Conquista

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conquista

Gosto de ver na TV programas sobre a vida dos animais. Aprendo muito. Difícil entender a guerra que há milhares de anos os humanos vêm fazendo contra eles. Aliás, quanto mais infeliz o bicho humano, mais ele maltrata os animais.  A harmonia e a paz que vem da natureza o incomodam desde quando foi expulso do paraíso.

E o extermínio prossegue. Se não os matam através de armas, encurtam-lhes os meios de subsistência. Só os humanos precisam comer. Comemos tanto que a obesidade chegou às crianças. O agronegócio engole florestas e cerrados, aldeias e animais para saciar a voragem humana e encher bolsos de fazendeiros. Através da irrigação artificial produzem o ano todo, mesmo à custa da inanição de recursos hídricos e da ruptura da cadeia alimentar que a natureza levou milhares de anos para organizar. Notícias da imprensa confirmam o que falo: “Centros urbanos são invadidos por onças. Segundo especialistas, expansão urbana e supressão da mata nativa são um dos motivos para o fenômeno no país. Canaviais viram moradia para felinos”. (Folha 01.06.14). “Raposa é encontrada em quintal e resgatada pela SSPA. Segundo moradora, filhote tentou entrar em casa, foi atacada por cão”. (JP 05.09.14). “As abelhas estão sumindo, e isso é ruim para a produção de comida”. (Folha 13.07.15. “Onça-pintada corre risco de extinção na Mata Atlântica”. (JP 28.01.14).

Como vou ao Parque da Rua do Porto três vezes por semana para remar, vi há alguns meses uma pata com cinco patinhos. Ela rodava o lago inteiro exibindo com orgulho sua prole amarela enquanto lhe ensinava as artimanhas da sobrevivência.  Hoje, os cinco estão grandes e se viram sozinhos. Ela deu conta do recado. Nenhum ela perdeu.

Perto de minha casa tem uma creche e vejo todos os dias – seja frio ou chuva – mães deixando seus bebês ainda dormentes para terceiros cuidarem, a maioria porque precisa trabalhar. Diariamente essas famílias se dissolvem. À noite ajuntam os cacos. Esses pais não verão seus filhos crescerem. Acabarão como estranhos dentro da própria casa. Se nem os animais se comportam dessa maneira, fico a pensar que tipo de cidadão será o resultado final.

Vejo a batalha diária que os bichos precisam travar para conseguir comida. Nada lhes cai do céu. Interessante, também, é o ritual de conquista entre eles. Não tem essa de macho chegar e levar. Ele tem que provar que é o melhor.  Por isso, disputam a fêmea. Algumas vezes é briga de sangue. Assim é com a maioria deles. Somente o mais forte conseguirá levar adiante a espécie.

Fiquei encantado com uma reportagem dias atrás. Um grupo de passarinhos azuis ensaiava cortejar a dama. Sempre dançando no galho, o último sobrevoava até o primeiro lugar e assim iam se revezando. De repente, surge a noiva. Aí o espetáculo fica ao vivo e à cores. Ela, altiva e senhora do ato, se ajeita no galho. Começa o show. O último passarinho da fila sobrevoa os demais, faz malabarismos diante dela e ocupa o primeiro espaço. O segundo faz o mesmo, e assim por diante até todos se apresentarem. Claro que alguns se esnobavam mais. Só que, neste caso, para a tristeza dos mancebos e apesar da bela coreografia e do desempenho invejável de cada um, a mademoiselle não aceitou nenhum. Sumiu mata adentro e a galera ficou chupando o dedo, ou melhor, as asas.

Já entre os humanos, o desafio da conquista parece meio fora de moda. Não raro, no primeiro contato já vão para os finalmentes. Mulherada – longe de generalizar – por ser o sexo forte faz o que quer da molecada, que foge com medo de não dar conta. Algumas, querendo fazer do corpo chamariz, mais agridem que atraem. Jamais vão descobrir do que é capaz um coração masculino sinceramente apaixonado.

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