Coisas de Pira

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Li na imprensa que a permanência constante de três cadeirantes no cruzamento da Avenida Armando de Salles Oliveira com a rua XV de novembro tem causado transtorno ao trânsito, além do risco de atropelamento e de outros acidentes. Alguém da prefeitura disse nada poder fazer porque eles têm o direito de ir e vir. Para mim falta firmeza do poder público. Direitos individuais não estão acima dos coletivos. Ir e vir implica em ficar no meio de uma rua movimentada pedindo esmola e colocando vidas em risco? Na verdade, abusam do direito. E se todos os cadeirantes da cidade fizerem o mesmo?   Pior que eles é quem dá dinheiro. Acha que faz bonito, mas na verdade incentiva a malandragem porque mais alguém ganha com isso, e além do mais recebem benefícios – pagos por nós – justamente para não esmolar. Usam o dinheiro para beber como já estou cansado de ver. Esmola nunca tirou gente da miséria. Só afundou. Quem dá dinheiro para eles se desse pinga daria na mesma.

Li também que dirigentes do CRECI (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis) comemoraram o Dia do Corretor de Imóveis com encontro. Sugiro aos respeitados profissionais do CRECI que promovam debate público sobre imóveis vazios no Centro, que de alguma forma poderiam ser incluídos em programas habitacionais. Casas populares cada vez mais no fim do mundo interessam só a especuladores. “O argumento favorável é aumentar a população central, otimizando a infraestrutura instalada. Mas o coração de uma cidade não se regenera sem moradores de diferentes faixas de renda”. (Folha 15.01.13. Fernando Serapião, crítico de arquitetura).

Outra notícia foi sobre o tempo seco, que fez lotar as UPAs. Choveu, graças a Deus. Porém tempo seco indica falta de árvores.  Vejo ruas inteiras sem nenhuma. As que existem são podadas até o topo, porque o podador entende de árvores mais que elas. Casas não têm mais jardins. Parecem túmulos. As pessoas preferem flores de plástico. Faltam parques. Quantos a prefeitura criou nesses últimos anos?A cidade está longe da meta estipulada em programa estadual Município Verde Azul. Cobertura arbórea de uma cidade deve ser 20%. Piracicaba tem 11%, 300 mil árvores. Só doentes de espírito não gostam de árvores.

Vi que protesto dia 16 de agosto passado reuniu oito mil manifestantes em Piracicaba. Muito bom. Protestar é necessário. Nesse sentido, para quem vive trancado em condomínio com medo das ruas não deu outra. Guarda Municipal, Semuttran, PM – proteção total. Todo mundo limpinho, rosadinho, bem nutrido, nenhum pedinte. Em Piracicaba tem perto de 30 conselhos, cuja maioria capenga por falta de gente. O SEMAE está quebrado, o rio morre, nosso ar está envenenado, o mercado imobiliário deita e rola e nossos políticos são ruins. Parece que essa gente mora no Brasil (ou Miami),  não em Piracicaba. Políticos locais participaram da passeata. Quando Dilma aqui esteve, também estavam lá. Mas não abriram a boca. Oportunistas como sempre.

Pra acabar, li que Piracicaba conquistou o décimo título seguido dos Jogos Regionais em Santa Bárbara d’Oeste em julho passado. A cidade somou 412 pontos, o maior número de sua história. Parabéns aos atletas. Contudo, o que ganhamos com isso? Troféus que enferrujam? Não entendo como uma cidade some tantos títulos investindo tão pouco em desporto de base especialmente nos bairros da periferia, e tenha um time de futebol profissional tão capenga. O melhor troféu que uma cidade pode exibir é suas crianças, jovens e adolescentes praticando as mais diversas modalidades esportivas a fim de desenvolver potencialidades e virarem atletas, sim; mas antes cidadãos honrados, saudáveis no corpo e na mente; respeitosos, solidários e patriotas. É mais inteligente, justo e democrático. Fica mais barato que bancar alto rendimento para fins de competição ou pagar atletas de fora para projetar a cidade politicamente.

2 comentários

  1. Bruno de Aquino em 20/09/2015 às 11:24

    Alentador ainda termos vozes sensatas que se manifestem sobre os antagonismos presentes na situação atual em que encontra nossa terra, sobretudo em um momento em que todos parecem anestesiados. Formidável!

    • Antonio Carlos - Totó em 22/09/2015 às 14:29

      Grato, Bruno. É por demais gratificante ser lido por pessoas de senso crítico apurado e de fina sensibilidade.

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