Coisas da vida

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Foto: Reprodução Google

Estava conversando com Lolico, sobre Política, mais especificamente sobre Bolsonaro. Mal, é claro! Lembrei-me, então, de meus dezenove anos. Tempo muito bom! Mal pensávamos em Política. Mas havia uma obrigação cívica para quem completava dezenove anos. Seria cívica mesmo? Todo jovem, no ano em que completasse dezenove anos deveria “servir à Pátria!” Evidentemente, havia exceções. Em Piracicaba, onde já morava há seis anos, havia, e ainda há, o Tiro de Guerra, o TG 36! Que permitia, a privilegiados, cumprir sua obrigação sem precisar ir a outra cidade onde houvesse um quartel. Com isto, estudantes não perdiam um ano de estudos. Portanto não era, a rigor, um privilégio e, sim, um benefício.

No início de janeiro de 1956 cheguei à sede do TG 36, que ficava na Avenida São João, próximo da ESALQ, num local conhecido como “Isolamento”. Era um quarteirão (em Piracicaba, então, tinham área de 10.000 metros quadrados) cheio de árvores (seriam eucaliptos?) tendo ao centro um prédio velho que fora usado como isolamento para leprosos! Depois foi Escola, Tiro de guerra e hoje é um colégio. No pátio havia cerca de 200 jovens, de todas as classes. Não é bem verdade, pois muitos da classe alta “escapavam”.

O corpo de Instrutores era composto de três Sargentos: Iamaciro Pereira, Primeiro Sargento era Comandante da corporação. Segundos Sargentos Sibile e Quintão eram os outros Instrutores. Iamaciro chamou-nos, um a um para nos fichar. Na minha vez, sentei-me diante dele, que era mais posudo que Sylvester Stallone, porém sem seu físico! Era baixo, forte, de bigode e parrudo! Perguntou-me meu nome, profissão. Quando disse estudante, com certo orgulho, perguntou-me: Por que não trouxe um atestado médico, como tantos para ser dispensado? Disse que queria estar cumprindo um dever! Olhou-me, meio assustado e disse: muito bem, filho! Não gostei de me chamar de filho! Aí veio a pergunta que esperava: Religião! Nenhuma, respondi. Olhou-me mais assustado do que quando disse o meu dever! Continuei, sou ateu. Aí pensei que ia me expulsar! Enfurecido disse: “Quem não é Católico é Protestante!” Tentei retrucar, mas seu olhar me fez desistir! Assim, para Exército Brasileiro sou Protestante!

Assim iniciei o Tiro de Guerra. Excelente experiência! Além de grandes amigos e Celebridades como Wlamir Marques e Zé Carlos Hebling, craques da seleção brasileira de basquete e do XV de Piracicaba, um dos melhores times do Brasil, à época!

Sargento Iamaciro, sobrinho de Ditinha Penezzi, Vereadora e mãe de Marta que gerou o segundo nome de Bafafá, lembram-se? Dava-nos aulas de Educação Moral e Cívica e nos obrigava a tomar nota de tudo. No meio do blá, blá, blá, soltava frases, muitas vezes acacianas, entre aspas e assinalava: “Oricamai”. Inicialmente pensamos se tratar de algum pensador japonês, mal traduzido. Até que alguém mais esperto descobriu que Oricamai era, nada mais que Iamaciro de trás pra frente! A partir dali o respeito não foi mais o mesmo!

Coisas terríveis de hoje nos trazendo lembranças tão antigas! (Oriaj).

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