Conceitos

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“Fazemos nossa vida boa ou má de acordo com o nosso modo de pensar, sentir e agir”. (Frei Anselmo Fracasso). Quem usa óculos escuros vê o mundo escuro. Aquele que não limpa a própria vidraça acha que o lençol no varal da vizinha está sempre encardido. “As nossas ações acabam sempre parecidas com nossos pensamentos, e são estes que convém governar em primeiro lugar”. (P. Bourget). Mas, para governar nossos pensamentos precisamos conhecer sua origem. Grande parte dos conceitos e crenças que carregamos vem da criação que tivemos, da educação que recebemos, do meio onde estamos inseridos e da cultura que herdamos.

Quando tinha circo perto de casa era festa, mesmo raramente entrando pela frente porque dinheiro na mão só catando ferro-velho. Do lado de fora observava o elefante preso numa pequena estaca precariamente enfiada no chão. Não entendia porque não fugia. Virava de cá, virava de lá e nada de puxar a corrente para remover a estaca, coisa que poderia fazer num piscar de olhos. A gente gritava, atirava coisas para assustá-lo e nada. “Elefante burro!”, dizíamos. “Preguiçoso”.

Aprendi depois que o elefante foi condicionado desde filhote, quando a estaca fora então fortemente fincada.  Por dias seguidos deve ter tentado se livrar. Após muitas tentativas desistiu, se conformou; aceitou a situação e não mais tentou, mesmo porque jamais perceberia que seu tempo de infância se foi sendo agora adulto e forte.

Assim somos muitos de nós. O tempo passa a vida muda e continuamos com os mesmos conceitos que na infância nos colocaram na mente. Muitos chegam a perder amizades quando vêem suas crenças questionadas, afinal sobre elas pautaram a própria existência. Por causa delas abriram mão de oportunidades únicas; deixaram de arriscar e de ousar.

Não me refiro a valores simplesmente; ao certo ou errado, moral ou imoral.  Falo de crenças que moldam comportamentos e perpetuam formas de pensar que não se sustentam. Os conceitos que recebemos principalmente na infância sobre mundo, amor, ódio, dinheiro, trabalho, sexo, religião, política, etc. devem ser constantemente postos em xeque. A idéia que defendemos sobre casamento, citando apenas uma, pode estar carregada de estereótipos e miragens. Então o conflito será inevitável porque queremos que a realidade coincida com a ficção. A noção de Deus, por exemplo, é a mesma de nossos pais ou agregamos a ela experiência pessoal? Absurdos contra mulher, negro, homoafetivo, idoso, etc. baseiam-se em preconceitos baseados em crendices.

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo” cantava Raul. Pessoa em busca da maturidade vive processo contínuo de aprendizado. É capaz de discordar sem ofender, separar sentimentos de idéias. Por isso, não teme o debate e não foge do confronto porque não tem receio de mudar de idéia se preciso for. Não despreza oportunidades para aprender, nem mesmo com crianças, jovens, idosos, sabidos, analfabetos, marginalizados, bandidos ou santos e especialmente críticos e desafetos.

“A existência de pessoas do contra são nossa melhor esperança. (…) Quando precisar juntar colaboradores, mais vale reunir grupos heterogêneos, com um número razoável de pessoas “do contra”. Elas reduzem os riscos das patologias da conformidade. Em vez dos elogios, prefira a críticas. Apesar de desgastantes, são elas que vão ajudá-lo a melhorar suas idéias. E, mais importante, não acredite em fórmulas prontas”. (Hélio Schwartsman, jornalista Folha 04.03.12). De fato, se pensarmos sem que nossas idéias sejam questionadas, são grandes as chances de nos afundarmos em nossas próprias ilusões. (Idem Folha 10.02.13).

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