O Gilmar que conheci

Ele era, ainda, jovem. Um jovem bonito, esguio, sorridente. Gilmar encantou o Brasil com o seu talento. E também eu encantei-me com ele. Gilmar inspirava confiança, dava-nos segurança e – com aquela simpatia quase incrível no nosso agora – muito rapidamente, se tornou personalidade nacional. Nunca houve suspeitas sobre ele. Nem desconfianças. E nem dúvidas.

Quase todos os dias, ele estava nas páginas de jornais, revistas. Mesmo a televisão – ainda incipiente àquela época – destacava os feitos daquele Gilmar, lembro-me que quase em estado de veneração. Foi algo assim como aconteceu com o impressionante juiz negro, Joaquim Silva, quem não se lembra dele? É verdade que se tratava de um outro Brasil. Mais sereno, mais honesto, mais orgulhoso de si mesmo, um Brasil que começava a romper a quase atávica pequenez moral e intelectual. O inimitável cronista Nelson Rodrigues dizia termos, os brasileiros, “complexo de vira-lata”. Tornamo-nos cães ferozes.

E as coisas mudam, tudo muda. E, nem sempre, para melhor. A roda da história girou, girou, levou-nos a todos nós, mudou-nos. E girou para Gilmar. E mudou Gilmar. Quem o conheceu sabe que nunca mais se fez um Gilmar como ele, com sua elegância, nobre como um príncipe. E ele, na verdade, foi um príncipe, o Gilmar dos Santos Neves, o maior goleiro do Brasil em todos os tempos, bicampeão do mundo em 1958/62, o bem-amado Gilmar.

Gilmares, surgiram outros, nomes quase todos recebidos em homenagem ao nosso grande, imenso Gilmar. Foi ele – que o tempo também levou – um dos honrados símbolos de um outro Brasil. Mais ingênuo, mais inocente? Não sei…

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