A arte de se comunicar
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É comum para aqueles que escrevem receberem cartas, pedindo conselhos, críticas e até mesmo um lugar ao sol dentro da imprensa. Sempre absorvidos pelo trabalho, mal temos tempo de colocar nossa correspondência em dia. De qualquer maneira aqui estão algumas despretensiosas sugestões para os que almejam se lançar à espinhosa tarefa de enviar mensagens.
Primeiro, leia muito. Atualize-se. Nada como o poder da síntese. Períodos curtos. Adjetivação só quando necessária. Evite as repetições. As palavras em negrito, mais parecendo bula de remédio. E, sobretudo, o uso maciço da reticência. Sempre que puder, não se individualize. Procure ser co-participante de sua obra, apelando para o “nós”. Não seja esnobe recorrendo, frequentemente, a autores estrangeiros e citando até mesmo trechos em línguas que não são a nossa. Use palavras simples. Tipo feijão com arroz que todo mundo entende. Coelho Neto morreu arrependido de ter escrito difícil demais. Aliás, dizem os entendidos que o “difícil é escrever fácil”. Não fale muito de você. Deixe que os outros descubram quem você é. A nata sempre bóia por mais que queiramos empurrá-la. Se puder, fale por parábolas. O Cristo foi mestre na arte.
Certa vez desancaram o pau numa criatura que massacrava subalternos. Resultado: na avaliação “Toninha Malvadeza” era premiada porque falava baixinho, fazia-se de vítima, enquanto a outra… Bem, para a outra ficou pelo menos uma lição: a cobra a gente vai matando aos poucos. Ninguém ignora a importância do poeta, não só nos grandes movimentos literários como também históricos. Castro Alves, em versos, fez muito mais pela escravidão que todas as leis que foram surgindo. E quantos poetas foram presos, como Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Oscar Wilde e tantos outros, por terem se insurgido contra tudo que há de exigir sempre a nossa luta, o nosso posicionamento. É preferível morrer por nossos ideais a ter de aceitar que matem nossas idéias. Outro dia, telefonaram para alguém que milita na imprensa:
– Você sofre tanto quando escreve. Vale a pena esse desgaste? A gente ama tanto a sua parte lírica.
– Vale – foi a resposta. Água com açúcar só de vez em quando. Não podemos ser omissos. Os fracos precisam dos fortes.
Bem, o importante é ter sempre esta verdade em mente: Ninguém atira pedra em figo podre. Quando alguém começa a ser objeto de preocupação é sinal de que está crescendo. Vamos, pois, em frente. Os cães ladram e a caravana passa. Não faça “au… Au…”. Diga apenas “tchau”…
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Membro da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas.