Construção do tempo

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processos-de-construção-civil-650×340A moda agora é desconstruir. Desestruturar. Dessacralizar. Ou desfazer o feito há séculos, para protestar e reverter a ordem natural das coisas. Se existe uma lei no universo, e creio que sim, ela será decisiva para não permitir os excessos inconsequentes da turbulência geral. Os iconoclastas bem que tentaram.

Mas se a ordem é a desconstrução, trago uma proposta nada inovadora, apenas um pouco fora de moda, pelo tanto de novidades que o mundo apresenta a cada dia. Cá estou eu, remoendo minhas pobres linhas deste texto anacrônico. Quero construir algo, num momento em que se desconstrói.

Construir alguma coisa que nos lembre a poesia, a beleza presente em toda parte, o contrapeso que equilibra a nossa existência apesar de tudo, apesar das lutas e da morte certa. Busco novas figuras de linguagem e neologismos criativos na palavra de sempre, para exaltar a metáfora da vida.

Olha a cronista em apuros. Deseja tocar o coração do leitor com seu texto pequenino. Oh, não, terá de ser grandioso. E não sabe mais escrever a grandiosidade, porque se distanciou dela há muito tempo. Apenas consegue praticar o manejo simples do habitual e das ideias repletas de boas intenções. Com alguns verbos modestos, ousa construir o tempo.

Tempo de amar. Nada poderá desconstruir esta dádiva amorosa, por mais que se invista contra ela. Tempo de perdoar. Construir este delicado edifício de força moral não é fácil. Tempo de ouvir. Quem guarda este dom ainda hoje? Tempo de brincar com as crianças. Quero muito desenhar a baleia, a coruja, o macaco, o caminhão de pneu alto, o caracol e as avezinhas, ensinar cantigas de roda que não se cantam mais.

A construção do tempo demanda paciência. Obra permanente, inacabável, diária.  Tijolo por tijolo num desenho mágico, mas não se conclui, logo mais haverá outro muro, outro cômodo a ser projetado, e assim sucessivamente, numa lógica sequência de paredes que se levantam para abrigar o pensamento, a inteligência, a coragem, e os ideais plenos de bondade.

Não nos faltem, ó Deus, o sonho, a ilusão, a fantasia tão importante e tão bela. Não nos seja negada a graça da saúde e da paz! O corpo ágil, a mente lúcida, o sol na alma. A graça bendita da nossa casa amada, o aconchego do nosso cantinho sagrado. A sensação de que viver vale a pena.

Quero construir com minhas mãos mais um Advento, a chegada da Luz que é Cristo. Não há tempo mais belo e, no entanto, o mais angustiante de todos para mim. Não me pergunte por quê. Sempre foi assim. Natal e festas de fim de ano me causam um sentimento indefinido, misto de tristeza e ansiedade. Tempo de reflexão…

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