Assim…

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branco

Foto: Reprodução Google

Começo este texto sofrendo o chamado “branco total”. Sim, aquele, o terror dos escritores, temido pelos que transpiravam abundantemente, catatônicos, diante da folha de sulfite na Olivetti cúmplice. Agora, o assombro se dá frente à tela branca do computador. Sinal dos tempos.

Assim, mergulhada no silêncio da casa, medito. O que escrever? Penso nos astros que rondam o céu todas as noites; nos planetas em suas órbitas colossais e na cosmogenia de cada coisa criada. Penso na Terra e nas catástrofes naturais, nos vulcões que expulsam pessoas de suas casas, nas tragédias que enlutam nossos corações, irmanados na mesma dor e perplexidade.

Ah, que momento instigante este do branco diante do monitor. O que fazer quando se tem uma crônica ruminando dentro do peito? O que escrever esta semana, meu Deus? Dá uma mãozinha para uma desilustre escrevinhadora?

Assim como fazer um sacrifício: carregar o esquecimento por ofício.

Pronto, com meu poema pífio consigo mais um santo parágrafo, meus amigos. Não é brincadeira. E agora? Como prossigo nesta inefável missão do impossível? Paro tudo e vou dar uma volta lá fora? Faço um café? Ligo a tevê?

De repente, num canal qualquer, pego um pedaço de um programa, cujo tema é “Qual o segredo da felicidade?”. A apresentadora está com um guru americano ao lado e faz a pergunta para ele: “Existe um segredo para a felicidade?”. E o homem responde que sim.

O tal guru é um professor de cabala e um dos mais importantes líderes espirituais do momento. Ele explica que cabala significa “receber”. Algumas pessoas simplesmente bloqueiam o que têm a receber do universo. A cabala ajuda a retirar estas barreiras. Ah, se fosse fácil assim!…

Ó, felicidade!… Quantos à tua procura! Quantos atrás do teu rastro indefinido. Quem define felicidade? Para uns é encontrar o amor; para outros é viver sem dores físicas; para uma multidão é comprar um carro novo e desfilar pelas ruas da cidade, em estado de graça.

Na indefinição da agonia diária, caminhamos todos. Há os que não perdem nada e captam as coisas invisíveis à sua volta. Capto a dor do mundo. Detecto as trevas que nos rondam. Rezo para o alívio de tantos males. Não vejo outra forma de clamar aos céus.

Há pouco tempo, um terremoto de proporções médias aconteceu próximo de mim. Senti o chão tremer. Pera lá. Não consta que em Piracicaba se registrem destes sismos. Se houve um dia, foi coisa leve. Pois tremeu meu coração pequenino diante da luz ofuscante de um átimo. Como explicar? Assim…

A crônica avança. Eu recuo. Ai, as nossas redações no ginásio e no Curso Normal! Dava esse branco apavorante e não saía nada, lembra? Que desespero! O professor olhando no relógio, avisando que a prova já ia acabar e a folha ali, nos desafiando… Quanta gente encheu linguiça nessa hora!

Eu acredito em dias melhores, sempre. Sou otimista, uma pessoa animada e comunicativa. Ah, se eu tivesse uma coluna cem por cento! O que eu não faria ainda nessa vida? Inscrevia-me para ser artista no Cirque du Soleil.

Chega? Deu pra mim, cara. Me desculpa qualquer coisa. Não se começa frase com o pronome oblíquo, eu sei, mas peço licença poética. Soa melhor, no final deste fiasco. Pardon. Por hoje é só, mes amis. Touché!

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