Como e para onde caminha o Mercado de Trabalho?
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“A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário.”
Início essa breve conversa com a frase do saudoso sociólogo Betinho, que faleceu em 1997, mas que há anos já demonstrava preocupação com o desemprego gerado pela ascensão tecnológica.
O que essa frase tem a ver com a transformação do mercado de trabalho? Tudo. Sabemos que um dos principais motivos de desemprego se configura a partir da automação, que resume em poucas máquinas as dezenas, centenas, milhares de empregos.
Resgatando a linha cronológica do mercado de trabalho ou dos meios de subsistência da humanidade, encontramos a primeira forma na Agricultura e Pecuária. Na sequência, a primeira grande transformação do mercado através da revolução Industrial. Posteriormente a tecnológica, seguida finalmente pela cibernética. Evolução pós evolução, vimos a indústria ganhar velocidade e competitividade. Nunca o conceito de fazer mais com menos foi tão verdadeiro como na atualidade.
O desemprego nos dias de hoje no Brasil está na casa de 11%, com algumas exceções em 2 ou 3 estados. A crise mundial de 2008 e a crise econômica e política dos últimos anos também são exponencialmente responsáveis por parte desses índices, que em 2013 andavam pela casa dos 3%, praticamente, do pleno emprego.
Observamos uma realidade de migração de profissões entre setores e uma preocupação constante, por parte de todos os seguimentos da sociedade civil, que vê nessas mudanças risco para a estabilidade econômica e crescimento da vulnerabilidade social e financeira das famílias brasileiras.
Um dos maiores desafios para o trabalhador, principalmente para aquele que perdeu emprego, é entender e decifrar esses tempos exponenciais que vivemos, pois tal cenário é pautado por essas transformações velozes e complexas que assustam e dificultam qualquer tomada de decisão ou mudança de rumos e planos. Para termos uma ideia do que isso representa, dos 10 empregos de maior destaque nos últimos anos, a maioria sequer existia num período de três anos.
Para as instituições educacionais, principalmente as de formação profissional, o desafio é ainda maior, pois provavelmente estamos, hoje, educando e preparando alunos para empregos que nem existirão no futuro, afim de utilizarem tecnologias que ainda nem foram inventadas, com a finalidade de resolverem problemas que nem conhecemos.
As profissões vão deixando de existir gradativamente e não necessariamente esse movimento deve gerar o caos do desemprego. Afinal, o que estamos presenciando, trata-se, na maioria dos casos, de trabalho de risco ou insalubre, que vem sendo substituído por máquinas, as quais, além de não estarem sujeitas a riscos, ainda conseguem garantir maior produtividade e competitividade. Quem nunca ouviu falar do apagão de mão-de-obra que afetaria os trabalhadores que perderiam o emprego no setor sucro-alcooleiro, pois seriam substituídos pelas colheitadeiras? Pergunto ainda: onde estão hoje esses trabalhadores?
A resposta para essa equação traduz-se no maior desafio da sociedade como todo, frente a essa evolução tecnológica. É preciso preparar, qualificar e, principalmente, conscientizar os trabalhadores, para que estejam atentos e sensíveis à essas transformações, antecipando-se ao efeito desemprego, antes mesmo que ele aconteça.
Os novos tempos serão dos empreendedores, que identificarão e atenderão demandas de serviços ainda nem existentes, possivelmente as que agreguem facilidades a partir do uso das novas tecnologias. As vagas geradas com a implantação de novas indústrias, que até ontem representariam milhares de empregos, dificilmente repetirão este efeito no mundo moderno e automatizado das linhas de produção.
A realidade da empregabilidade há anos já é maior nos setores de comércio e serviços e os números de microempresas abertas são cada vez mais expressivos, ano a ano.
Olhemos então para este novo cenário do mercado de trabalho, com esperança de que existirão ocupações dignas e abundantes, com a oferta de políticas públicas que auxiliem a cadeia produtiva e a competitividade.
Reduzir a desigualdade social e melhorar o acesso a serviços primordiais de qualidade, como educação e saúde, fazem parte da conquista deste novo desafio e do desenvolvimento de qualquer país. Abracemos juntos então, este novo momento e compromisso.
*João Carlos Goia é gerente do Senac Piracicaba, jornalista pós-graduado em mídias e mestre em educação.