Cantiga de amor

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image008Qual salmista da era eletrônica, penso em cantar o amor. Preciso digitar o amor. É imperioso. Árdua tarefa essa que os Anjos me impuseram. Estou perdida.

Deus é Amor. É Ele o primeiro a ser lembrado. Não se pode escrever sobre o amor, sem citar o Amor em toda a Sua glória.

Começar por onde? Pelo pote de mel onde habita o amor. A bandeja de ouro, a Aurora tremeluzindo no rosicler da esperança. Que se acenda este segundo sol abrasador. Montem guarda, é preciso esperar pelo mais belo de tudo.

O amor faz com que as multidões se abracem e os sábios se reconciliem. O amor cura, abençoa, transborda. Preciso sarar deste derramamento despudorado, onde um rio caudaloso varre minhas cidades e pontes interiores, as fortificações que julguei para sempre inabaláveis. Foram as primeiras a cair.

Falo de um alumbramento fatal, de uma doença dos trópicos, em que o enfermo tem náuseas de mares e vomita flores; o estouro da boiada; um piano fechado e solitário; um vestido de renda; um quadro na parede; uma parábola bíblica onde o Rei diz que é senhor do sábado; uma xícara de chá; saudade do que não se viveu; banana, mamão e maçã; um perfume; pão fresco sobre a mesa e a paz eterna. Ó, quanto amor há em cada elemento!

Mas dirijo-me, acima de tudo, ao amor universal, ao amor por todas as coisas e criaturas – ao amor pelas feras do Serengeti, na África. Abraçar um gnu. Brincar com um guepardo. O reino messiânico do profeta Isaías, quando o leão comerá palha com o boi e a Terra estará cheia da ciência de Deus.

Ah, o amor da vida renovada. O amor de quem ficou de sentinela na plataforma da espera. Como são belos os pés do mensageiro. O amor dos eleitos para repovoar o planeta, a nova geração de sábios que tomarão decisões universais.

Refiro-me também ao amor entre homem e mulher. Aquele. Vós sabeis o qual. O que causa trepidação no solo. O que faz as almas pegarem fogo, as luzes emanando dos corpos no encontro mais belo. A natureza é sábia, senhores. Deus fez tudo perfeito. Por isso os olhos brilham e o coração sonha.

Ah, meu poema inacabado! O que faço aqui, na longa estrada da vida? Vou seguindo e não posso parar. A que horas chega o amor, por favor? Alguém disse que “o amor é sofrimento”.

Para todos, reina um amor absoluto: o amor da Cruz! “Amai-vos uns aos outros”, é tão antigo! Tem mais de dois mil anos. E os poetas tentam imitar a manhãs orvalhadas de romances, os dias salpicados de volúpias, as ruas varridas de suspiros, as casas feitas de nuvens, as paredes recheadas de beijos, as pessoas grávidas de amor.

Termino com os versos de quem soube como ninguém cantar o amor: “Eu tenho tanto pra lhe falar/ mas com palavras não sei dizer/ como é grande o meu amor por você…”.

Fecho a crônica semanal, calada e muda. Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver e a primeira estrela que vier. Sou menina-passarinha com vontade de voar. Você é isso. Uma beleza imensa. Toda a recompensa de um amor sem fim. Parto de ternura. Lágrima que é pura. Paz do meu amor.

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