Coisas de Pira III

O sol era de rachar. Dos dois lados da Avenida Rio das Pedras pessoas seguram emblemas de uma construtora. Encolhem-se atrás de postes em busca de sombra, já que árvore é coisa rara. Trata-se de divulgação de um grande empreendimento imobiliário. Mais um numa região já carente de serviços, escolas, unidades de saúde, áreas verdes, transporte público, sistema de lazer, etc. Outros estão por vir. A única via de acesso é a Rio das Pedras, avenida planejada por amadores a fim de beneficiar mais os empreendedores e seus negócios que a população. Quem projetou e fez aquela avenida entende nada de mobilidade urbana. Quando chove vira rio; acidentes graves acontecem sempre; pedestres arriscam a vida para atravessá-la e nem os acessos a novos loteamentos – que a prefeitura aprova aos montes – foram previstos. Tão recente e a via está cheia de gargalos e arranjos. Nos horários de pico agora é um inferno, imaginem depois. Mais pra frente dirão – como sempre – que faltou planejamento. Direi que o que faltou foi hombridade do poder público em frear a ganância do mercado imobiliário que está nem aí com a qualidade de vida das pessoas. Quer vender, quer lucro. “Cidade tem hoje 137 loteamentos irregulares”. (JP 15.08.15). Aqueles coitados azulados de sol segurando em pé as bandeiras da empresa das oito da manhã às 5 da tarde mostram bem isso. Sei que não estão ali na marra, mas ser humano merece mais respeito. Eu não compraria um apartamento dessa empresa. Até se ganhasse um sentiria peso na consciência por ser conivente com tanta coisa errada.

Falando em planejar, como previu o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas – outra pedra desceu na Pedreira do Bongue em setembro último atingindo um carro e ferindo duas pessoas. A terceira já. Li na imprensa que a prefeitura irá colocar pilares de contenção no local. Apelo ao prefeito Ferrato, que a meu ver vem fazendo uma boa gestão, a fazer um gesto histórico transformando a Pedreira do Bongue num parque ou a área de preservação permanente. O lugar é muito frágil para absorver trânsito intenso. Desative aquela avenida, que além de violar e matar a beleza do lugar, foi feita sem os devidos estudos. A natureza não tolera mais provocações e remendos. Colocar contenção é mais um remendo. Depois que mexeram seguro aquele lugar nunca mais vai ser. Como sempre, alguém vai ter que perder a vida para perceberem que com a natureza não se brinca?

Li também na imprensa que alunos invadiram Escolas Estaduais para protestar contra a “Reorganização” da Rede de Ensino, proposta imposta pelo governo Alckmin, que além de sucatear e superlotar escolas vai mexer com a vida de 3,9 mil alunos, isso só aqui em Piracicaba. Diz que vai melhorar o Ensino. Desde quando padronizar, uniformizar, enquadrar melhoram o Ensino? Sem generalizar, tucano trata o povo como gado. Ora, o que educa é o diferente, o contraditório, o conflito. Se fosse democrático e tivesse um pouco só de sensibilidade, o governo teria antes discutido a idéia com alunos, professores e pais. Poderia ser que até concordassem e nada disso estaria acontecendo. Depois falam que a família não se interessa pela escola dos filhos. Como, se para nada é consultada, de nada participa em nada opina? Uma coisa puxa outra. Sinto orgulho de vocês, jovens. Lutem por uma escola onde vocês sejam respeitados. Uma escola que tenha sua cara; que os faça pensantes, críticos, participantes e protagonistas. Vocês têm demonstrado mais maturidade que essa velharada com mentalidade pré-diluviana que sufoca o Ensino Público. O governo quer é enxugar recursos. Talvez prefira gastar com mais unidades da Fundação CASA. Vai curtir os netos enquanto é tempo, governador. A vida não é só política e poder. Bem ou mal, o senhor já fez por São Paulo o que sabia fazer. Ceda lugar para mentalidades mais abertas aos novos tempos que estão chegando. Parte inferior do formulário