Parabéns pra mecê!

Óia, sinhá moça!/Me adiscurpe do atrevimento,

mai eu tô loco, quase num güento/de vontade de falá.

Sei que num sô moço bacana,/sô rapaiz da roça,

cortadô de cana,/mai eu vô desabafá.

 

Sô pobre,/gente que num tem dinhero,

Sant´Antónho é meu padroero,/e ocê, por contraste da vida,

é moça rica, linda, instruída.

Me adiscurpe de eu tá acanhado,/puis só sei falá arrastado

e num gosto de chiquê./Mai m´iscuita, faiz favô,

que  sô moço arrespeitadô/e quero falá cum mecê.

 

Óia, moça, moça sinhá./Tô sintindo um troço no peito

desdo dia que eu te vi:/tão formosa, tão bunita,

uma noiva tão catita que/– inda me alembro dereito –

de amor quase morri.

 

Te amei desde a primera oiada,/sofrendo quar arma penada,

sabendo que ocê, tão bunita,/e eu cum camisa de chita

-ai!, mecê num ia dá trela pra mim.

cocei a cabeça, pitei um cigarro,/garrei uma rosa caída no barro,

quis te falá, teu nome dizê: fiquei parado, sem nada fazê.

Mecê era tudo e eu era nada;/mecê era o mundo, eu era a poera:

gostá de mecê seria bestera.

 

Fugi d´ocê, de seu zóio lindo,/da dor quieu sentia de só te querê.

saí pelo mundo, correndo daqui,/querendo esquecê, querendo morrê,

buscando outra moça mai linda que ocê.

Mai quê! Pur onde eu andasse, eu via seu véu,

que num é de renda, nem de cetim,

mai coisa feita cum bruma do céu,/coisa feita prá judiá de mim.

 

Ai, moça, ai, ai, ai./Hoje, eu queria te dizê

que — nas estrada pur onde andei,/nos caminho que pisei —

nada vi mai lindo que ocê.

 

Num pense que minto se te contá:

onde eu tivesse eu iscuitava/as música das serenata,

o baruio das cascata,/os canto dos canaviá.

Eu via ocê no chão e no arto,/branquinha e linda

como a espuma do Sarto.

 

Cum 239 ano, eu  te adoro,

há mais de doi século a Deus improro/pra casá cum mecê.

Doi século que pesco no rio,/que sofro nas noite de frio,

procurando te esquecê.

Doi século de esperança,/de ocê sê a criança

que Deus me ia oferecê.

 

E, agora, no caminho, me contaro,/que ocê faiz maizum aniversário

e que, na cidade, tem gente/querendo te dá presente

pra mode  te conquistá./Ai, ai, ai, moça sinhá!

 

Eu num sube o que fazê./Sô pobre, num tenho dinhero,

no borso só tenho o paiêro,/que vô comprá pra mecê?

Deus me perdoe, moça linda,/mais, intão, fiz um pecado

que nem sei se vai sê perdoado/pelo Minino Jisuis.

Puis entrei numa capela,/vi umas fror linda, tão bela,

que tavam nos pé da cruiz,/que acabei robando elas,

caprichando num buquê,/prá dá tudas ela pra mecê.

 

Tome as fror, fique cum ela./Tem vermeia, branca, amarela

e azur como a cor do céu.

Tem rosa, cravo, jasmim e bonina,

Pra mecê, noiva e menina, ponhá tudas no seu véu.

 

Eu tô tão invergonhado/que nem sei o que dizê.

Pois caipira apaxonado/tem distino de sofrê.

 

Me adiscurpe, sinhá moça,/mecê tem que adiscurpá:

tá na hora, eu já vô ino,/vô-m´imbora, sem demora,

cum vontade de chorá./Mai antes de í, eu vô falá.

E mecê que é minha frô,/vê se iscuita, faiz favô:

Eu te amo, eu te adoro,/eu te quero e te venero,

como ninguém jamais te amô./Por mais ano que ocê faça,

é a Deus que eu peço a graça,/de podê bejá sua mão.

Deus te dê sempre a ventura/de sê linda, boa e pura,

é o que peço em oração.

 

Me perdoe eu tá chorando,/mai antes de eu í andando,

gostaria de dizê:/minha noiva, moça e menina,

minha Noiva da Colina,/parabéns pra mecê.”

 

 

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