Viaje comigo: Peru – Vale Sagrado

Este lindo vale que tem inicio próximo a Cusco e segue até a região de Machu Picchu sempre foi muito especial para o povo Inca. Seu micro clima o tornava ideal para o plantio e suas altas montanhas, um lugar propício para as fortificações e celeiros. Hoje vamos caminhar por suas trilhas, conhecer suas ruínas e aprender sobre seus costumes. Bem vindo ao Vale Sagrado dos Incas.

VÍDEO: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=AIngETyjJN0

O Vale Sagrado foi formado pelas águas do rio Urubamba e tem este nome desde os tempos do império Inca. Acontece que o rio corre exatamente na mesma posição da Via Láctea, como se fosse um espelho da mesma. Assim, os Incas entendiam que o Vale era o reflexo do céu (da Via Láctea) na terra. Por isso o nome de Vale Sagrado. O assunto era levado tão a sério, que cada vila do Vale representava uma estrela ou constelação do céu. A vila de Ollantaytambo, por exemplo, representava a constelação do Lhama. Mas existiam outras como a do Sapo, da Serpente e do Condor.

O Vale Sagrado dos Incas é um dos lugares mais belos do estado de Cusco. Possui um micro-clima único que mantém a temperatura amena durante todo o ano permitindo assim o bom desenvolvimento da agricultura. Um dos lugares mais visitados desta região é a feira de Pisac, a mais tradicional do vale. Ela acontece semanalmente há mais de 300 anos. Sua parte externa está voltada ao artesanato, enquanto o centro é ocupado pela troca e venda de produtos agrícolas. O “Trueque”, como é chamado o intercambio de alimentos e animais, é feito por pessoas de várias comunidades que se reúnem aqui várias vezes por semana. Um saco de milho por uma cabra. Um quarto de ovelha por um saco de batatas e assim por diante. É na feira de Pisac que podemos ver a grande variedade de produtos cultivados no vale. Espigas de milho multicores, dezenas de variedade de batatas, cereais que só crescem em grandes altitudes estão aqui, tudo exposto aos olhos do visitante.

É também na feira que, todos os domingos, os líderes de cada distrito de Pisac se reúnem para assistir a missa (falada em Quechua) e depois seguem em procissão até o teatro da cidade para resolver problemas da comunidade. Esta procissão é precedida por vários meninos, vestidos a caráter, todos soprando grandes conchas usadas como instrumentos musicais. Atrás deles, 15 homens vestidos com mantos coloridos e empunhando um bastão de prata e madeira, representando sua autoridade. Um espetáculo digno de ser acompanhado.

A cidade colonial de Pisac fica no vale, mas a cidade original fica no alto das montanhas, como a maioria das cidades Incas. Incrível como estes Incas adoravam uma caminhada montanha acima. Mas isto tinha uma razão. Construindo no alto das montanhas eles ficavam livres de enchentes, longe dos desmoronamentos, mais longe ainda dos inimigos e mais perto dos seus deuses: o Sol, a Lua, os raios e as próprias montanhas, chamadas de Apus. As ruínas de Pisac ainda conservam toda a estrutura de uma cidade Inca com áreas destinadas ao cultivo, moradia, culto e cemitério.

A 90 minutos de Pisac, em outra parte do vale, encontramos outra cidade Inca, a vila de Ollantaytambo ou Tambo de Ollanta (veja lenda abaixo). É uma cidade pequena que ainda conserva grande parte da sua arquitetura original. Possuem ruas estreitas, canais de água nas calçadas, cultivos em terraços e uma área religiosa. Esta última é conhecida como as Ruínas de Ollantaytambo e é composta por enormes terraços de cultivo, pelo Templo do Sol (inacabado) e pelo Templo das dez janelas. São ruínas impressionantes, imponentes e que requerem boas pernas para chegar ao seu topo. É curioso que a pedreira de onde vinha todo o material não ficava próxima e sim no topo de uma montanha do outro lado do vale. Os Incas tinham que fazer uma viagem imensa, carregando grandes blocos de pedra para construir seus templos. Durante a jornada, muitas pedras caiam e se quebravam, sendo assim abandonadas no meio do vale. Hoje são conhecidas como Pedras Cansadas e marcam o caminho feito pelos antigos trabalhadores.

Próximo a região de Urubamba, outra comunidade do Vale Sagrado, dois lugares chamam a atenção do visitante. Um deles são as ruínas de Moray, um centro de pesquisa agrícola Inca. Quem chega aqui pela primeira vez fica impressionado, não só pelo tamanho, mas pelo formato singular destas ruínas. São dezenas de terraços circulares e concêntricos, todos feitos de pedra. Os Incas usavam estes terraços para fazer pesquisas sobre as plantas que cultivam e que traziam de outros lugares. Usando variações de terraços eles podiam mudar a altitude, a umidade, clima e a temperatura. Desta forma eles determinavam em que parte do seu reino estas plantas produziriam melhor. Coisa de gênio!

Perto de Moray recomendo visitar também as minas de sal de Maras. Neste grande vale, foram construídas mais de cinco mil piscinas de barro, que represam as águas de um riacho cujas águas têm uma concentração de 69% de Cloreto de Sódio. Nestas piscinas o sal é extraído pelo processo de evaporação. Isto acontece aqui desde o século XII e ainda hoje cerca de 200 famílias se beneficiam desta atividade. Durante os meses de seca (Abril a Novembro), o vale fica todo coberto de sal branquíssimo, dando a impressão de que está coberto de neve. Surreal!

O Vale Sagrado é ponteado de vilas e coberto de plantações. É um lugar agradável para se passar um dia ou para descansar. Muitas atividades de aventura podem ser praticadas aqui como bike, caminhadas, cavalgadas e rafting. É um ótimo lugar para se conhecer a população local e seus costumes. Pernoitar no Vale depois de um dia de tour é também uma boa oportunidade para encurtar a viagem a Machu Picchu, o destino final de 99% das pessoas que visitam esta região. Enquanto os trens que partem de Cusco levam três horas para chegar a estas ruínas, o trem que parte de Ollantaytambo leva a metade do tempo. Visitando este vale, começamos a entender melhor esta impressionante cultura e concordamos com os Incas em chamar este belo lugar de Vale Sagrado. Boa viagem.

* Peter Goldschmidt é membro da Família Goldschmidt que desde 1999 viaja pelo mundo descobrindo e divulgando novos roteiros turísticos. É também diretor da agência de turismo Gold Trip. www.goldtrip.com.br – (11) 4411-8254

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