O xerife quinzista de todos os tempos

Quem for contar a história do XV de Novembro de Piracicaba não pode se esquecer de Idiarte Massariol. Afinal, Idiarte poderia ser definido como o símbolo da raça quinzista. Já contava o jornalista Delphim Ferreira da Rocha Netto, que foi considerado o guardião da memória do “Nhô Quim”, em artigo publicado em “O Diário” do dia 4 de janeiro de 1970. “Antes de começar qualquer partida, o grande zagueiro central Idiarte tinha o costume de andar na pequena área, de um lado para o outro. A seguir, traçava com o bico da chuteira um risco e gritava para os companheiros: ‘Daqui ninguém passa!”. Quer raça maior que essa? Hoje Idiarte, ao comentar o passado, se refugia na modéstia e não acha que tenha sido o grande símbolo do XV. “Acho exagero, passaram tantos pelo time e nem vi todos, não me considero melhor que ninguém”, diz ele.

Idiarte está com 84 anos. Mora com a mulher num amplo sobrado na rua Regente Feijó. A idade não aparece no físico, vantagem de quem sempre foi um atleta. “Só acho chato que às vezes a lembrança de datas fica meio ruim”, conta ele, com um jeito doce e sincero. Idiarte também se angustia um pouco, numa entrevista, com essa mania de jornalista de querer as datas certinhas ou definições definitivas sobre a importância disso ou daquilo. Mas Seu Idiarte nunca perde a classe. Se nos tempos em que atuava nos gramados era ele quem impunha ordem na zaga e não fugia da briga, hoje Idiarte é um gentleman.

Carreira

“Eu comecei a jogar no XV no final dos anos 30 e fiquei uns 20 anos. Sempre pelo time, só joguei um tempinho no Santos”, resume ele. Os arquivos de Rocha Netto registram que Idiarte atuou com a camisa preta e branca de 1939 a 1958. No total, nada menos de 524 partidas, em que marcou 58 gols, média que parece pequena, mas é bom lembrar que ele atuou a maior parte da carreira na defesa. “Quase sempre fui zagueiro central, mas também já atuei como lateral-esquerdo, centro-avante e um tempinho até como goleiro”, conta. Muito antes de virar moda, Idiarte Massariol era o que se chama de jogador polivalente.

E nervoso também, dizem as boas e as más línguas. Ele acha graça dessa fama. “O pessoal é meio exagerado”, desconversa. Mas o cronista Rocha Netto registrou no suplemento “Gazeta Esportiva”, de setembro de 1954. “Não se compreende o XV sem aquele rapaz alto, loiro e nervoso quando o juiz apita coisas que não existem, pois Idiarte é uma garantia na zaga do querido preto-e-branco. Os árbitros sabem bem do seu gênio. Por qualquer ‘dá cá aquela palha’, ele aparece na súmula do jogo”.

Idiarte diz que isso eram “coisas da juventude”. Hoje, o que prefere destacar de sua longa carreira são as vitórias importantes. “Acho que um dos jogos mais emocionantes para mim foi quando o XV foi campeão do interior jogando no Parque Antártica”, afirma. A tal partida foi realizada em 13 de fevereiro de 1949 e o alvinegro venceu a Linense por 5 a 1, ficando com o título de primeiro campeão da Lei de Acesso. Ao lado dele, jogaram Ary, Elias, Strauss, Cardoso, Adolfinho, De Maria, Sato, Picolino, Rabeca e Gatão. Outro ano marcante foi 1946, quando o zagueirão virou artilheiro, marcando 22 gols em 33 jogos. Foi o retorno do filho pródigo, já que Idiarte passou 11 meses de 1945 vestindo a camisa do Santos, mas voltou de tanto o público pedir. “A torcida sempre foi muito carinhosa comigo”, conta.

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