BARRAGEM E ETECETERA

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imagesDesde jovem ouço falar da construção da barragem de Santa Maria. No entanto, até agora sobrevivemos muito bem sem ela. Será mesmo necessária? Aos políticos e empresários que insistem nesse projeto faraônico sugiro que primeiro usem o dinheiro na erradicação das favelas do Estado de São Paulo, oferecendo a todos os paulistas que queiram condições dignas de vida. O que sobrar apliquem na recuperação e reinserção social dos presos. Melhorem a Educação, a Saúde e a Mobilidade Humana, o Metrô, as ferrovias. Favoreçam e incentivem a agricultura familiar, o empreendedorismo, o turismo sustentável, o lazer para todos e a capacitação técnica dos jovens. Depois disso construam a barragem. Tenho certeza que teremos de verdade o Estado mais satisfeito e desenvolvido do Brasil.

PEDOFILIA

Como ninguém escolhe sua orientação sexual, penso o mesmo em relação ao pedófilo. Portanto, alguém precisa avisar ao vereador caça-pedófilo que pedofilia é crime, mas seu praticante é um doente que precisa de tratamento. Nesse sentido – já que o vereador é também pastor – como o ladrão na cruz, a prostituta, a samaritana de seis maridos esses seres humanos não seriam execrados por Jesus como são em nossa sociedade, que está nem aí com seu drama, tanto que jamais foram ouvidos com um pingo de humanidade. Por outro lado, embora não seja serviço seu, mesmo que tal vereador consiga colocá-los todos na cadeia como há tantos anos afirma, creio que muito pouco a sociedade vai melhorar visto que – embora seja a pedofilia um crime execrável – maiores males causam políticos que não honram seus mandatos.

CARANDIRU

Volta à cena a invasão feita pela Polícia Paulista ao Carandiru em 1992. Se a pena de morte fosse eficaz os presídios deveriam estar quase vazios, e os índices de criminalidade muito baixos a contar daquela data, pois nunca um Estado executou tantos “criminosos” como na ocasião. Autoridades inconsequentes e irresponsáveis usaram, como sempre, a cômoda e primária tática do combate à violência com mais violência. A partir dali surgiram as facções; os presos sentiram necessidade de se proteger da truculência do Estado e da chantagem de policiais. Mas, em vez de chamadas a contribuir na melhoria do sistema prisional, foram tratadas à bala. Deu no que deu: mais violência ainda. O Estado gera o criminoso, gradua-o e organiza as facções. Tudo com dinheiro nosso. Quem disse que nosso sistema prisional é ineficaz?

Sei que perigosos marginais estão presos. Porém – grosso modo – vejo o Judiciário enchendo as cadeias de nóias, pobres e perturbados mentais. Não pode estar nessa gente as causas da violência, pois são presas às centenas todos os dias e a criminalidade só aumenta. Para que serve um poder tão oneroso se não alcança os de fato fazedores do mal? Certamente entre aqueles 111 presos assassinados não havia nenhum político pilantra. Aliás, se somarmos os crimes de todos os presos será que atingiriam em quantidade e gravidade os cometidos pelo Estado através de sua polícia; de sua omissão na Saúde, sucateamento da Educação, desmoronamentos e enchentes, conluio com o poder econômico e desvio de recursos?

Pra encerrar, o assunto da hora é a redução da maioridade penal. Sobre isso deixo a opinião de Hélio Schwartsman, colunista da Folha de São Paulo (12.04.13): “Se quiséssemos (…) adotar uma regra informada pela ciência, teríamos, na verdade, de empurrar o limite para alem dos 20 anos, que é quando amadurece o córtex pré-frontal, área do cérebro responsável por tomar decisões complexas e controlar a impulsividade. Supondo que a maioridade baixe para 16, o que faremos quando um garoto de 15 matar alguém? Reduziremos o limite para 14, ou 10?”

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