Triunfo sobre o vício: uma história de perseverança e de amizade

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Após o almoço e nos períodos de folga na Master Móveis, as amigas e colegas de trabalho Cleonice Claro Ferreira e Sônia Frutuoso caminhavam na Avenida Francisco Rasera, no bairro Água Branca, em Piracicaba, próxima à fábrica, para espairecer e para afastar os pensamentos dos cigarros. Tentavam parar de fumar. Certa vez, já estavam três dias em abstinência e quase ficando loucas, quando viram uma trilha longa de cigarros caídos no chão, cada um distante um metro do outro. Não conseguiram ter sucesso naquela tentativa.

Cleonice nascera na pequena Figueira, cidade ao norte do Paraná. Aprendera a fumar muito cedo, com as amigas, na praça, até hoje, a única opção cultural daqueles habitantes. Cleusa, a irmã mais velha, também a chamava para fumar. Casou-se com Francisco, aos 20 anos. Trabalhou como costureira a vida toda e nunca gostou muito de se exercitar. Aos 36, sofria com inchaços e fortes dores nas articulações que, estranhamente, andavam pelo corpo. Ora doíam as mãos, ora, o cotovelo. Outras vezes, os tornozelos. Religiosa, sempre proferiu a fé católica e, com Francisco, organizavam encontros de casais, faziam leituras nas missas da Igreja Nossa Senhora das Graças ou da Igreja São Francisco Xavier. Apesar disso, não pôde deixar de pensar que alguém espetava agulhas num daqueles bonecos — a clara descrição do que sentia.

A medicina deu-lhe a explicação com o diagnóstico de Artrite Reumatoide (AR) — doença inflamatória crônica que acomete as articulações, causando dor, rigidez, inchaço e, em alguns casos, deformidades. Embora a causa precisa da AR seja um enigma, acredita-se que a doença resulte de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Dentre os últimos, o tabagismo configura um dos principais, aumentando, significativamente, as chances de desenvolver a doença. Outros são o sedentarismo, a obesidade, a má alimentação e o consumo de álcool. Para piorar, os indivíduos fumantes portadores de AR têm prognóstico pior e menor resposta ao tratamento.   

Cleonice tentou, a vida inteira, abandonar o vício. Conseguia permanecer longe dos cigarros apenas por alguns dias e recaía. Quando me procurou em 2022 para tratar o tabagismo, encheu-se de esperança ao sentir alívio do stress e da ansiedade, advindos da falta dos cigarros. Antes, irritava-se com a cobrança e chateava-se com os diversos fracassos. Não conseguiu fazer a TRN — terapia de reposição nicotínica — com os adesivos, pois sofre de alergia ao látex (um dos componentes). Proibiram-na de comer frutas, como a banana, a maçã, o abacate, a pera e o tomate, pois desencadeiam reação alérgica semelhante à do látex. Na falta da TRN, cerquei-a, como pude, com terapias auxiliares, como a acupuntura, e deu certo. Cleonice parou de fumar.

Satisfeita, conta que a vida melhorou em muitos aspectos. Na saúde, o fôlego melhorou e a tosse sumiu, ganhou peso e curvas (7 quilos) desde que largou os cigarros. Na vida social, gosta de ir a festas e de socializar, sem ter que sair a toda hora para fumar, e de caminhar com a netinha no colo sem se cansar. Sempre trabalhou como costureira, antes, na fábrica de móveis e, atualmente, em casa, com a nora Samara, como autônoma, costura peças para as confecções Borges e PMG.

Sônia, vendo o sucesso da amiga, resolveu buscar minha ajuda. Iniciou o tratamento no final de 2024 e já está livre dos cigarros há mais de 60 dias.

Agora, as duas amigas planejam encontrar-se para celebrar a conquista.

*Dra. Juliana Barbosa Previtalli – médica cardiologista, integrante do Corpo Clínico da Santa Casa de Piracicaba e atende em seu consultório particular, com agendamentos por mensagem para (19) 97123-1361. É idealizadora do projeto antitabagismo “Paradas pro Sucesso”.

*Erasmo Spadotto – cartunista e chargista, criou a ilustração especialmente para este artigo.

A Província apoia o projeto e a campanha antitabagismo “Paradas pro Sucesso”. Para acompanhar outras crônicas desta série, acesse a TAG Paradas pro Sucesso.

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