antes de ser nacionalizado e produzido pelas Indústrias Romi, em Santa Bárbara D’Oeste, a Romi-lsetta nascera na Itália e fora fabricado na França, Alemanha e Espanha, com licença de seu criador, a fábrica Iso, de Milão. O sucesso foi tamanho que, uma única fábrica no exterior chegou a produzir 400 unidades diárias e os consumidores chegavam a amargar um prazo de até 6 meses para entrega.

Publicidades da época de seu lançamento garantiam, ainda, que o carro não era “resultado de concessões à economia de fabrico”. Sua porta frontal e única, dizia a propaganda, “permite o acesso fácil a pessoas de todas as estaturas e, especialmente, às mais idosas. A porta abre-se automaticamente desde que se acione o manípulo, mantendo-se, depois, completamente aberta. O assento, com costas de inclinação regulável, oferece dois lugares espaçosos e confortáveis; pode ser facilmente retirado e utilizado para campismo. A visibilidade é perfeita, a aceleração rápida, com estabilidade verdadeiramente excepcional”.

(continua)

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