Compaixão e felicidade

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(imagem de James Chan, por Pixabay)

A qualidade de nossa existência, de acordo com Mathieu Ricard, é muito dependente da qualidade de nossas relações com as pessoas. Mais que isso, a nossa vida depende da compreensão de que tudo o que temos e somos necessariamente é consequência da ação de outras pessoas.

No entanto, infelizmente, estamos vivendo num mundo onde o egoísmo cresce de forma preocupante com pessoas buscando ser cada vez mais auto suficientes, independentes e livres ao ponto de se esquecerem da importância do outro, de se tornarem insensíveis às necessidades do próximo.

Muitas vezes, esse individualismo exacerbado é fruto de egos super inflados, desconectados da realidade e com intuições erradas sobre felicidade. As pessoas individualistas tendem a ver o mundo dentro de suas necessidades e prioridades.

Atualmente, conceitos de felicidade estão muitas vezes associados ao desejo pessoal e, erroneamente, as pessoas acreditam e buscam atender todos os seus desejos e prazeres na justificativa de estarem em busca de sua felicidade.

Dentro desse contexto, Yuval Harari comenta que, até o momento, os estudos têm dificuldade de definir e medir objetivamente a felicidade, enquanto conseguem claramente mensurar e definir o prazer. Em função disso, nossa felicidade acaba sendo confundida com questões quantificáveis e sendo buscada incansavelmente em coisas materiais, as quais garantam posições e aparências que, na verdade, são efêmeras.

Não por acaso, Christophe André entende que o aprisionamento ao ego é a primeira fonte de envenenamento e perturbação da mente. De acordo com o autor, a chave do equilíbrio do ego está justamente na compaixão, generosidade e bondade. Aliás, para Christophe André e, para muitos outros, a felicidade também está diretamente relacionada a esses fatores.

Se olharmos a definição de compaixão veremos que ela está relacionada à compreensão e aceitação do estado emocional da outra pessoa. Está ligada também ao entendimento e à necessidade de diminuir o sofrimento de alguém.

Assim sendo, nossa estabilidade emocional e, muito possivelmente, nossa felicidade está justamente na percepção dos outros, no acerto da nossa lente da vida. Precisamos diminuir um pouco o foco em nós mesmos (meus problemas, meu passado, minhas expectativas para o futuro, meus desejos e necessidades…) e aumentar nosso foco para o outro.

A partir do momento que meu foco muda, a compreensão de mundo também se amplia uma vez que nossos pontos de referência mudam. Automaticamente, ter compaixão pelos outros faz com que tenhamos também mais compaixão e serenidade com nós mesmos, à medida que passamos a entender que existem problemas maiores que os nossos, prioridades mais urgentes que a nossa e perspectivas diferentes das nossas.

Acho até interessante comentar que em estudos voltados para os chakras, a compaixão está ligada ao chakra cardíaco que, não coincidentemente, está associado à glândula do timo. Essa pequena glândula, de acordo com alguns autores, entre eles Carmen Fausto e Mary Meadow, é responsável pela produção e maturação dos nossos primordiais protetores, os linfócitos T (que ocorre através da timosina), sendo assim, fundamental para a resposta imunitária do organismo.

Vários estudos têm mostrado que a compaixão, além de melhorar nossa percepção diante da vida, aumentar nosso discernimento em relação às reais necessidades, pode ajudar a melhorar nosso sistema imunológico.

Finalizo o texto de hoje com uma frase de Dalai Lama “Os maiores obstáculos à paz interior são as emoções perturbadoras como a raiva, o apego, o medo e a desconfiança, enquanto o amor e a compaixão são as fontes de paz e felicidade”. Até a próxima, Namastê!!!

*Alessandra Cerri é sócia-diretora do Centro de Longevidade e Atualização de Piracicaba (Clap); mestre em Educação Física, pós-graduada em Neurociência e pós-graduada em Psicossomática.

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