Bendita música

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Não sei viver sem música. Melodias buscam abrigo em minha alma sem cessar. A alma desesperando-se. Digo: música linda, pare só um instante. Mas ela se recusa a obedecer. Atormenta-me com sua beleza sonora. Quero ser profundamente atormentada.

No aparelho de som, reinicio o CD para meditar e relaxar. Era um dos preferidos do meu lindo, já acamado e fraco, pedindo para ouvir música. Guardei todos os que ele amava. Ouço quando preciso de paz. As notas suaves penetram em cada canto da casa e pousam solenes nas lembranças.

A música e o canto me embalam desde menina. Penso que me saí bem quando fui aluna do professor Benedito Dutra, no Colégio Assunção, embora temesse as provas de solfejo. Depois, as aulas do professor Egildo Rizzi. Como esquecer a lousa com as cinco linhas amarelas do pentagrama?

Ainda me lembro do Hino do Colégio, que terminava com versos deste calibre: ”Desta casa também que é um templo / Onde a crença mantém-se de pé / Seguiremos com a força do exemplo / da justiça, do amor e da fé”. Procurei no Google a letra toda e não achei. Quem tiver me mande por e-mail. Muito grata.

Ah, o Orfeão da Escola Normal! Fui aluna do professor Rossini, na turma da segunda voz e muito assídua nas aulas. Não perdia por nada. Felicidade era cantar o Hino Nacional nas datas cívicas em solenidades da escola. Que orgulho pertencer ao Canto Orfeônico.

Sempre tive ritmo, boa voz, afinada, o que me levou a aprender violão, por volta dos meus 10 anos. Participei de um grupo de amigas que também tocavam e progredi muito com elas. Autodidata, fui estudando e descobrindo as sequências musicais, as posições e os acordes dos tons naturais.

A música encheu minha juventude de alegria e de sonho. Apresentei-me em festivais da cidade, cantei com orquestra, com banda, cantei com amigos cantores que também sonhavam em cantar como eu sonhei. Aprendi a compor minha própria harmonia para as músicas e até hoje tenho este abençoado dom. Sabia de cor o repertório dos Beatles, da turma da Jovem Guarda, dos ídolos da minha época. Um amigo músico elogiou meu arranjo para “I can´t take my eyes of you”.

Amo a música clássica e o canto gregoriano. Mas minha paixão são as guarânias em castelhano. Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Violeta Parra e tantos outros, o dedilhado nas cordas e a força das letras revolucionárias. “Yo tengo tantos hermanos / que no los puedo contar/ Y una hermana muy hermosa/ que se llama libertad”.

Desde sempre, a música embala a minha vida. Hoje, canto com os meus netos, ensino tanta coisa, tocamos xilofone, compro violinha, pandeiro, para marcar o ritmo das canções. Guilherme gosta desta: “Agora eu era o herói / e o meu cavalo só falava inglês”. Vitor não se cansa de cantar “A canoa virou / foi deixar ela virar…”.

A música nos ensina muito e traz o sonho a cada momento do dia. “Cantar, e cantar, e cantar / a beleza de ser um eterno aprendiz”. Contudo, vemos nos programas de calouros como é difícil cantar. Ninguém se atreva se não nasceu com esse dom supremo.

Deus Pai! Eu Vos agradeço pelo dom da música!

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